Matinta Perera é a personagem de uma das lendas mais importantes da região Norte do Brasil, sendo considerada uma lenda da Floresta Amazônica. Na lenda, uma mulher que tem a capacidade de se transformar em ave incomoda o sono das pessoas para que elas entreguem para Matinta algum presente, como café, tabaco ou outro qualquer. Em algumas versões da lenda existe apenas uma Matinta Perera, em outras existem diversas. Geralmente ela está associada ao pássaro conhecido como martim-pererê (Tapera naevia) e à coruja conhecida como rasga-mortalha (Tyto furcata).
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Resumo sobre Matinta Perera
- Matinta Perera é a personagem de uma lenda do folclore brasileiro, muito popular na região de abrangência da Floresta Amazônica.
- Existem dois tipos principais de Matintas, dependendo da versão da lenda, a Matinta com asas e a Matinta sem asas.
- Geralmente ela é representada na sua aparência humana como uma velha corcunda, semelhante a uma bruxa.
- Em algumas versões, ela é associada ao pássaro martim-pererê, chamado também de saci. Já em outras, é associada à coruja-das-torres, chamada também de coruja-rasga-mortalha.
- Segundo a crença popular, é possível construir armadilhas para capturar ou afugentar Matinta.
- A origem da lenda é geralmente associada aos povos indígenas.
- Ainda hoje a lenda de Matinta é contada no Brasil, inclusive em áreas urbanas.
Quem é Matinta Perera?
Matinta Perera é um ser que passa por metamorfose, tendo de dia o aspecto de uma mulher, geralmente uma idosa semelhante a uma bruxa, e de noite assume a forma de uma ave. Ela é um dos principais personagens do folclore brasileiro, protagonista de uma lenda muito popular na região amazônica.
Em algumas regiões Matinta Perera é associada ao pássaro conhecido como martim-pererê ou saci (Tapera naevia), comum em quase todo o território nacional. Em outras regiões ela é associada à coruja-das-torres ou coruja-rasga-mortalha (Tyto furcata), considerada um animal de mau agouro. A coruja recebe o nome “rasga-mortalha” porque seu assobio se assemelha a um tecido sendo rasgado. Em diversas regiões do Brasil as pessoas acreditam que a rasga-mortalha anuncia a morte de um membro da família.
→ Como uma pessoa se torna Matinta Perera?
Existem várias versões sobre como uma pessoa se torna Matinta Perera. Veja algumas delas a seguir:
- Uma das versões afirma que a pessoa se torna Matinta por transmissão genética, ou seja, que a condição passa de mãe para filha.
- Uma versão comum em algumas regiões conta que a pessoa é transformada em Matinta por punição a algum crime ou pecado cometido por ela ou uma ancestral.
- Outra versão afirma que Matinta Perera usa um estratagema, perguntando aos berros: “Quem quer, quem quer?”. A pessoa, pensando em ser algo bom, afirma que quer, recebendo o fardo de se tornar Matinta Perera.
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Qual a história da lenda da Matinta Perera?
A versão mais comum da lenda de Matinta Perera conta que de noite, na sua forma de ave, ela passa a assobiar constantemente próximo de uma ou mais casas, incomodando seus moradores, e o pássaro só para de fazer barulho se uma pessoa prometer algum presente para Matinta Perera, que pode ser um pouco de fumo, café, cachaça, peixe, pão, entre outros. Segundo Câmara Cascudo, as pessoas devem gritar: “Matinta, venha amanhã que lhe entregarei seu fumo” ou outra prenda qualquer. |1|
Armadilha para Matinta Perera
Em todas as versões contadas existe uma armadilha que pode ser criada para prender Matinta Perera. O que varia nas diferentes versões da lenda é como essa armadilha deve ser feita. A principal armadilha é feita enterrando uma tesoura aberta no local por onde Matinta passará; deve ser colocado no local ainda um terço e uma chave. Em algumas versões a armadilha deve ser feita à meia-noite. Às vezes é necessário o uso de uma vassoura que nunca foi utilizada para varrer o local onde Matinta foi presa, para ela não voltar a incomodar as pessoas da casa.
No Pará, para evitar a aproximação de Matinta, o morador deve preparar uma poção com água benta e alho e passá-la em forma de cruz nas portas e janelas da residência. No Amazonas, a lenda conta que Matinta pode ser afugentada colocando folhas e frutos do pinhão-roxo, Jatropha gossypiifolia L, nas portas e janelas das casas. A planta possui uma substância tóxica e grudenta em suas folhas, o que para as pessoas afugenta Matinta.
Origem da lenda da Matinta Perera
Matinta Perera é uma lenda brasileira, originada na região Norte do Brasil. Não é possível estabelecer a data de origem de Matinta, mas para alguns folcloristas ela tem origem entre os povos indígenas, talvez no período anterior à chegada dos europeus por aqui.
Câmara Cascudo afirmou que Matinta Perera se apresentava às pessoas como o pássaro Tapera naevia, conhecido popularmente como martim-pererê ou saci. Para ele, esse pássaro era associado por povos indígenas aos pajés, que se transformavam no pássaro para praticar suas vinganças.|2| Para os tupinambás, os mortos se transformavam nesses pássaros, visitando os vivos. Os mundurucus acreditavam que esse pássaro era a encarnação dos mortos que vinham caçar e pescar no mundo dos vivos.
Versões da lenda da Matinta Perera
Atualmente existe em Belém uma versão urbana da lenda. Em outubro de 2022, repercutiu na mídia nacional o caso ocorrido no centro comercial de Belém. Duas colegas estavam no escritório, de noite, e ouviram o assobio de uma ave, uma das mulheres brincou e prometeu café para Matinta Perera. No outro dia, uma senhora apareceu no escritório, afirmando que gostaria de tomar o café prometido. A mulher preparou e serviu o café à senhora, que partiu em seguida.|3|
Notas
|1| e |2| CASCUDO, Luís da Câmara. Folclore do Brasil. Editora Global, Rio de Janeiro, 2017.
|3| ALEXANDRIA, L. Mulher conta que Matinta Perera pediu café na porta do trabalho, após brincar com lenda. G1. 2022. Disponível em:
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Fontes
ALEXANDRIA, L. Mulher conta que Matinta Perera pediu café na porta do trabalho, após brincar com lenda. G1. 2022. Disponível em:
CASCUDO, Luís da Câmara. Folclore do Brasil. Editora Global, Rio de Janeiro, 2017.
MAGALHÃES, Basílio de. O folclore do Brasil. Edições do Senado Federal, Brasília, 2006.