Intertextualidade: o que é, tipos, exemplos

A intertextualidade é a presença textual de elementos semânticos e/ou formais que se referem a outros textos produzidos anteriormente. Ela pode se manifestar de modo explícito, permitindo que o leitor identifique a presença de outros textos, ou de modo implícito, sendo identificada somente por quem já conhece a referência.

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O que é intertextualidade?

A intertextualidade se refere à presença de elementos formais ou semânticos de textos, já produzidos, em uma nova produção textual. Em outras palavras, refere-se aos textos que apresentam, integral ou parcialmente, partes semelhantes ou idênticas de outros textos produzidos anteriormente.

Essa intertextualidade pode ser indicada explicitamente no texto ou pode vir “disfarçada” pela linguagem do autor. Em todo caso, para que o sentido da relação estabelecida seja compreendido, o leitor precisa identificar as marcas intertextuais e, em alguns casos, conhecer e compreender o texto anterior.

Em trabalhos científicos, como artigos e dissertações, é comum haver citação de ideias ou informações de outros textos. A citação pode ser direta, cópia integral do trecho necessário, ou indireta, quando se explica a informação desejada com suas próprias palavras. As duas formas compreendem a intertextualidade, pois aproveitam ideias já produzidas para contribuir com as novas informações.

A intertextualidade também pode ocorrer no nível formal, quando o autor repete elementos da estrutura anterior, mas altera outros aspectos, construindo, com isso, um novo texto, com ligações explícitas com a produção anterior. É muito comum nos gêneros artísticos, como poesia e música, em textos publicitários etc.

Tipos de intertextualidade

A intertextualidade também ocorre com textos visuais, como nesta releitura de “A Última Santa Ceia”.

  • Alusão – é o ato de indicar ou insinuar um texto anterior sem, no entanto, aprofundar-se nele. Esse método de intertextualidade apresenta de forma superficial e objetiva informações, ideias ou outros dados presentes em texto ou textos anteriores.

Exemplo: Como diria o poeta, amanhã é outro dia.

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  • Paródia – é o tipo de intertextualidade em que se apresenta uma estrutura semelhante à de um texto anterior, mas com mudanças que interferem e/ou subvertem o sentido do texto, o qual passa a apresentar forte teor crítico, cômico e/ou sátiro. Desse modo, além de construir-se um novo texto, com semelhanças a um anterior, procura-se também evidenciar uma mudança de sentido.

Exemplo:

“Minha terra tem macieiras da Califórnia

onde cantam gaturanos de Veneza.

Os poetas da minha terra

são pretos que vivem em torres de ametista,

os sargentos do exército são monistas, cubistas,

os filósofos são polacos vendendo a prestações.

A gente não pode dormir

com os oradores e os pernilongos.

Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda

Eu morro sufocado

em terra estrangeira.

Nossas flores são mais bonitas

nossas frutas mais gostosas

mas custam cem mil réis a dúzia.

Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade

e ouvir um sabiá com certidão de idade!”

Murilo Mendes

Paródia da “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias

  • Paráfrase – é o processo de intertextualidade no qual o sentido do texto original é reafirmado, porém com pouca ou nenhuma semelhança estrutural. Nesse tipo, o intuito é reescrever o assunto do texto original, aproveitando principalmente os elementos semânticos já existentes, para produzir uma nova linguagem com o mesmo tema.

Exemplo:

“Meus olhos brasileiros se fecham saudosos

Minha boca procura a ‘Canção do Exílio’.

Como era mesmo a ‘Canção do Exílio’?

Eu tão esquecido de minha terra…

Ai terra que tem palmeiras

Onde canta o sabiá!”

Carlos Drummond de Andrade

Paráfrase da “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias

  • Epígrafe – é a reprodução de um pequeno trecho do texto original no início de um novo texto. Ela, comumente, vem alocada no início da página, no canto direito e em itálico. Apesar de ser um trecho “solto”, a epígrafe sempre tem uma relação com o conteúdo do novo texto.

