Surgimento da Sociologia

A Sociologia surgiu na primeira metade do século XIX, a partir das ideias do filósofo francês Auguste Comte. Comte entendeu que a sociedade europeia passava por um turbilhão de transformações desde o renascentismo e que a Revolução Industrial teria coroado o ápice das transformações.

Ademais, a necessária Revolução Francesa teria deixado um cenário caótico e instável, que necessitava de correção para que houvesse uma retomada do crescimento econômico, social, moral, científico e político do mundo. Comte formulou, então, as ideias positivistas, que foram o centro dessa primeira produção sociológica.

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Contexto histórico do surgimento da Sociologia

Uma série de fatores modificou a economia, a política e a sociedade europeia como um todo. Essa série de fatores desencadeou uma nova organização social que precisava ser compreendida por meio de um método de análise social. São os principais fatores históricos que influenciaram o surgimento da Sociologia:

  1. Renascimento: o renascentismo é o período de transição de uma Europa medieval para uma Europa moderna, que passa a valorizar mais a ciência e as artes, reconhecendo a distinção e a importância da razão e do conhecimento humano, além de separá-los os do conhecimento religioso.

  2. Surgimento do capitalismo: o mercantilismo, que consiste na primeira fase do capitalismo moderno, desencadeou uma série de fatores que modificaram o cenário europeu. Um deles foi a expansão marítima e comercial, que possibilitou um desenvolvimento econômico mais complexo e a exploração das colônias situadas nas Américas, na África, na Índia e em parte da Ásia.

  3. Iluminismo: uma nova concepção intelectual e política, surgiu com o iluminismo. As ideias de igualdade e de disseminação do conhecimento intelectual propagaram-se e trouxeram à humanidade o entendimento de que a evolução moral e social está diretamente ligada à evolução intelectual.

  4. Grandes revoluções: as revoluções ocorridas no século XVIII, de inspiração burguesa, como a Revolução Americana e a Revolução Francesa, (essa última inspirada por pensadores iluministas) trouxeram uma nova forma de se pensar no Estado e no governo, afastando o Antigo Regime e dando lugar ao republicanismo, o que alterou a lógica social e governamental.

  5. Revolução Industrial: houve uma alteração na configuração populacional devido à Revolução Industrial, pois a Europa, até então sumariamente rural, observava uma explosão demográfica nas cidades devido à abertura de indústrias, principalmente na Inglaterra. Os grandes centros urbanos que surgiram repentinamente não tiveram estrutura para abrigar tantas pessoas, e os postos de trabalho também não foram suficientes para todos, o que desencadeou problemas sociais e sanitários, que deixaram como rastro doenças, fome, miséria, desigualdade social e alta taxa de criminalidade. Concomitantemente com os fatores negativos, a Revolução Industrial promoveu uma série de benefícios ligados ao desenvolvimento tecnológico, que promoveram um maior conhecimento técnico especializado e a capacidade de produção em larga escala, o que propiciou o crescimento populacional.

Diante de tantas mudanças que tornaram a vida nas cidades mais complexa, era necessário estabelecer uma forma de entender essa nova Europa, mais desenvolvida em certos aspectos e problemática em outros.

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Videoaula sobre o surgimento da Sociologia

Como a Revolução Francesa contribuiu para o surgimento da Sociologia?

Diante dos fatores que influenciaram o surgimento da Sociologia, a Revolução Francesa ocupa um papel de destaque. Os revolucionários acabaram com o Antigo Regime francês e abriram os olhos do mundo para a necessidade de uma política menos exclusiva, que não operasse por meio de um sistema estratificado e que não se justificasse na suposta vontade divina.

Houve, com a Revolução Francesa, o estabelecimento de uma política laica. Para dar lugar à justificação divina e fundar um Estado de Direitos, a França passou a pensar em um sistema político baseado em ideais racionais que abarcassem a totalidade da população.

O cenário pós Revolução Francesa, no entanto, ficou caótico. A instabilidade política deixou marcas severas no modo de vida dos franceses, no início do século XIX. Havia a necessidade de uma reordenação que tornasse a vida econômica, política e social mais estável, e esse foi, talvez, o maior motivador da criação do positivismo, por Auguste Comte. Essa teoria deu o impulso inicial para a criação da Sociologia, que no início era chamada por Comte de Física Social.

