Modernismo é um estilo de época que caracterizou a maioria das obras literárias do século XX. Ele é marcado pela experimentação e oposição à arte acadêmica.
No Brasil, teve início em 1922, com a Semana de Arte Moderna. Essa primeira fase, a mais radical, conta com autores como Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Manuel Bandeira.
A segunda, iniciada em 1930, é composta por poetas como Carlos Drummond de Andrade e Cecília Meireles. Já a prosa dessa fase possui romancistas como Graciliano Ramos e Erico Verissimo. A terceira, iniciada em 1945, traz poemas de Ferreira Gullar e João Cabral de Melo Neto, a poesia concreta de autores como Haroldo de Campos e a prosa de Clarice Lispector e João Guimarães Rosa.
Tópicos deste artigo
Resumo sobre o modernismo
- O modernismo é caracterizado pela inovação e oposição aos valores estéticos tradicionais.
- Esse estilo de época vigorou durante algumas décadas do século XX, de forma que se desenvolveu em um contexto marcado por duas guerras mundiais.
- No Brasil, o modernismo surgiu no final da República Velha e se desenvolveu durante o Estado Novo, o governo de JK e a ditadura militar iniciada em 1964.
- No contexto brasileiro, o modernismo é dividido em três fases: a primeira (1922-1930), a segunda (1930-1945) e a terceira (1945-1978).
Videoaula sobre o modernismo
Principais características do modernismo
Na Europa, no início do século XX, surgiram vários movimentos artísticos caracterizados pela ruptura radical com a arte tradicional. As vanguardas europeias (cubismo, dadaísmo, futurismo, expressionismo e surrealismo) foram uma grande influência para o movimento modernista no mundo inteiro.
As obras modernistas apresentam caráter nacionalista e crítica sociopolítica. Os textos literários também experimentam estruturas não tradicionais, fragmentadas, além de valorizarem as linguagens regional e coloquial. Na poesia, predominam a liberdade formal e os versos livres.
Exemplos de obras do modernismo
- Dispersão (1914), de Mário de Sá-Carneiro
- A metamorfose (1915), de Franz Kafka
- Ulisses (1920), de James Joyce
- Macunaíma (1928), de Mário de Andrade
- Orlando (1928), de Virginia Woolf
- Admirável mundo novo (1932), de Aldous Huxley
- Mensagem (1934), de Fernando Pessoa
- 1984 (1949), de George Orwell
- O tempo e o vento (1949-1961), de Erico Verissimo
Contexto histórico do modernismo
No auge da expansão imperialista na Europa, a disputa entre as grandes potências levou à corrida armamentista e ao fortalecimento do sentimento de nacionalidade. Desse modo, teve início, em 1914, a Primeira Guerra Mundial. Mas, ao lado da destruição, havia também grandes descobertas científicas, além de inovações tecnológicas.
Com o fim da guerra, em 1918, o extremismo se fortaleceu, e movimentos nacionalistas de extrema direita, como o fascismo e o nazismo, conquistaram vários adeptos. Assim, em 1939, a Segunda Guerra Mundial trazia mais destruição à Europa. Logo depois de terminado esse conflito, em 1945, o mundo se dividiu entre países socialistas e capitalistas. Estava declarada a Guerra Fria.
No contexto brasileiro, a República Velha entrou em crise na década de 1920, com os movimentos tenentistas, mas também com o fortalecimento do movimento comunista. No ápice da crise, ocorreu, em 1929, a quebra da Bolsa de Nova Iorque, afetando seriamente a economia brasileira. No ano seguinte, Getúlio Vargas (1882-1954) subiu ao poder.
Todos esses fatos acabaram influenciando os autores modernistas nas diversas fases do movimento. Houve inovações, elementos nacionalistas, valorização da realidade concreta, além de temática sociopolítica. Desse modo, os artistas modernistas representaram o seu tempo, de forma crítica e original.
Modernismo em Portugal
A segunda fase é conhecida como presencismo (1927-1940). O nome vem da revista Presença, criada em 1927. Essa fase é caracterizada pelo antiacademicismo e pela inovação, mas é contrária a qualquer arte de cunho político ou social. Seus principais autores são: José Régio (1901-1969), João Gaspar Simões (1903-1987), Branquinho da Fonseca (1905-1974) e Miguel Torga (1907-1995).
Já a terceira fase, conhecida como neorrealismo (1939-1974), possui cunho antifascista e promove uma literatura comprometida com a crítica sociopolítica. Seus principais autores são: Ferreira de Castro (1898-1974), Soeiro Pereira Gomes (1909-1949) e Alves Redol (1911-1969).
Modernismo no Brasil
Primeira geração modernista
Em seu aspecto antiacadêmico, valoriza a liberdade de criação, os versos livres e a fragmentação. Possui caráter irônico, valoriza a linguagem coloquial e as características regionais. E conta com autores como Manuel Bandeira (1886-1968), Mário de Andrade e Oswald de Andrade (1890-1954).
Segunda geração modernista
Iniciada em 1930, perdurou durante toda a Era Vargas, ou seja, até 1945. A poesia é caracterizada por assuntos contemporâneos, temática sociopolítica e conflito existencial. No campo estrutural, os versos livres convivem com os regulares e brancos. São poetas dessa geração:
Já a prosa, conhecida como romance de 1930, possui caráter regionalista e realista. Os problemas sociais de regiões brasileiras são mostrados de forma crítica e, por vezes, determinista. Os enredos dinâmicos e a linguagem simples tornaram os romances do período muito populares. Seus principais autores são:
Terceira geração modernista
Também chamada de pós-modernista, essa geração teve início em 1945 e término em 1978. A poesia da geração de 1945 valoriza o rigor formal e se preocupa com a materialidade estrutural do poema, de forma a valorizar o ritmo e o espaço. Mas também apresenta temática social e política. Seus principais representantes são Ferreira Gullar (1930-2016) e João Cabral de Melo Neto (1920-1999).
Já a poesia concreta é marcada pelo experimentalismo estético e rompe com as características da poesia intimista. Ela valoriza o espaço da folha de papel e é construída por meio de uma perspectiva verbivocovisual (palavra, som e imagem). Os principais poetas concretistas brasileiros são: Augusto de Campos (1931-), Décio Pignatari (1927-2012) e Haroldo de Campos (1929-2003).
Exercícios resolvidos sobre modernismo
Questão 01
(Enem)
Camelôs
Abençoado seja o camelô dos brinquedos de tostão:
O que vende balõezinhos de cor
O macaquinho que trepa no coqueiro
O cachorrinho que bate com o rabo
Os homenzinhos que jogam boxe
A perereca verde que de repente dá um pulo que é
engraçado
E as canetinhas-tinteiro que jamais escreverão coisa
alguma.
Alegria das calçadas
Uns falam pelos cotovelos:
— “O cavalheiro chega em casa e diz: Meu filho, vai
buscar um
pedaço de banana para eu acender o charuto.
Naturalmente o menino pensará: Papai está malu…”
Outros, coitados, têm a língua atada.
Todos porém sabem mexer nos cordéis como o tino
Ingênuo de
demiurgos de inutilidades.
E ensinam no tumulto das ruas os mitos heroicos da
meninice…
E dão aos homens que passam preocupados ou tristes
uma lição de infância.
BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.
Uma das diretrizes do modernismo foi a percepção de elementos do cotidiano como matéria de inspiração poética. O poema de Manuel Bandeira exemplifica essa tendência e alcança expressividade porque
a) realiza um inventário dos elementos lúdicos tradicionais da criança brasileira.
b) promove uma reflexão sobre a realidade de pobreza dos centros urbanos.
c) traduz em linguagem lírica o mosaico de elementos de significação corriqueira.
d) introduz a interlocução como mecanismo de construção de uma poética nova.
e) constata a condição melancólica dos homens distantes da simplicidade infantil.
Resolução:
Alternativa C
O poema de Manuel Bandeira exemplifica a tendência de utilizar elementos do cotidiano como matéria de inspiração poética ao trazer para a linguagem lírica vários elementos de significação corriqueira, isto é, do cotidiano.
Questão 02
(Enem)
Texto I
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra
[…]
ANDRADE, C. D. Reunião. Rio de Janeiro: José Olympio, 1971 (fragmento).
Texto II
As lavadeiras de Mossoró, cada uma tem sua pedra no rio: cada pedra é herança de família, passando de mãe a filha, de filha a neta, como vão passando as águas no tempo […] A lavadeira e a pedra formam um ente especial, que se divide e se reúne ao sabor do trabalho. Se a mulher entoa uma canção, percebe-se que nova pedra a acompanha em surdina… […]
ANDRADE, C. D. Contos sem propósito. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, Caderno B, 17/7/1979 (fragmento).
Com base na leitura dos textos, é possível estabelecer uma relação entre forma e conteúdo da palavra “pedra”, por meio da qual se observa
a) o emprego, em ambos os textos, do sentido conotativo da palavra “pedra”.
b) a identidade de significação, já que nos dois textos, “pedra” significa empecilho.
c) a personificação de “pedra” que, em ambos os textos, adquire características animadas.
d) o predomínio, no primeiro texto, do sentido denotativo de “pedra” como matéria mineral sólida e dura.
e) a utilização, no segundo texto, do significado de “pedra” como dificuldade materializada por um objeto.
Resolução:
Alternativa A
Nos dois trechos do modernista Carlos Drummond de Andrade, há emprego conotativo da palavra “pedra”. No primeiro, ela pode ser vista como um empecilho. Já no segundo texto, ao dizer que “percebe-se que nova pedra a acompanha em surdina…”, o narrador sugere um sentido metafórico para “pedra”, que pode ter vários significados, como a ideia de renovação, por exemplo.
Questão 03
(UFPI)
A alternativa em que todas as características correspondem ao modernismo é:
a) concepção lúdica da arte, rigor formal.
b) moralismo, idealização da mulher.
c) verso livre, experimentalismo.
d) jogo antitético, culto da natureza
e) senso do mistério, liberdade formal.
Resolução:
Alternativa C
São características do modernismo: verso livre, experimentalismo e liberdade formal.