Niketche — uma história de poligamia: análise

Niketche — uma história de poligamia é a obra mais conhecida da escritora Paulina Chiziane e conta a história da narradora-personagem Rami, que se une às quatro amantes de seu marido, Tony, para formarem uma grande família. Desse modo, elas aceitam dividir o amor do mesmo homem.

O livro é marcado pelo fluxo de consciência da personagem Rami, que analisa seu lugar de mulher na sociedade moçambicana do período pós-guerra civil. Assim, Paulina Chiziane ocupa seu espaço na história da literatura de Moçambique e se torna uma das principais autoras africanas.

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Tópicos deste artigo

Resumo da obra Niketche — uma história de poligamia

  • Romance moçambicano do período pós-independência.

  • Sua autora é a escritora Paulina Chiziane.

  • Contexto histórico: pós-guerra civil moçambicana.

  • Discute as relações de poligamia na cultura africana.

  • Faz reflexões sobre a submissão feminina.

Análise da obra Niketche — uma história de poligamia


  • Personagens da obra Niketche — uma história de poligamia

  • Julieta: segunda mulher de Tony.

  • Levy: irmão de Tony.

  • Luísa: terceira mulher de Tony.

  • Maria: tia de Rami.

  • Mauá: quinta mulher de Tony.

  • Rami ou Rosa Maria: esposa de Tony.

  • Saly: quarta mulher de Tony.

  • Tony ou António Tomás: marido de Rami.

  • Vito: amante de Luísa e Rami.

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  • Tempo da obra Niketche — uma história de poligamia

O tempo da narrativa não é especificado. No entanto, fica claro que a ação ocorre em um momento posterior à guerra civil moçambicana, isto é, após o ano de 1992.


  • Espaço da obra Niketche — uma história de poligamia

As mulheres de Tony se originam de localidades moçambicanas como Matutuíne, Zambézia, Nampula e Cabo Delgado, mas a ação principal se passa no sul de Moçambique, na cidade de Maputo.

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  • Enredo da obra Niketche — uma história de poligamia

O romance é narrado em primeira pessoa pela personagem Rami e começa com um incidente, isto é, Betinho, seu filho caçula, quebra o vidro de um carro. O dono do automóvel fica muito bravo. Ela pede desculpas e promete que seu marido, Tony, que é comandante da polícia, vai resolver o problema.

A protagonista não consegue se conter, e as duas mulheres iniciam uma luta corporal. Rami leva a pior, fica toda machucada e, surpreendentemente, Julieta cuida dos ferimentos da outra. Elas conversam, e a narradora conhece a história de sua rival, que não vê Tony há sete meses. Assim, Rami se compadece da outra e, mais tarde, reflete:

Em algumas regiões do norte de Moçambique, o amor é feito de partilhas. Partilha-se mulher com o amigo, com o visitante nobre, com o irmão de circuncisão. Esposa é água que se serve ao caminhante, ao visitante. A relação de amor é uma pegada na areia do mar que as ondas apagam. Mas deixa marcas. Uma só família pode ser um mosaico de cores e raças de acordo com o tipo de visitas que a família tem, porque mulher é fertilidade. É por isso que em muitas regiões os filhos recebem o apelido da mãe. Na reprodução humana, só a mãe é certa. No sul, a situação é bem outra. Só se entrega a mulher ao irmão de sangue ou de circuncisão quando o homem é estéril.

Na sequência, Rami decide conhecer Luísa, a terceira mulher de Tony. Ao chegar à casa da outra, novamente se envolve em luta física. Acabam sendo presas e se tornam amigas. Então, Rami vai conhecer Saly, a quarta mulher de Tony. E, depois, a Mauá, a quinta mulher do marido. Diante disso, a narradora conclui:

O coração do meu Tony é uma constelação de cinco pontos. Um pentágono. Eu, Rami, sou a primeira dama, a rainha mãe. Depois vem a Julieta, a enganada, ocupando o posto de segunda dama. Segue-se a Luísa, a desejada, no lugar de terceira dama. A Saly a apetecida, é a quarta. Finalmente a Mauá Sualé, a amada, a caçulinha, recém-adquirida. O nosso lar é um polígono de seis pontos. É polígamo. Um hexágono amoroso.

A partir daí, Rami passa a refletir sobre a poligamia e os papéis sociais. Então, é convidada para uma festa de aniversário do filho da Luísa, conhece o amante da outra e acaba se relacionando sexualmente com ele. E as duas passam a dividir o mesmo amante, cujo nome é Vito.

Rami decide reunir todas as mulheres do marido para discutirem a situação delas. A narradora propõe que elas se unam. Assim, no aniversário de 50 anos de Tony, Rami convida as mulheres de seu esposo e os filhos que elas tiveram com ele. Tony fica surpreso, envergonhado, com raiva e acaba fugindo.

Então, elas decidem fazer uma “escala conjugal”, de forma que Tony passa a ficar uma semana em cada casa, mas ele acaba se envolvendo com outra mulher, e isso preocupa as outras cinco. E, ao perceber a liderança de Rami, Tony resolve se divorciar dela, por vingança, como punição.

Finalmente, Luísa abandona Tony, se casa com Vito e convida Rami para ser a “segunda esposa” dele. As mulheres restantes decidem, então, ocupar o lugar vago de Luísa com uma nova mulher para Tony, a Saluá. Mas Tony a rejeita e, em seguida, descobre que Rami vai ter um filho de Levy e, assim, a dança de amor (niketche) chega ao seu fim.


  • Características da obra Niketche — uma história de poligamia

Paulina Chiziane é uma autora da literatura moçambicana pós-independência. Em suas obras, incluída Niketche — uma história de poligamia, sobressai a voz feminina, que faz uma reflexão sobre a condição da mulher negra na sociedade moçambicana. Dessa forma, a narradora realiza uma crítica de costumes.

Dividido em 43 capítulos, o romance está centrado no fluxo de consciência da narradora-personagem, que analisa, com uma linguagem lírica, sua condição e a de outras mulheres vinculadas à tradição de uma sociedade patriarcal. Assim, mostra uma realidade feminina marcada pela submissão e enriquecida pela pluralidade cultural.

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Paulina Chiziane

Paulina Chiziane, em foto de Otávio de Souza, no ano de 2008. [2]

Paulina Chiziane nasceu em 4 de junho de 1955, na cidade de Manjacaze, em Moçambique. Seu pai era protestante e contrário à colonização portuguesa. Apesar disso, ela fez o primário em uma escola católica. Mais tarde, se formou na Escola Comercial de Maputo e iniciou estudos em linguística na Universidade Eduardo Mondlane.

Antes da independência de Moçambique, ocorrida em 1975, esteve envolvida com a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo). No período da guerra civil, trabalhou junto à Cruz Vermelha. Com a pacificação, em 1992, integrou o Núcleo das Associações Femininas da Zambézia (Nafeza). Ganhou o Prêmio José Craveirinha pelo romance Niketche — uma história de poligamia, publicado em 2002.

Contexto histórico de Niketche — uma história de poligamia

Após assinarem o Acordo Geral de Paz, em 1992, a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) continuou sendo uma força política de oposição ao governo da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo). Apesar do cessar-fogo, os conflitos entre os integrantes desses dois partidos continuaram, de forma a ameaçar a paz.

Créditos da imagem

[2] Wikimedia Commons (reprodução)

 

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