Globalização: o que é, como surgiu, fases, resumo

Globalização é o nome dado ao fenômeno de integração do espaço mundial mediante os avanços técnicos nos setores da comunicação e dos transportes. Esse processo se intensificou com o advento da Terceira Revolução Industrial, em que se observou um aumento nos fluxos internacionais de capitais, mercadorias, pessoas e informações.

Esse processo é marcado pela proliferação das empresas transnacionais e pela consolidação do capitalismo financeiro, promovendo profundas transformações no sistema econômico internacional e na organização do trabalho. Na sua atual fase, foram criadas novas redes geográficas, e houve uma expansão sem precedentes das escalas de propagação de informações e também do consumo. Apesar disso, a globalização não se expandiu de maneira homogênea pelos territórios, colocando uma parte da população mundial à margem desse processo.

Confira nosso podcast: Globalização e seus efeitos

Tópicos deste artigo

Resumo sobre globalização

  • Globalização é o fenômeno de integração econômica, social e cultural do espaço geográfico em escala mundial.

  • É caracterizada pela intensificação dos fluxos de capitais, mercadorias, pessoas e informações, proporcionada pelo avanço técnico na comunicação e nos transportes.

  • A fase recente da globalização marca a consolidação do capitalismo financeiro enquanto nova fase do sistema capitalista.

  • As empresas transnacionais e o mercado são dois dos principais agentes nesse novo cenário.

  • O termo globalização surgiu durante a década de 1980, mas o fenômeno teve início muito antes, no período das Grandes Navegações dos séculos XV e XVI.

  • Identificam-se ao menos quatro fases da globalização.

  • A globalização divide-se em econômica e cultural.

  • A propagação de informações de maneira rápida e o maior contato com diferentes povos e culturas são vantagens da globalização.

  • A padronização do consumo e o aprofundamento das desigualdades socioespaciais são algumas de suas desvantagens.

  • Seus efeitos se tornaram mais intensos no Brasil a partir da década de 1990.

Videoaula sobre globalização

Não pare agora… Tem mais depois da publicidade 😉

O que é globalização?

Globalização é o nome atribuído ao fenômeno de integração do espaço mundial por meio das tecnologias da informação e da comunicação e também dos meios de transporte, que se modernizaram rapidamente e proporcionaram, além de maior dinamização dos territórios, aceleração e intensificação dos fluxos de capitais, mercadorias, informações e pessoas em todo o planeta. Esse processo é conhecido também como mundialização.

Características da globalização

A globalização é por vezes entendida como um processo que, de maneira metafórica, suprimiu as barreiras entre os territórios e criou um espaço global unificado, o que significa dizer que os fluxos acontecem agora em uma escala internacional.

Embora o fenômeno da globalização tenha se iniciado há mais tempo, a sua aceleração está diretamente associada ao advento do meio técnico-científico-informacional, que é marcado pela modernização das tecnologias da informação e da comunicação já existentes e surgimento de novas, bem como pela maior relação com a ciência, criando assim condições para, dentre outros fatores, maior difusão do capital e das empresas pelo espaço mundial. Essa é uma das principais características da atual fase da globalização.

 A financeirização da economia é um dos aspectos da globalização.

Outros aspectos importantes que caracterizam a globalização são:

  • avanço do capitalismo monopolista (ou financeiro) e maior protagonismo do mercado no cenário internacional;

  • internacionalização da produção, caracterizada pela desarticulação vertical das empresas e consequente dispersão das etapas das cadeias produtivas por diversos países e cidades, que são selecionados de acordo com as vantagens locacionais que oferecem;

  • surgimento e ampla atuação das empresas transnacionais por todo o globo, incluindo países até então com baixo nível de industrialização;

  • aumento dos fluxos de mercadorias e de capital (dinheiro) pelo mundo;

  • padronização técnica da produção e também do consumo, o que é fruto do papel dominante das empresas transnacionais;

  • intensificação do uso da tecnologia nos processos produtivos, tanto na indústria quanto no campo. No meio rural, o processo de modernização ficou conhecido como Revolução Verde;

  • advento de novos blocos econômicos e maior atuação das organizações internacionais;

  • ampliação do fluxo de informações e difusão de maneira ágil e em tempo real em quase todos os locais do planeta;

  • modernização das telecomunicações e surgimento de novos meios, como a internet;

  • maior circulação de pessoas em escala global, com o crescimento das migrações internacionais e das atividades turísticas;

  • criação de novos vínculos territoriais e adensamento das redes geográficas.

Importante: A globalização, a despeito de seu nome, não abrange de forma homogênea todos os países e lugares do planeta Terra, difundindo-se de forma desigual pelos territórios.

Tipos de globalização

A expansão do capitalismo moderno pelo mundo deu início à globalização, mas esse fenômeno não ficou restrito somente a essa esfera. Como foi mencionado, o aperfeiçoamento técnico da comunicação e dos transportes propiciou novos vínculos territoriais, permitindo-nos distinguir, para fins metodológicos, ao menos dois diferentes tipos de globalização.

→ Globalização econômica

A globalização econômica refere-se ao processo de internacionalização da economia, que é marcado pela consolidação do capitalismo monopolista (ou financeiro) como novo modelo de acumulação, com grande importância do mercado no âmbito da tomada de decisões.

A globalização econômica é caracterizada pela massiva presença das empresas transnacionais pelo globo, pela padronização da produção e sobretudo pela fragmentação das cadeias produtivas, derivada da modernização tecnológica das comunicações.

Está inserida também no escopo da globalização econômica a reestruturação produtiva dos territórios em escala global, que tem como resultado a instalação de uma nova divisão internacional do trabalho (DIT).

→ Globalização cultural

A globalização cultural, chamada também de globalização social, corresponde à difusão de elementos culturais em escala planetária, da mesma forma como pode ser relacionada ao aumento da circulação de pessoas pelo espaço mundial e nas trocas socioculturais e relações que são estabelecidas nesses deslocamentos. Está intimamente ligada aos meios de comunicação e ao desenvolvimento de novas tecnologias, como a internet, que ampliam a escala das conexões e da difusão de informações.

Origem e história da globalização

A origem da globalização é um tema bastante debatido entre pesquisadores do assunto. Existem aqueles que determinam como marco inicial desse processo o advento do sistema de acumulação capitalista no mundo, enquanto uma das teses mais aceitas é a de que a globalização se iniciou com as Grandes Navegações dos séculos XV e XVI.

As Grandes Navegações representaram um momento de consolidação do comércio internacional e expansão dos domínios territoriais dos países europeus à época considerados centrais, que estavam em busca de novas áreas fornecedoras de matéria-prima e mão de obra. Esse período foi marcado pelo estabelecimento de novas rotas comerciais no espaço mundial e intensa circulação de mercadorias e pessoas entre países de diferentes continentes. As descobertas cartográficas e o desenvolvimento de novas técnicas de navegação estão nas origens desse acontecimento.

Gradativamente, as transformações no sistema econômico internacional e o aperfeiçoamento das comunicações e dos transportes viabilizaram a evolução desse processo, o qual pode ser compreendido por meio da sua divisão em diferentes fases.

Fases da globalização

Até chegar ao estágio atual, a globalização se desenvolveu em quatro diferentes fases. Veremos cada uma delas a seguir.


  • Primeira fase da globalização

Corresponde ao período das Grandes Navegações, com o início do processo de integração do espaço econômico internacional. Faz parte também dessa fase a Primeira Revolução Industrial, que data do século XVIII. Além dos avanços tecnológicos no setor produtivo e dos transportes e da ampliação da escala de produção, ela consolidou o capitalismo enquanto sistema econômico internacional. Outro aspecto importante que se destacou na Primeira Revolução Industrial foi a invenção do telégrafo, que revolucionou a forma de comunicação no período


  • Segunda fase da globalização

Compreende o período que vai da segunda metade do século XIX até o final da Segunda Guerra Mundial. Durante essa fase, os países europeus expandiram seus domínios coloniais para o continente africano e para o continente asiático motivados também pela busca por matérias-primas mais baratas. Ocorreu um substancial avanço dos meios de comunicação e de transportes, assim como dos processos de urbanização e industrialização.

Abrange o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, e estende-se até o encerramento da Guerra Fria e a queda do Muro de Berlim, que data de 1989. Um dos principais acontecimentos dessa fase, que deu respaldo para a atual fase da globalização, foi a Terceira Revolução Industrial, responsável pelas inovações tecnológicas e científicas que surgiram a partir da década de 1970 e que são características do meio técnico-científico-informacional. Foi durante essa fase também que se consolidou o capitalismo financeiro e cresceu a presença de empresas transnacionais pelo mundo, dois dos principais signos da globalização contemporânea.


  • Quarta fase da globalização

A atual fase da globalização é caracterizada pelos maiores fluxos de mercadorias, capitais e serviços pelo mundo.

Teve início a partir da década de 1990 e corresponde ao atual estágio da globalização. É marcada pela consolidação do processo de industrialização em países emergentes, com destaque para a região do Sudeste Asiático, e também da nova divisão internacional do trabalho. Os ideais neoliberalistas avançaram para os países emergentes e subdesenvolvidos, especialmente na América Latina. Novas redes geográficas surgiram nesse período, facilitadas pelo desenvolvimento de novas tecnologias da informação das quais se destacam a internet e as redes sociais.

