As tribos urbanas são grupos que se formam compartilhando hábitos, valores culturais, estilos musicais e ideologias políticas semelhantes. Representam um fenômeno sociocultural fascinante, refletindo a diversidade e a complexidade das identidades pessoais nas cidades grandes. Originados da necessidade dos jovens de se agruparem com base em interesses e afinidades compartilhadas, esses grupos se destacam por suas práticas culturais, estilos de vida e, muitas vezes, posicionamentos políticos, abrangendo desde surfistas e skatistas até funkeiros e punks, cada um contribuindo de maneira única para o ecossistema social e cultural das cidades grandes. As tribos urbanas, portanto, não são apenas agrupamentos juvenis, elas são agentes ativos na construção da cultura urbana, influenciando a moda, a música e os comportamentos sociais de toda a população.
Leia também: Skinhead — detalhes sobre uma das tribos urbanas que surgiram no Reino Unido na década de 1960
Tópicos deste artigo
Resumo sobre tribos urbanas
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Tribos urbanas são grupos que se formam compartilhando hábitos, valores culturais, estilos musicais e ideologias políticas semelhantes.
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O termo “tribo urbana” foi cunhado por um sociólogo francês para se referir às subculturas encontradas na sociedade urbana.
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As tribos urbanas surgiram como movimentos de contracultura, desafiando normas sociais e buscando uma identidade própria.
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Alguns exemplos de tribos urbanas são surfistas, hippies, emos, funkeiros, geeks, góticos, headbangers (metaleiros), hipsters, nerds e new age.
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As principais tribos urbanas do Brasil são funkeiros, hippies, punks, surfistas e skatistas.
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A moda das tribos urbanas vai além do vestuário, sendo uma forma de resistência e expressão política.
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O skate, inicialmente uma alternativa ao surfe, tornou-se um esporte com uma cultura própria influente.
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As tribos oferecem aos jovens um senso de pertencimento e uma plataforma para explorar sua individualidade.
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Tribos urbanas refletem e influenciam a sociedade em geral, criando subculturas autênticas que desafiam o convencional.
O que são tribos urbanas?
Também conhecidas como subculturas ou subsociedades, as tribos urbanas são grupos que se formam compartilhando hábitos, valores culturais, estilos musicais e ideologias políticas semelhantes.
A expressão “tribo urbana” foi criada pelo sociólogo francês Michel Maffesoli em 1985. Segundo Maffesoli, as tribos urbanas são constituídas por redes, grupos de afinidade e interesse, e laços de vizinhança que estruturam as grandes cidades. Ele argumenta que, nesse contexto, o que está em jogo é a “potência contra o poder”, sugerindo que as tribos urbanas representam uma forma de resistência social, mesmo que essa resistência precise muitas vezes ser mascarada para não ser suprimida pelo poder estabelecido.
Maffesoli explora a ideia de que as tribos urbanas são uma resposta ao declínio do individualismo e à necessidade de pertencimento em uma cultura de massa. Ele vê as tribos como uma forma de as pessoas se reconectarem em um nível mais pessoal e emocional, em contraste com as estruturas sociais mais amplas e impessoais.
As tribos urbanas, portanto, são vistas por Maffesoli como uma manifestação da vida social que cria realidades próprias, com seus membros se unindo por compartilharem os mesmos princípios, ideais, gostos musicais ou estéticos. Esses grupos surgem como um esforço de diferenciação e identificação, especialmente entre os jovens, que se reúnem em grupos partilhando os mesmos ideais e gostos, muitas vezes como uma forma de resistência ou crítica às normas e valores da sociedade dominante.
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Origem das tribos urbanas
A origem das tribos urbanas é um fenômeno complexo e multifacetado que pode ser rastreado até a necessidade dos jovens de se agruparem com base em interesses e identidades compartilhadas. No fim do século passado, em meio à massificação e à perda de identidades individuais nas grandes cidades, pequenos grupos começaram a se formar, buscando uma sensação de pertencimento e uma maneira de expressar suas identidades únicas.
