O Braille é um sistema que foi oficializado em 1852 para possibilitar que pessoas com deficiência visual, parcial ou total, tivessem acesso à leitura. Todo o sistema é formado por caracteres em relevo que permitem o entendimento por meio do tato.
O sistema recebeu essa nomenclatura em homenagem ao francês Louis Braille, responsável pela criação desse código para cegos. Ele é utilizado em quase todos os países do mundo, com pequenas diferenças de uma região para outra.
Para entender melhor como o Sistema Braille foi criado, é importante conhecer primeiro a história de seu fundamentador, Louis Braille.
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Biografia de Louis Braille
Louis Braille nasceu em Coupvary, na França, em 4 de janeiro de 1809. Quando tinha três anos sofreu uma lesão no olho, quando brincava na oficina do pai, perfurando o olho esquerdo com um objeto de ponta. Ele sofreu uma grave hemorragia que gerou uma infecção. Durante o tratamento, a infecção acabou atingindo o outro olho do garoto que, aos cinco anos de idade, ficou completamente cego.
Apesar da limitação para enxergar, Braille sobressaiu-se em outras habilidades e tinha muita facilidade para decorar os conteúdos passados por seus professores. Sua inteligência deixou todos admirados e, aos 10 anos, conseguiu uma bolsa de estudos na primeira escola para cegos do mundo: o Instituto Real dos Jovens Cegos de Paris.
Naquela época, o sistema utilizado para a leitura dos cegos era o Valentin Haüy, que consistia em livros impressos com letras grandes e em relevo. Com esse método, era possível que os cegos realizassem a leitura, mas não permitia a escrita. Eram poucos livros existentes no sistema, e, junto com eles, os professores da instituição faziam os estudantes repetirem as lições escutadas como forma de aprendizagem.
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Criação do Sistema Braille
Até chegar ao método utilizado hoje, alguns formatos foram testados por Braille, amigos, estudiosos e pessoas que conviveram com ele e que tinham o mesmo interesse em facilitar o acesso de pessoas cegas ao ensino.
O capitão de artilharia do exército de Luís XIII, Charles Barbier de la Serre, foi uma das pessoas que contribuíram com Louis na pesquisa. Charles possuía um sistema de sinais em relevo para transmitir ordens aos soldados, no período da noite, conhecido como “sonografia”.
Como Braille conhecia bem o sistema e seus problemas, começou a procurar soluções para que o método a ser criado fosse mais prático e com menos combinações, possibilitando representar as letras, pontuações e números. Ele concluiu a base do seu sistema em 1824, aos 15 anos de idade.
Para aperfeiçoá-lo, continuou dedicando-se e publicou a “Pequena Sinopse de Aritmética para Principiantes”, em 1838, e, no ano seguinte, publicou o “Novo método para representação por sinais de formas de letras, mapas, figuras geométricas e símbolos musicais para uso de cegos”. No último método publicado, em 1839, Braille deu o nome de “grafia pontilhada”, sendo aceita pelos alunos e facilitando a comunicação.
Apesar de o método ter sido aperfeiçoado, e muitos estudantes terem se adaptado, houve resistência dos professores mais conservadores, que continuaram lecionando por meio do sistema Valentin Haüy.
O sistema Braille só foi oficialmente aceito em 1843, quando o instituto mudou sua sede, e o novo diretor oficializou o método. Com isso, o sistema começou a ser disseminado pela Europa.
Infelizmente, Braille não conseguiu acompanhar o sucesso do seu sistema. Aos 16 anos, contraiu tuberculose e, desde então, sua saúde ficou debilitada. Em 1852, aos 43 anos, seu estado de saúde agravou-se e ele faleceu.
Braille no Brasil
No mesmo período em que o sistema Braille estava em fase de adaptação no Instituto Real dos Jovens Cegos de Paris, um jovem brasileiro estudava no local: José Álvares de Azevedo. O jovem de família rica, filho do escritor Álvares de Azevedo, já nasceu cego. Entre os 10 e 16 anos de idade, foi enviado ao instituto para estudar.
Lá, ele aprendeu bem todo o método utilizado no Braille e voltou ao Brasil com a grande vontade de expandir o conhecimento para outras pessoas com deficiência visual. Começou a dar aulas, palestras e ensinar à população como o Braille funcionava.