Segundo Comte, a Física Social deveria ser uma ciência tão rigorosa como as Ciências Naturais, copiando o método delas, que seria capaz de entender a complexa sociedade europeia para reordená-la e colocá-la novamente nos trilhos do desenvolvimento.

Ilustração retrata a tomada da Bastilha em 14 de julho de 1789, na cidade de Paris. A Queda da Bastilha deu início à Revolução Francesa.

O surgimento da Sociologia como ciência

Apesar da intenção de Comte, a Sociologia não se firmou como uma ciência capaz de esgotar os estudos de uma sociedade tão complexa. Émile Durkheim, considerado o primeiro sociólogo, foi o responsável por estabelecer um método preciso e rigoroso que alavancasse os estudos sociológicos e colocasse a nova ciência no rol das ciências autênticas.

Para Durkheim, as ideias de Comte eram muito mais próximas de uma abstração filosófica do que do rigor de uma ciência, o que impossibilitava o crescimento científico da Sociologia. Mediante um método comparativo que visava a buscar os fatos sociais que marcavam as diferentes sociedades e compará-los. Isso a fim de entender os diferentes funcionamentos sociais e compreender os diferentes modos de coesão social, Durkheim fundamentou a Sociologia como um estudo autônomo e rigoroso.

O surgimento da Sociologia no Brasil

Antonio Candido|1|. estabeleceu que houve dois momentos importantes na Sociologia brasileira, um entre 1890 e 1940, e outro a partir de 1940, tendo como intermediária a década de 1930. Segundo Candido, o primeiro período não era movido por sociólogos especialistas, mas por estudiosos diletantes que intentavam conhecer a cultura e a sociedade brasileira de modo global.

A partir de 1933, estudiosos de Sociologia passaram a fomentar uma produção sociológica brasileira mais especializada. Eles eram formados pela Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo, instituição mais tarde vinculada à USP, e a própria USP, que em sua fundação no ano de 1934, trouxe ao Brasil diversos professores franceses já habituados à pesquisa sociológica, política e antropológica.

No início, destaca Candido, a Sociologia era estudada por juristas que tinham como objetivo estabelecer novos parâmetros para um Estado brasileiro, pautados pelo Evolucionismo e por uma política democrática.

Depois, estudiosos como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Júnior publicaram obras centrais da Sociologia brasileira, que transitam entre a Sociologia e a História. Florestan Fernandes foi um dos primeiros sociólogos de destaque formados nessa primeira geração de sociólogos brasileiros.

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Resumo sobre o surgimento da Sociologia

A Sociologia surgiu na França com as ideias de Auguste Comte para uma reordenação social, devido à instabilidade política deixada pela Revolução Francesa e por fatores que mudaram a configuração social europeia. Apesar de Comte ser o “pai” da Sociologia, foi Durkheim quem criou um método de análise social capaz de estabelecer a Sociologia como ciência autêntica.

No Brasil, a Sociologia adentra no fim do século XIX, mas ganha força no início do século XX, com pensadores como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Jr.

Uma nova geração de sociólogos brasileiros mais especializados no assunto surgiu a partir de 1933, com a fundação da Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo, e 1934, com a fundação da USP, que trouxe ao Brasil diversos sociólogos franceses para integrar o corpo docente da universidade. O nome de maior destaque dessa primeira geração de sociólogos da USP é Florestan Fernandes.

Nota

|1| CANDIDO, A. A Sociologia no Brasil. In: Tempo Social, Revista de Sociologia da USP, v. 18, n. 1.

Fontes

CANDIDO, A. A Sociologia no Brasil. In: Tempo Social, Revista de Sociologia da USP, v. 18, n. 1.

CUIN, C. H.; GRESLE, F. História da Sociologia. Tradução de Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Ensaio, 1994.

DURKHEIM, É. As regras do método sociológico. Tradução de Paulo Neves. São Paulo: Martins Fontes, 1995.

 

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