Com o passar do tempo, o número de tribos urbanas se multiplicou, abrangendo uma ampla gama de interesses e estilos de vida, desde surfistas e skatistas até geeks e hipsters. Cada tribo desenvolve sua própria subcultura social urbana, com hábitos, condutas, filosofias, vocabulário e preferências musicais e de moda distintos. Essa diversificação reflete a complexidade da vida urbana moderna e a variedade de maneiras pelas quais os indivíduos buscam se conectar e encontrar significado em suas vidas.
É possível dizer, assim, que a origem das tribos urbanas está intrinsecamente ligada à busca por identidade, pertencimento e expressão em um mundo cada vez mais globalizado e homogeneizado. Através da formação desses grupos, os jovens encontram uma maneira de afirmar sua individualidade e resistir à pressão da conformidade, criando espaços de solidariedade e compreensão mútua em meio à vastidão impessoal da vida nas grandes cidades.
Exemplos de tribos urbanas
Alguns exemplos de tribos urbanas são os seguintes:
Para saber mais detalhes sobre os emos, uma das mais conhecidas tribos urbanas, clique aqui.
Principais tribos urbanas do Brasil
No Brasil, destacam-se tribos urbanas como funkeiros, punks, skatistas, surfistas e hippies, sobre as quais você verá um pouco a seguir.
→ Funkeiros
Alcançando seu auge no início dos anos 2000 nas favelas cariocas, os funkeiros se tornaram uma das tribos urbanas mais influentes do Brasil. A estética e o gênero musical funk são fundamentais para a identidade dessa tribo, que se expressa através de roupas estilosas, danças e letras que muitas vezes abordam a realidade social das comunidades.
→ Hippies
Surgidos nos Estados Unidos no final da década de 60, os hippies brasileiros adotaram valores de paz, amor, e vida em comunidade, contestando o modelo econômico, as guerras e as injustiças sociais. Com um modo de vida comunitário e libertário, os hippies se destacam pelo uso de roupas coloridas, artesanais e pela valorização da natureza.
→ Punks
Chegando ao Brasil no final da década de 1970, principalmente em São Paulo, os punks trouxeram uma forte influência política e um caráter contestatório ao autoritarismo da Ditadura. Além disso, defendiam a liberdade anárquica e a oposição ao consumismo. Os punks surgiram como resposta ao movimento hippie e se caracterizam pela atitude de resistência ao sistema, com um estilo que inclui roupas rasgadas, alfinetes e cabelos coloridos ou moicanos. Para saber mais detalhes sobre os punks, clique aqui.
→ Surfistas
Originados nos Estados Unidos na década de 50, os surfistas formam uma das tribos urbanas mais antigas e reconhecidas, e se popularizaram no Brasil nas praias brasileiras. O surfe hoje em dia se tornou um esporte profissional incluído nos Jogos Olímpicos. Os surfistas adotam um estilo de vida que valoriza a natureza, a liberdade e a busca pela onda perfeita. A moda surfista inclui bermudas, camisetas leves e sandálias, refletindo um estilo despojado e conectado ao mar.
→ Skatistas
Inspirado nas ideias dos surfistas mas adaptado para o ambiente urbano, o skate se popularizou no Brasil, com campeonatos, eventos e locais próprios para a prática, como as pistas de skate construídas em muitas cidades. É outro exemplo de tribo urbana que se tornou um esporte profissional e olímpico. Os skatistas possuem um estilo próprio que inclui bonés, calças largas e tênis apropriados para a prática esportiva.
Características das tribos urbanas
Michel Maffesoli, ao estudar as tribos urbanas, identificou algumas características próprias que definem esses grupos. Segundo ele, as tribos urbanas são agrupamentos semiestruturados, formados predominantemente por pessoas que se aproximam devido à identificação comum com rituais e elementos da cultura, como moda, música e lazer, típicos de um determinado espaço-tempo.
As tribos urbanas são marcadas por uma socialidade frouxa, caracterizada pela lógica hedonista e pelo não compromisso com a continuidade na linha do tempo. Isso significa que as relações dentro das tribos são baseadas no prazer e na satisfação imediata, sem necessariamente visar à longevidade ou à permanência dessas relações.
Maffesoli também destaca que as tribos urbanas são comunidades empáticas, organizadas em torno do compartilhamento de gostos e formas de lazer. Os vínculos comunitários dentro das tribos perduram enquanto se mantém o interesse pela atividade, seja ela uma apresentação musical, uma festa ou uma manifestação política.