Interessante: O termo globalização foi cunhado e passou a ser amplamente utilizado durante a sua terceira fase, mais especificamente a partir da década de 1980.

Vantagens e desvantagens da globalização

→ Vantagens da globalização

A propagação das informações e do conhecimento atingiu, no atual período técnico, uma escala sem precedentes na história, o que pode ser considerado um dos aspectos positivos da globalização. Com a ideia de superação das barreiras físicas alcançada pelos novos meios de comunicação e de transporte, é possível ter conhecimento em tempo real do que acontece em outros territórios localizados a centenas de milhares de quilômetros, bem como estabelecer canais de contato com pessoas em todos os lugares do mundo.

O contato com novas tradições culturais foi ampliado, o que foi facilitado também pela difusão de elementos por meio de músicas, filmes, séries, livros e outras produções audiovisuais de várias regiões distintas do globo.

As próprias inovações no campo das ciências e da tecnologia podem ser apontadas como vantagens do processo de globalização, assim como a circulação de mercadorias com a ampliação do alcance dos mercados internacionais, o que significa maior variedade de produtos aos consumidores finais. Ainda no campo econômico, a intensificação dos fluxos de capital na forma de investimentos estrangeiros auxiliaram o processo de industrialização de determinados países.

→ Desvantagens da globalização

Apesar dos pontos positivos, a globalização apresenta também uma série de aspectos negativos, o que levou autores como Milton Santos a falarem em uma faceta perversa da globalização.|1|

Um dos seus pontos negativos é a padronização do consumo, resultante da dispersão das transnacionais por todas ou quase todas as áreas do planeta, bem como da formação de grandes conglomerados (oligopólios) que acabam por se tornar dominantes na produção de um bem (alimento, produto de beleza, aparelho eletrônico, carro) ou na prestação de serviços (bancários, comunicações etc.).

Nota-se ainda que a globalização não é um processo homogêneo e não incorpora todos os territórios da mesma forma e intensidade em suas mais diferentes dimensões — econômica, cultural ou informacional. Nesse sentido, há um reforço das desigualdades socieconômicas e o aprofundamento de problemas como a concentração de renda, a pobreza e o desemprego, por exemplo.

Além disso, culturas já antes em uma posição hegemônica, que são aquelas dos países desenvolvidos, obtêm maior alcance, o que conduz a um processo de homogeneização cultural e menor protagonismo de costumes e tradições locais.

Leia também: Movimentos antiglobalização — a atuação popular contra os problemas gerados pela globalização

Efeitos da globalização

Da mesma maneira como o processo de globalização atingiu todas as dimensões que compõem a sociedade, os seus efeitos repercutiram de forma abrangente nas mais distintas escalas territoriais e esferas socioeconômicas. Listamos abaixo quais foram as principais consequências do fenômeno da globalização:

  • difusão das empresas transnacionais pelo espaço global;

  • reconfiguração da divisão internacional do trabalho, caracterizada agora pela presença de países desenvolvidos ou países centrais e também de países emergentes e subdesenvolvidos, que constituem a periferia econômica;

  • surgimento de novos organismos internacionais, principalmente após o fim da Segunda Guerra Mundial, e de blocos econômicos que atuam na regulamentação política e econômica em escala internacional e na intermediação de conflitos. São exemplos dessas uniões o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Mercosul e muitas outras;

  • ampliação da competitividade entre lugares e também entre empresas;

  • transformações no papel do Estado diante da maior atuação do mercado;

  • intensificação dos fluxos de investimentos estrangeiros entre empresas e territórios;

  • maior integração entre os lugares e criação de novas redes geográficas.

Globalização e meio ambiente

A nova escala de consumo, produto dos feitos da globalização, gerou impactos negativos ao meio ambiente, como é o caso do acúmulo de lixo nos oceanos.

O processo de globalização resultou em impactos diretos ao meio ambiente. Embora tenha havido um grande desenvolvimento dos transportes nesse período, o uso indiscriminado de combustíveis fósseis ainda é realizado para a geração de energia nos motores à combustão, lançando volumes expressivos de gases poluentes na atmosfera. Mais recentemente, veículos elétricos têm sido desenvolvidos como uma alternativa, mas o seu uso ainda é bastante restrito e de elevado custo.

A escala de produção e a crescente demanda por produtos dos mais variados tipos intensificou a busca por recursos naturais e matérias-primas, sem contar, é claro, com o aumento na produção de alimentos e commodities agrícolas que são responsáveis pela abertura de novas áreas de cultivo e pastagem. Como consequência desses processos, podemos citar: desmatamento, poluição de mananciais, escassez de recursos, contaminação do solo e muitos outros efeitos negativos para o ecossistema.

