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Tópicos deste artigo
Resumo sobre literatura de cordel
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A literatura de cordel é um tipo de literatura que possui narrativas em verso regular, com temática nordestina.
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Originalmente, os folhetos desse tipo de literatura eram expostos em cordéis (cordas finas), daí o nome “literatura de cordel”.
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Os textos da literatura de cordel apresentam cunho satírico e características regionais.
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A estrutura dos textos da literatura de cordel é marcada por rimas, métrica e oração (enredo).
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Alguns dos principais cordelistas são Patativa do Assaré, Silvino Pirauá Lima, José Camelo de Melo Resende e Antônio Ferreira da Cruz.
Videoaula sobre literatura de cordel
O que é literatura de cordel?
A literatura de cordel é uma literatura composta por narrativas impressas em livretos ou folhetos. As histórias desse tipo de literatura apresentam caráter popular e folclórico. Elas são escritas em forma de versos e possuem uma estrutura caracterizada pela rima, métrica e oração (enredo). Tais textos são uma produção cultural típica do Nordeste brasileiro.
Origem da literatura de cordel
O cordel é uma corda fina que, no passado, servia para prender os textos escritos pelos poetas populares do Nordeste. Desse modo, suas obras eram expostas para venda em praça pública. Daí a origem do nome “literatura de cordel”, dado pelo pesquisador francês Raymond Cantel (1914-1986).
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Quais são as características da literatura de cordel?
Exemplos de literatura de cordel
→ Desafio de Zé Duda, de Silvino Pirauá
O cordel Desafio de Zé Duda é da autoria de Silvino Pirauá e contém 16 páginas. Vamos ler alguns trechos:
Preste atenção, meu leitor
ao caso que vou contar
dum desafio intrincado
que custou em se acabar,
todos dois eram valentes
em saber desafiar.
[…]
Zé — Senhor Silvino é preciso
que uma pergunta lhe faça:
— Você mora no sertão
que anda fazendo na praça?
Terá vindo ao Recife
buscar a sua desgraça?
[…]
Z. — Me informaram que você
era exímio cantador,
que da arte que ora exerce
pretende ser professor
e que em ciência pratica
discute como um doutor.
[…]
S. — Muitas plantas botam flores,
e planta-se mais no jardim
o cravo, a rosa, a verbena
o crisântemo, o jasmim,
a violeta, a bonina,
a saudade e o alecrim.
[…]
Z. — Qual o metal que do ferro
está muito aproximado
por sua tenacidade
e que é muito apriciado,
do qual já tem a ciência
algum veneno tirado?
[…]
S. — Moram no mar os zoófitos,
são animais-vegetais,
destes conheço a esponja,
os pólipos e os corais,
tem bom sabor a cavala,
o charéu e outros mais.
[…]
→ História da máquina que faz o mundo rodar, de Antônio Ferreira da Cruz
Já História da máquina que faz o mundo rodar, de Antônio Ferreira da Cruz, possui 12 páginas. Vamos ler, a seguir, os seguintes fragmentos:
Morava na Paraíba
Lá nos confins do agreste
Um homem de pouca idade
Que tinha saber por peste
A ponto até de querer
Vencer o plano celeste.
[…]
Vendo que era impossível
Ao céu poder subir
Ficou com a pretensão
De tudo o mais descobrir
Começou andar no mundo
E até a ladrões perseguir.
[…]
No sonho ele fez a conta
Da soma que precisava,
Meteu-se a tirar dinheiro,
Até nas feiras andava,
Toda espécie de esmoler,
Na dita máquina jogava…
[…]
Quando um diz: ele não faz,
Já outro fica zangado
Dizendo: assim como Cristo
Morreu e foi ressuscitado
Ele também faz a máquina
E meu dinheiro é lucrado.
[…]
Depois que ele subiu
Ficou o povo olhando,
Cantando Serena Estrela,
E o tempo foi se passando,
Ainda hoje não voltou,
Mas, o povo está esperando…
[…]
Agora peço desculpas
Da minha publicidade,
Que a máquina mova o mundo
Não creio que seja verdade,
Afinal para o futuro,
Se verá a realidade!…
Principais cordelistas brasileiros
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Silvino Pirauá Lima (1848-1913)
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Leandro Gomes de Barros (1865-1918)
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João Melchíades Ferreira da Silva (1869-1933)
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Antônio Ferreira da Cruz (1876-1965)
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João Martins de Athayde (1880-1959)
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Francisco das Chagas Batista (1882-1930)
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José Camelo de Melo Resende (1885-1964)
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José Pacheco (1890-1954)
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João Ferreira de Lima (1902-1973)
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Severino Milanês da Silva (1906-1967)
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Patativa do Assaré (1909-2002)
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José Soares (1914-1981)
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Manuel d’Almeida Filho (1914-1995)
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Francisco Sales Arêda (1916-2005)
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Manuel Pereira Sobrinho (1918-1995)
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Rodolfo Coelho Cavalcante (1919-1987)
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Minelvino Francisco Silva (1926-1999)
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Raimundo Santa Helena (1926-2018)
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Expedito Sebastião da Silva (1928-1997)
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Manoel Monteiro da Silva (1937-2014)
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Gonçalo Ferreira da Silva (1937-2022)
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William José Gomes Pinto (1953-)
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Manoel de Santa Maria
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Severino Horta
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Joel do Carmo Ferreira
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João Batista Melo
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Val Tabosa
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Diosman Avelino
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Jailton Pereira
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Zé Guri
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Paulo Pereira
Fontes
FERREIRA, M. S. A rima na escola, o verso na história: um estudo sobre a criação poética e a afirmação étnico-social entre jovens de uma escola pública de São Paulo. 2010. 171 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. Disponível em:
MELO, J. R.; SILVA, A.; GALVÃO, A. M. O. O que dizem cordelistas sobre o gênero discursivo que produzem? Uma análise a partir de reflexões metalinguísticas sobre aspectos composicionais do cordel. Alfa, São Paulo, v. 64, 2020. Disponível em:
MELO, R. A. Do rapa ao registro: a literatura de cordel como patrimônio cultural do Brasil. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, n. 72, p. 245-261, 2019. Disponível em:
MENESES, U. T. B. A literatura de cordel como patrimônio cultural. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, n. 72, p. 225-244, 2019. Disponível em:
PIRAUÁ, S. Desafio de Zé Duda. Fundação Casa de Rui Barbosa, [s.d.]. Disponível em: