Noémia de Sousa (Carolina Noémia Abranches de Sousa) nasceu em 20 de setembro de 1926, no distrito de Catembe, em Moçambique. Mais tarde, em 1951, exilou-se em Lisboa, devido a perseguições políticas sofridas em seu país natal. Nessa época, já tinha escrito a sua obra poética, publicada, em 2001, no livro Sangue negro.
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Tópicos deste artigo
Resumo sobre Noémia de Sousa
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A poetisa moçambicana Noémia de Sousa nasceu em 1926 e faleceu em 2002.
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Os textos da autora são de cunho nacionalista e trazem uma voz feminina e negra.
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Sua obra Sangue negro, de 2001, é o único livro publicado por Noémia de Sousa.
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Biografia de Noémia de Sousa
Noémia de Sousa (Carolina Noémia Abranches de Sousa) nasceu em 20 de setembro de 1926, em Catembe, Moçambique. Morou nesse distrito até os seis anos de idade, quando foi viver em Lourenço Marques (atual Maputo). Antes, porém, com quatro anos de idade, aprendeu a ler e escrever com seu pai, um funcionário público que valorizava o conhecimento e a literatura.
Com oito anos de idade, a poetisa ficou órfã de pai. A mãe dela, então, precisou sustentar, sozinha, os seis filhos. Além dessa perda, a menina também precisou enfrentar o preconceito racial e, como relata a própria autora em uma entrevista, foi ridicularizada por um homem branco por estar lendo um livro, quando tinha aproximadamente dez anos de idade.
O fato de ter sido alfabetizada por seu pai foi um diferencial na vida da autora, pois, na época, as pessoas negras em Moçambique não tinham acesso à educação. E, apesar de Noémia ter conseguido ingressar em uma escola, segundo a própria escritora, ela era a única pessoa negra na instituição.
Apesar de a autora não ter livros publicados, seus textos poéticos eram famosos e divulgados a partir da publicação de antologias de poesia moçambicana. Desse modo, Noémia de Sousa, por sua obra literária e suas ideias, era bastante conhecida quando morreu em 04 de dezembro de 2002, em Lisboa.
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Características da obra de Noémia de Sousa
A poetisa Noémia de Sousa é considerada a mãe dos poetas moçambicanos. Quase todas as suas poesias, com exceção de uma, foram escritas em apenas três anos, de 1948 a 1951. E apresentam as seguintes características:
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Versos livres.
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Aspecto nacionalista.
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Crítica sociopolítica.
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Prevalência da voz feminina.
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Afirmação da negritude.
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Exaltação da cultura africana.
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Traços do gênero narrativo.
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Caráter intimista e memorialístico.
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Forte emotividade.
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Elementos nostálgicos.
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Adjetivação e exclamação abundantes.
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Uso recorrente de anáfora e aliteração.
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Presença de parataxe e apóstrofe.
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Temáticas:
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infância;
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esperança;
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injustiça;
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opressão;
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cotidiano do subúrbio.
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Obras de Noémia de Sousa
Sangue negro é o único livro de Noémia de Sousa, publicado em 2001, pela Associação dos Escritores Moçambicanos. Entre os poemas constantes dessa publicação, merecem destaque:
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“Nossa voz”.
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“Súplica”.
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“Se me quiseres conhecer”.
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“Deixa passar o meu povo”.
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“Negra”.
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“Samba”.
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“O homem morreu na terra do algodão”.
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“Poema de João”.
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“Poema a Jorge Amado”.
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“Sangue Negro”.
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“Quero conhecer-te África”.
Poemas de Noémia de Sousa
No poema “Se me quiseres conhecer”, escrito em 1949, a voz poética diz para seu interlocutor — possivelmente, o(a) leitor(a) — o que ele deve fazer para conhecer e compreender o eu lírico, que se compara a um “pau preto” talhado e trabalhado por um irmão da etnia maconde.
A escultura é assim descrita — órbitas vazias de desespero, boca rasgada pela angústia, mãos grandes, corpo com feridas visíveis e invisíveis provocadas pela escravidão, torturada, altiva e mística —, de forma a confundir-se com a própria África, caracterizada pelos “gemidos dos negros no cais”, batuques, rebeldia, melancolia e esperança:
Se me quiseres conhecer,
estuda com os olhos bem de ver
esse pedaço de pau preto
que um desconhecido irmão maconde
de mãos inspiradas
talhou e trabalhou
em terras distantes lá do Norte.
Ah, essa sou eu:
órbitas vazias no desespero de possuir a vida,
boca rasgada em feridas de angústia,
mãos enormes, espalmadas,
erguendo-se em jeito de quem implora e ameaça,
corpo tatuado de feridas visíveis e invisíveis
pelos chicotes da escravatura…
Torturada e magnífica,
altiva e mística,
África da cabeça aos pés,
— ah, essa sou eu:
Se quiseres compreender-me
vem debruçar-te sobre minha alma de África,
nos gemidos dos negros no cais
nos batuques frenéticos dos muchopes
na rebeldia dos machanganas
na estranha melancolia se evolando
duma canção nativa, noite dentro…
E nada mais me perguntes,
se é que me queres conhecer…
Que não sou mais que um búzio de carne,
onde a revolta de África congelou
seu grito inchado de esperança.
Já no poema “Sangue Negro”, também de 1949, o eu lírico dirige-se à África, a qual ele chama de “minha Mãe”. E fala do período em que esteve afetivamente distante dela. O eu lírico feminino pede perdão à Mãe África por ter se mantido alheio e reconhece que, em sua alma, o seu sangue negro e africano “é mais forte que tudo”:
Ó minha África misteriosa e natural,
minha virgem violentada,
minha Mãe!
Como eu andava há tanto desterrada,
de ti alheada
distante e egocêntrica
por estas ruas da cidade!
engravidadas de estrangeiros
Minha Mãe, perdoa!
Como se eu pudesse viver assim,
desta maneira, eternamente,
ignorando a carícia fraternamente
morna do teu luar
(meu princípio e meu fim)…
Como se não existisse para além
dos cinemas e dos cafés, a ansiedade
dos teus horizontes estranhos, por desvendar…
Como se nos teus matos cacimbados
não cantassem em surdina a sua liberdade,
as aves mais belas, cujos nomes são mistérios ainda fechados!
[…]
À tua filha tresvairada,
abre-te e perdoa!
[…]