Cultura erudita: o que é, como surgiu, exemplos

A cultura erudita é uma forma de produção artística feita das elites dominantes para as elites dominantes. Note-se que elite dominante aqui se refere à questão financeira e intelectual. Na tradição artística ocidental, o centro de origem da produção cultural de elite deu-se na Europa. Os colonizadores trouxeram para os territórios apropriados a sua cultura hegemônica e forçaram os povos nativos a aderirem-na.

Como parte desse movimento, a cultura erudita chegou às Américas e à África como uma forma de produção cultural supostamente superior, por ser fruto de uma técnica artística esteticamente mais elaborada. No entanto, essa visão pode causar o preconceito cultural e reduzir o valor estético da cultura popular.

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Como surgiu a cultura erudita?

A cultura é um fenômeno comum a qualquer agrupamento humano. Em qualquer lugar do mundo em que seres humanos vivam em conjunto, eles criam cultura. A cultura é definida como um conjunto de tradições, hábitos, linguagem, arte, idioma, religião e todos os outros elementos que constituem a identidade de um povo. No caso específico, ao falarmos de cultura erudita, falamos apenas de elementos estéticos e artísticos produzidos por uma certa tradição.

A música clássica faz parte da cultura erudita e traz consigo ilustres compositores cuja fama atinge os mais diversos contextos sociais.

Na Europa no século XVIII e XIX, a cultura erudita poderia ser caracterizada como aquela que faz referência aos clássicos da Grécia e Roma antigas. O período clássico da Antiguidade europeia era fortemente caracterizado pela valorização da forma e da linearidade nas produções artísticas que fossem textuais, teatrais, musicais ou plásticas (pintura e escultura clássica). Tudo aquilo que resgatava a linearidade e as formas perfeitas clássicas era considerado erudito.

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Curiosamente, as produções dos movimentos barroco e romantismo (hoje consideradas eruditas do ponto de vista de uma pessoa de nosso tempo) não entravam nessa definição de cultura erudita imperiosa nos séculos XVIII e XIX. Podemos atribuir a esse fenômeno duas explicações:

  1. O barroco e o romantismo não valorizam a perfeição da forma. O barroco, em especial, é diretamente contrário à linearidade total, sendo um movimento estético que produziu elementos demasiadamente irregulares e, às vezes, até desformes.

  2. A cultura erudita da época desconsiderava aquilo que era novo, moderno. Essa característica ainda perdura em certas definições de erudição contemporâneas.

Saindo do contexto europeu e entrando nas sociedades ocidentais formadas por invasores colonos (Américas e África), podemos notar outro sentido para a definição de cultura erudita: aquilo que é produzido pela elite intelectual europeia. A moda, a literatura, a música, a pintura e o teatro brasileiros do século XIX somente eram reconhecidos pelas elites financeiras daqui se fossem produzidos pelas elites intelectuais europeias, em especial a França.

A “Monalisa” é uma representante da pintura erudita que já foi reproduzida diversas vezes em produtos culturais populares e massivos.

Aqui surgiu um dos maiores músicos eruditos, reconhecido no mundo todo como um grande compositor brasileiro, o maestro Heitor Villa-Lobos. Também tivemos o privilégio de conhecer a música de Chiquinha Gonzaga, que, apesar da tradicional formação musical erudita, deixou-nos um imenso repertório de sambas e choros (ritmos musicais que surgiram no Brasil), sendo que o choro foi uma adaptação brasileira da música europeia com a mistura de ritmos africanos, como o Lundu.

Na primeira metade do século XX, ainda havia uma intensa recusa de aceitação do jazz nos Estados Unidos e na Europa pelos intelectuais eruditos. Theodor Adorno, um dos filósofos da Escola de Frankfurt, considerava o jazz fruto da cultura massificada. O samba e o choro, como ritmos populares, também sofreram rejeição das elites intelectuais e artísticas até a primeira metade do século XX no Brasil.

Hoje, samba, choro e jazz são ritmos apreciados pelas elites intelectuais, fazendo notar que o conceito atual de cultura erudita é composto por dois fatores: a qualidade técnica (que samba, jazz e choro possuem de sobra); e a distância histórica, pois esses ritmos somente passaram a ser apreciados pelas elites após certo tempo de seu surgimento.