Como professor, conseguiu aproximar-se do Imperador D. Pedro II, que, admirado com o trabalho de José, o ajudou na fundação de uma escola para cegos no Brasil. Em 1854, foi criado o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, que hoje carrega o nome de Instituto Benjamin Constant, localizado no bairro da Urca, no Rio de Janeiro.
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Sistema Braille
Esse sistema é um código de escrita em relevo voltado às pessoas com deficiência visual. O processo é o mais adotado no mundo e, além das letras e números, ele oferece símbolos, pontuações e outros sinais que facilitam o entendimento de uma mensagem por aqueles que não conseguem enxergar.
O conjunto possibilita a formação de 63 símbolos, no entanto, o espaço que não é ocupado pelos pontos também é considerado com um sinal e, por isso, muitos especialistas consideram que o sistema Braille possui 64 símbolos.
Veja abaixo os símbolos para o alfabeto e os números:
No caso da língua portuguesa, os sinais conservam as características originais, mas como há algumas vogais com acentos e outros símbolos, no Brasil, há alguns sinais exclusivos. Veja abaixo alguns sinais utilizados para representar acentuações:
Além disso, o Sistema Braille possui normas que devem ser seguidas. Há regras para o uso de letras maiúsculas e minúsculas, assim como regras para siglas, abreviações, utilização de números e letras juntos e muitas outras.
Como se lê o Braille?
A leitura é tátil, feita da esquerda para a direita e passando letra por letra. Os leitores podem optar tanto por utilizar uma mão ou as duas mãos, de acordo com a forma que se adaptar melhor.
No caso da leitura com as duas mãos, bimanual, cada uma é utilizada para ler a metade de um parágrafo. Na leitura com apenas uma mão, unimanual, ela volta até a metade do parágrafo para descer daí para a próxima linha do texto.
Apesar de o Braille ser utilizado por pessoas cegas e sua leitura ser considerada tátil, ela também pode ser lida apenas pelos seus caracteres pelas pessoas que não possuem deficiência visual. Essa leitura é simples, e as pessoas interessadas precisam apenas decorar os símbolos.
Leitura X escrita
Mesmo o Braille sendo um sistema muito conhecido para a leitura, ele apresenta um processo mais complicado em sua escrita. Quase todas as pessoas podem ler o sistema Braille, mas poucos podem escrevê-lo.
A escrita do Braille, se for feita à mão, apresenta maior dificuldade. Para que ela apresente o relevo, é necessário que seja feita com um buril (ferramenta de aço com ponta cortante, utilizada na gravação em metal ou madeira para abrir traços finos), de forma invertida. No caso, é feita da direita para a esquerda, mas com os símbolos invertidos, para possibilitar que, ao virar o papel, os relevos estejam no sentido em que a leitura será feita.
Já para as escritas feitas em máquinas, o processo é mais prático. Com toda a tecnologia dos dias atuais, as máquinas possuem teclas específicas para a criação desse conteúdo. Assim como os sistemas de impressão já possuem impressoras em Braille, e a serigrafia inclui gotas de substância que geram o relevo e possibilitam a criação do material.
Importância do Braille
Utilizar o sistema Braille é uma forma de inclusão social. Com ele é possível proporcionar mais acessibilidade às pessoas com deficiência visual, contribuindo também para uma maior independência desse público, além do acesso ao ensino, aprendizagem, mercado de trabalho e as demais atividades que fazem parte da rotina de todas as pessoas.
Além de instituições de ensino voltadas para atendimento desse público, também é importante que os recursos sejam incluídos em locais e até mesmo objetos que fazem parte da vida de todas pessoas.
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Como aprender o Braille
A internet pode ser uma grande aliada para o estudo dos sinais, já que uma simples busca apresenta todos os sinais existentes, e você pode começar a decorá-los. Pode também comprar livros em Braille para ter uma experiência mais próxima de como o sistema funciona e, com o auxílio das pesquisas, começar a entender esse alfabeto tátil.
Para quem deseja se aprofundar ainda mais no conhecimento do Braille, é necessário buscar uma instituição de ensino ou um professor especializado para ensinar o conteúdo.
Créditos das imagens
[2] Reprodução do Manual do MEC