Outra característica importante é que os membros das tribos se portam como personagens de um enredo imaginário, o que configura a sua identidade e o seu papel. Isso sugere que as tribos urbanas permitem aos indivíduos experimentar diferentes identidades e papéis sociais em um ambiente que valoriza a expressão individual e coletiva.
Além disso, Maffesoli ressalta o caráter volátil dos vínculos internos das tribos, o que torna a dinâmica social desses grupos muito rica, mas também pode enfraquecer as ligações entre os membros, comprometendo o engajamento em projetos cooperativos de maior duração.
Em suma, as tribos urbanas, segundo Maffesoli, são caracterizadas por sua estrutura semiestruturada, socialidade frouxa, lógica hedonista, comunidades empáticas e personagens de um enredo imaginário, refletindo uma forma de socialidade que é dinâmica, criativa e centrada no aqui e agora.
Filmes relacionados às tribos urbanas
Exemplos de filmes que retratam tribos urbanas que você pode assistir para aprofundar os conhecimentos sobre o assunto:
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Suburbia, de Penelope Spheeris;
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Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick (proibido em muitos países);
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The Warriors, de Joe Wash;
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Os Reis de Dogtown, de Catherine Hardwick;
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Cidade de Deus, de Fernando Meirelles e Kátia Lund;
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Tropa de Elite, de José Padilha;
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Pixote: A Lei do Mais Fraco, de Hector Babenco;
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Chorão: Marginal Alado, de Felipe Novaes;
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Gritando. Punk, Rock, Skate e Underground, de Alexandre Mapa;
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Botinada: a origem do punk no Brasil, de Gastão Moreira.
Curiosidades sobre as tribos urbanas
Existem muitas curiosidades sobre as tribos urbanas, por isso indicamos filmes e leituras extras sobre o assunto.
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Apesar de algumas tribos urbanas serem associadas a atitudes xenófobas, racistas e homofóbicas, outras são conhecidas por sua abertura e inclusão, como é o caso dos hippies, que pregavam o amor e a paz.
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O movimento hippie surgiu nos Estados Unidos na década de 1960, em parte como uma reação à Guerra do Vietnã. Os hippies promoviam a paz, o amor e a liberdade, em oposição à violência e ao materialismo da sociedade contemporânea. Os hippies também desempenharam um papel significativo na popularização de religiões orientais no Ocidente e na revolução sexual, desafiando as normas tradicionais de comportamento e promovendo uma abordagem mais livre à sexualidade.
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Os punks surgiram no final dos anos 1970 como uma reação ao percebido otimismo e idealismo dos hippies. Eles adotaram uma abordagem que envolvia certas doses de niilismo e uma atitude de confronto, criticando assim tanto a sociedade de consumo quanto a contracultura hippie. A ética do “faça você mesmo” é central para a cultura punk, influenciando a música, a moda e a produção de zines. Muitos punks também abraçam ideais anarquistas, usando sua música e arte para expressar descontentamento com o sistema político e social.
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Embora seja comum associar o surfe à cultura havaiana moderna, o esporte tem origens pré-colombianas na América do Sul, com civilizações antigas praticando formas de surfe em pranchas de madeira. O skate surgiu na Califórnia nos anos 1950, quando surfistas buscavam uma alternativa para os dias sem ondas. Eles começaram a praticar surfe no asfalto, o que eventualmente evoluiu para o skate moderno.
Fontes
DORTIER, Jean-François (dir.). Dicionário de ciências humanas. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
FORACCHI, Marialice M. Sociologia e sociedade: leituras de introdução à sociologia. Rio de Janeiro: LTC-Livros Técnicos e Científicos, 2000.
JOHNSON, Allan G. Dicionário de sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.
MAFFESOLI, Michel. O Tempo das Tribos: O declínio do individualismo nas sociedades de massa. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1998.
SILVA, Alisson Batista da. A relação e o comportamento das tribos urbanas no contexto escolar. Monografia (Especialização Fundamentos da Educação: Práticas Pedagógicas Interdisciplinares). Universidade Estadual da Paraíba: 2014.