“Apesar de você

amanhã há de ser

outro dia.”

Chico Buarque

  • Citação – é quando o autor referencia outro texto por ter pertinência e relevância com o conteúdo do novo texto. A citação pode ocorrer de forma direta, quando se copia o trecho na íntegra e o destaca entre aspas, ou pode ser indireta, quando se afirma o que o autor do texto original disse, mas explicando os conceitos com novas palavras, relacionando a abordagem com o novo conteúdo.

Exemplo:

Segundo Sócrates, “Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância”, logo, de nada adianta ter acúmulo de informações, quando não se aplica a autocrítica e a reflexão como ferramentas de reconhecimento das potências e limites do nosso conhecimento.

Diferenças entre intertextualidade implícita e intertextualidade explícita

A intertextualidade pode se expressar de dois modos: implícito ou explícito. O modo implícito enquadra as produções que, apesar de referenciarem informações, conceitos e dados já apresentados por textos anteriores, não o farão com cópias integrais nem com indicação explícita.

Assim como a paráfrase de Drummond, a intertextualidade implícita cita sem evidenciar ou anunciar. Caso o leitor não conheça o texto anterior, pode encontrar dificuldades de perceber alguma relação estabelecida.

Já a intertextualidade explícita é aquela que se expressa diretamente na superfície textual, ou seja, apresenta semelhanças ou cópia de trechos do texto original. Nesse processo, mesmo que o autor não conheça o primeiro texto, ele identificará, ao menos, que existe uma referência a outra produção.

Exemplos de intertextualidade

A intertextualidade é presente em diferentes gêneros textuais, mas tem um espaço privilegiado nos gêneros artísticos. Nesses contextos, ela é utilizada, também, como ferramenta de inspiração e criatividade, pois provoca uma ressignificação de textos já conhecidos, em novos contextos. Segue alguns exemplos de intertextualidade em gêneros textuais artísticos:

“De Jackson do Pandeiro, nem Cremilda

De Michael Jackson, nem a Billie Jean

De Jimi Hendrix, nem a doce Angel

Nem Ângela nem Lígia, de Jobim

Nem Lia, Lily Braun nem Beatriz

Das doze deusas de Edu e Chico

Até das trinta Leilas de Donato

E de Layla, de Clapton, eu abdico

Só você,

Canto e toco só você

Só você

Que nem você ninguém mais pode haver”

(Lenine)

A música do cantor brasileiro Lenine apresenta uma declaração de amor do eu lírico à sua musa inspiradora. Na letra, o poeta faz referência a diferentes musas, já reconhecidas socialmente, que são inspirações de outros, mas não dele, pois a sua única musa é sua amada, verdade confirmada em  “só você”, contrapondo-se à enumeração de musas referenciadas.

“Minha terra tem palmares

onde gorjeia o mar

Os passarinhos daqui

Não cantam como os de lá

Minha terra tem mais rosas

E quase que mais amores

Minha terra tem mais ouro

Minha terra tem mais terra”

(Oswald de Andrade)

No segundo exemplo, poema de Oswald de Andrade, encontramos a intertextualidade com o poema “Canção do Exílio”, publicado anteriormente pelo poeta Gonçalves Dias. O segundo texto apresenta elementos que evidenciam essa relação, como a repetição de expressões como “Minha terra”,   “palmares”, “gorjeia”, “daqui”, “lá”.

A Mona Lisa é um dos textos que mais apresenta releituras, exemplificando a relação de pontos de intertextualidade com a obra original. Nas duas imagens anteriores, é possível reconhecer a referência ao quadro de Leonardo da Vinci — a posição das mãos, a paleta de cores, o cabelo, a posição do corpo, entre outros detalhes. Percebe-se que, mesmo com tantas semelhanças, os dois textos apresentam novos sentidos para a imagem, cada um com sua assinatura específica.

 

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