Além disso, o aumento da produtividade e do consumo gerou ampliação da produção de lixo em escala global na mesma proporção, o que gera uma série de problemas para os ambientes, tanto terrestres quanto marítimos, como é o caso das toneladas de plástico que são descartadas anualmente nos oceanos.

Globalização no Brasil

Os efeitos da globalização foram sentidos no Brasil de maneira mais intensa a partir da segunda metade do século XX, quando se registrou um maior ingresso de empresas multinacionais no território brasileiro. Esse período foi marcado ainda pela modernização do campo, com a absorção dos signos produzidos no âmbito da Revolução Verde e com o crescimento dos grandes centros urbanos, decorrentes tanto da mecanização do trabalho rural quanto da industrialização, que se intensificou.

A década de 1990 marcou a internacionalização da produção agrícola brasileira, o grande ingresso de produtos estrangeiros no território e a adoção das medidas neoliberais conforme as proposições do Consenso de Washington, com maior abertura da economia nacional aos investimentos estrangeiros e um amplo processo de privatização de empresas até então de administração estatal.

Dessa forma, podemos dizer que a integração do Brasil ao espaço econômico mundial aconteceu de maneira mais robusta a partir do final do século XX. Internamente, entretanto, a globalização produziu e reforçou uma série de contradições socioespaciais e econômicas no território brasileiro.

Exercícios resolvidos sobre globalização

Questão 1

(Enem 2015) Um carro esportivo é financiado pelo Japão, projetado na Itália e montado em Indiana, México e França, usando os mais avançados componentes eletrônicos, que foram inventados em Nova Jérsei e fabricados na Coreia. A campanha publicitária é desenvolvida na Inglaterra, filmada no Canadá, a edição e as cópias, feitas em Nova York para serem veiculadas no mundo todo. Teias globais disfarçam-se com o uniforme nacional que lhes for mais conveniente.

REICH, R. O trabalho das nações: preparando-nos para o capitalismo no século XXI. São Paulo: Educator, 1994 (adaptado).

A viabilidade do processo de produção ilustrado pelo texto pressupõe o uso de

A) linhas de montagem e formação de estoques.

B) empresas burocráticas e mão de obra barata.

C) controle estatal e infraestrutura consolidada.

D) organização em rede e tecnologia de informação.

E) gestão centralizada e protecionismo econômico.

Resolução:

Alternativa D

A desconcentração espacial da indústria, que resultou na diluição das cadeias produtivas pelo espaço mundial, representa o modelo produtivo do toyotismo, proporcionado pela organização em rede e pelo advento de novas tecnologias da informação e da comunicação, características da Terceira Revolução Industrial. Esse período corresponde à aceleração do fenômeno da globalização.

Questão 2

(Unesp — adaptada) Leia o texto para responder à questão.

Atualmente, muitos estudiosos acreditam que é possível identificar processos de globalização em sociedades pré-modernas, em vista de fenômenos como o encurtamento relativo das distâncias (através de meios de transporte e comunicação mais eficazes), maior conectividade entre regiões previamente isoladas […].

(Rafael Scopacasa. Revista de História, n° 177, 2018.)

O uso contemporâneo do conceito de globalização envolve, além dos aspectos mencionados no texto,

A) imposição do setor industrial sobre o de serviços, autossuficiência energética dos países, ampla mobilidade de pessoas e mercadorias.

B) convergência de preços e mercados entre regiões distantes, meios de comunicação ultravelozes, formação de uma consciência global.

C) maior importância das barreiras geográficas, constituição de redes de contatos culturais, uniformização mundial de preços.

D) unidade ideológica e política entre os governantes dos Estados, redução das distâncias físicas entre continentes, declínio da diversidade global.

E) imposição do poder dos blocos econômicos regionais, internacionalização do movimento operário, redução das barreiras linguísticas.

Resolução:

Alternativa B

A financeirização da economia e a comoditização dos produtos, cujos preços são decididos no âmbito das bolsas de valores internacionais, correspondem a um aspecto da globalização contemporânea. Tudo isso foi possível mediante o aperfeiçoamento dos meios de comunicação, que permitiu o desenvolvimento de uma consciência universal.

Notas

Fontes:

HABESBAERT, Rogério. PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. A nova des-ordem mundial. São Paulo: Editora UNESP, 2006, 160p.

HABESBAERT, Rogério; LIMONAD, Ester. O território em tempos de globalização. Disponível em:

LUCCI, Elian Alabi. Território e sociedade no mundo globalizado, 2: ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2016, 3 ed. 289p.

SANTOS, Milton. Técnica, Espaço, Tempo: Globalização e Meio Técnico-científico-informacional. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2013. 5 ed., 1 reimp. 176p.

 

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem