A mobilidade social é a mudança de posição dentro da estrutura hierárquica de uma sociedade. Esse conceito sociológico bem como a sociologia enquanto ciência foram desenvolvidos no seio da sociedade moderna industrial, complexificada numa expansão contínua de profissões e estratificada em classes sociais.
A mobilidade ascendente tem como principal caminho a ampliação do tempo de estudo formal, que permite a indivíduos oriundos de famílias pobres conseguirem profissões mais bem remuneradas que seus antepassados. A mobilidade descendente tem como principal caminho a perda de renda, é um processo típico de crises econômicas em que o empobrecimento leva famílias a migrarem para classes sociais com piores posições na pirâmide social.
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O que é mobilidade social?
Conforme a definição do sociólogo Anthony Giddens, mobilidade social é o “deslocamento de indivíduos e grupos entre posições socioeconômicas diferentes”. Esse movimento de indivíduos ou famílias dá-se dentro do sistema de classes sociais, estruturado conforme as categorias socioprofissionais.
A mobilidade social pode ocorrer entre indivíduos de uma mesma geração (intrageracional) ou entre indivíduos de gerações diferentes (intergeracional), pode ser ascendente, ou seja, ser uma mudança positiva de posição na hierarquia, ou ser descendente, produzir perda de posição e status. A possibilidade de mover-se na estrutura social reafirma os ideais da revolução burguesa: igualdade, fraternidade e liberdade.
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A estratificação social é estruturada com base em múltiplas variáveis. As principais são renda e ocupação, mas, como apontou Max Weber, além do fator econômico, o status (prestígio) e o poder (capacidade de influência) também compõem esse arranjo e contribuem na hierarquização das posições. Outros fatores que incidem no rendimento afetam a mobilidade social, tais como gênero, idade, etnia, escolaridade. A desigualdade é o grande empecilho para a mobilidade social. Conforme pesquisa de Wilkinson e Pickett (2009), quanto maior for a desigualdade social em um país, menor será a mobilidade social.
- desenvolver um modelo justo de arrecadação tributária que seja progressivo, incidindo sobre a renda, e não sobre a produção e o consumo;
- implementar políticas de ênfase social, ampliando o acesso à educação e aprendizagem ao longo da vida, e não somente nos primeiros anos, e à proteção social de trabalhadores num contexto de intensas mudanças tecnológicas.
Conforme esse relatório, as empresas que colocam um propósito definido acima do objetivo do lucro têm um melhor desempenho no longo prazo. Qualificar funcionários, pagar salários justos e combater disparidades salariais entre homens e mulheres contribuem para ambientes econômicos mais estáveis e maior confiança entre empreendedores e clientes, bases crescentes de consumidores.
O relatório conclui que a atualização das práticas empresariais e da atuação estatal é necessária para ampliar-se a mobilidade social e diminuir-se as desigualdades, promovendo um crescimento econômico sustentável e equitativo.
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Contexto histórico e mobilidade social
A sociedade feudal precedeu a sociedade moderna. No feudalismo medieval, as sociedades eram estamentais, isto é, estruturadas em estamentos:
Cada grupo tinha direitos e deveres específicos, sendo que os três primeiros gozavam de privilégios materiais e honrarias simbólicas de que o último não dispunha. Nessas sociedades, a mobilidade social era extremamente reduzida, para não dizer nula, ou seja, quem nascia nobre morreria nobre, quem nascia plebeu morreria plebeu.
A hierarquia social era considerada natural e fruto da vontade divina, portanto, imutável. Os reis concediam terras aos nobres, que, por sua vez, ofereciam trabalho no campo aos camponeses em troca de proteção e comida. O clero era a autoridade religiosa, o rei a autoridade política e a nobreza a autoridade militar.
Na Baixa Idade Média, ocorreram mudanças que prepararam as bases para a construção de uma nova estrutura de sociedade. O renascentismo, o humanismo, a descoberta de novas rotas marítimas, a intensificação do comércio e a utilização da moeda como valor de troca provocaram mudanças de mentalidade e comportamento, além de terem permitido o surgimento de um novo grupo social: a burguesia.
Essa era formada por comerciantes bem como por ex-servos que deixaram a vida campesina e foram para os burgos em busca de melhores condições de subsistência. Esse é o processo de mobilidade social que, entre outros fatores, criou condições para a emergência das sociedades modernas.