No início, eram músicas marginais, produzidas por pessoas pobres e, com exceção do choro, por negros. No entanto, apesar de uma erudição desses ritmos a ponto de considerarmos eruditos quem os ouve e estuda, não podemos chamá-los de música erudita, pois essa ainda é aquela produzida, no formato europeu, por uma orquestra, um conjunto de cordas, um coral ou uma ópera (na forma de música teatral).

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Cultura erudita, cultura popular e cultura de massa

A cultura erudita pode ser mais facilmente identificada quando colocada ao lado das outras formas de cultura: a cultura popular e a cultura de massa. Aquela é produzida pela elite e é feita para a elite.

Ela é resultado de técnicas artísticas mais elaboradas, requisitando um maior refinamento do gosto estético para que o espectador aceite essa forma cultural. No entanto, essa visão pode ser extremamente excludente e elitista se considerar-se como refinamento estético apenas aquilo que aceita o padrão europeu de cultura. A distinção da cultura erudita surgiu na Europa para marcar a fronteira que a separa da cultura popular.

A cultura popular é a cultura tradicional dos povos, sendo considerada pelos intelectuais europeus do século XVIII mais primitiva e intuitiva. Ela recorre às formas de fazer artístico mais brutas e instintivas, não tendo, na maioria das vezes, um grande desenvolvimento técnico.

No entanto, a cultura popular é aquela que revela as potencialidades e as raízes de um povo, atuando como elemento que distingue as características identitárias de uma população. Dentro da cultura popular podem entrar a literatura, a culinária, as músicas, as festas populares, a religiosidade, a culinária e vários outros elementos culturais.

No Brasil, podemos pegar como exemplos de cultura popular a literatura de cordel; a música sertaneja de raiz; o samba; o maracatu; as festas populares, como o frevo, o Círio de Nazaré, o Festival de Parintins e a Folia de Reis; as cantigas; a mitologia indígena; e tantas outras expressões artísticas e culturais produzidas por nosso povo.

Muitas vezes as pessoas confundem cultura popular com cultura de massa. A cultura de massa, elemento produzido pelo capitalismo, tem como objetivo único o lucro. Ela colhe elementos da cultura erudita e da cultura popular que podem agradar ao consumidor e mistura-os em uma fórmula que visa a difusão massiva para a geração de lucros. É a cultura de massa que atinge, hoje, a maioria das pessoas, criando uma espécie de mercado cultural que não se preocupa com a qualidade de seus produtos, mas sim com o alcance massivo de suas produções e com o lucro.

As técnicas de reprodução dos elementos culturais (gravações e reprodução, no caso da música e do cinema, e estampas, no caso das artes plásticas) permitem que um elemento desse tipo de cultura seja reproduzido milhões de vezes, não necessitando mais uma criação autêntica para cada unidade do elemento cultural, ou seja, tudo se reduz ao ato de copiar.

Exemplos de cultura erudita

Compositores como Ludwig van Bethoven, Antonio Vivaldi, Johan Sebastian Bach e Heitor Villa-Lobos são exemplos de musicistas que entraram no leque de compositores eruditos clássicos. Temos também compositores eruditos contemporâneos, que fogem totalmente do formalismo dos eruditos clássicos buscando sonoridades assimétricas e atonais, como Arnold Schoenberg, Edgard Varése e Pierre Boulez e Karlheinz Stockhausen, sendo que este misturou elementos eletrônicos com os instrumentos acústicos, sendo considerado um dos pioneiros da música eletrônica. Também temos compositores contemporâneos que mantiveram o viés formal da música clássica, como o brasileiro Villa-Lobos e o britânico Benjamin Britten.

Mozart é um exemplo de cultura erudita no ramo da música.

Grandes compositores de óperas também tomaram o cenário europeu da música e do teatro eruditos. Podemos destacar como nomes célebres o alemão Richard Wagner (que compôs a versão em ópera de Tristão e Isolda), o francês George Bizet (que compôs a ópera Carmen) e o alemão Mozart (que compôs a célebre ópera As bodas de Fígaro).

Podemos tomar como exemplos da literatura erudita os escritores clássicos. Temos, por exemplo, o russo Fiódor Dostoievski, que escreveu diversos romances psicológicos, entre eles Crime e castigo e Os irmãos Karamazov; temos o francês Alexandre Dumas, que escreveu O conde de Monte Cristo; temos o brasileiro Machado de Assis, que escreveu Memórias póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro, entre outros tantos autores.

 

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