As sociedades modernas, que se desenvolveram com o capitalismo industrial e a formação dos Estados burocráticos, são estruturadas em estratos, isto é, classes sociais. Nelas a mudança de posição socioeconômica é possível. A hierarquia social existe e é rígida, porém, não é imutável.
A mudança de status dentro dessa estrutura definida dá-se principalmente pela ampliação do tempo de estudo, pela mudança profissional, pela modificação no padrão de renda. Essa mudança é possível, principalmente, quando há políticas governamentais que promovam essas oportunidades aos cidadãos.
Tipos de mobilidade social
Existem dois tipos de mobilidade social: horizontal e vertical.
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Mobilidade social horizontal
Implica mudança de ocupação sem que haja mudança de classe social, é como mudar de emprego e continuar na mesma faixa de renda. Também abrange a mudança de posição dentro de um grupo que confere autoridade e prestígio no campo simbólico, mas não muda a condição econômica.
Um exemplo disso ocorre em uma comunidade eclesial, em que os membros mais dedicados tornam-se auxiliares voluntários do líder religioso e, por isso, recebem uma honraria por meio de um título que os diferencia dos demais, como os diáconos nas comunidades cristãs.
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Mobilidade social vertical
A mobilidade social vertical pode ser classificada em ascendente e descendente. A mobilidade ascendente ocorre quando uma pessoa desloca-se para uma posição superior na pirâmide socioeconômica. Já a mobilidade descendente ocorre quando alguém perde posições e desloca-se para uma posição social inferior.
Fatores que influenciam a mobilidade social
O principal fator de mensuração da mobilidade social é a renda. A ampliação ou destituição de riqueza é o principal desencadeador da mudança de classe para cima ou para baixo. O segundo fator, atrelado ao primeiro, é a ocupação. Sociedades modernas são caracterizadas pela complexidade. Para Durkheim, quanto mais complexa uma sociedade é, mais funções de trabalho ela terá. O surgimento de novos ofícios no processo produtivo é uma constante nessas sociedades.
O terceiro fator que influencia a mobilidade social é a educação formal. Quanto maior a escolaridade, maior a chance de profissionalizar-se nas atividades de maior prestígio social e com melhores salários.
Mobilidade social no Brasil
O Brasil é o segundo país mais desigual do mundo. Quanto mais desigual é um país, menor é a sua mobilidade social, portanto, a mobilidade social no Brasil é baixa. Na sociologia brasileira, Celi Scalon é uma referência no estudo da mobilidade intergeracional e estratificação social no Brasil e como ela se distribui territorialmente (segregação espacial) e é justificada e reconhecida.
Um estudo, realizado nos anos 2000, que analisou a mobilidade no Brasil entre 1988 e 1996, sinalizou um pequeno crescimento da mobilidade intergeracional nesse período em razão, principalmente, da migração para áreas urbanas. Todavia, foi uma mobilidade de curta distância, isto é, não alterou o padrão de estratificação social do país, posto que o mercado de trabalho no Brasil é caracterizado por uma alta rigidez e as chances de progressão por meio da trajetória profissional são limitadas.
Os estratos ricos sustentaram sua posição ao longo do tempo, já para estratos assalariados houve uma piora nas carreiras profissionais e redução das possibilidades de progresso, especialmente para mulheres. A conclusão é que não houve mudança significativa nos padrões de mobilidade intra e intergeracional e na desigualdade no Brasil nesse período.
Conforme relatório do Fórum Econômico Mundial de 2020, num ranking de mobilidade social, entre 82 países, o Brasil está na 60ª posição. A nota do Brasil foi 52,1 numa escala de 0 a 100, sendo que o pior índice do país está na variável “distribuição justa de salários”. O Índice Global de Mobilidade Social considera fatores como:
- oportunidades de trabalho
- condições de trabalho
- distribuição justa de salários
- proteção social
- acesso à saúde e educação
- acesso à tecnologia e aprendizado ao longo da vida
- qualidade e equidade da educação
- instituições inclusivas
Esse relatório também mensura a mobilidade social ao calcular quantas gerações são necessárias para uma família de baixa renda atingir a renda média do país. Na Dinamarca, um dos países que lideram o ranking de mobilidade social, as famílias de baixa renda levam duas gerações para atingir a renda média. No Brasil, são nove gerações. O relatório aponta a má elaboração de políticas públicas como responsável pela permanência da desigualdade e da baixa mobilidade social.