Comando Vermelho: símbolo, chefe, função, rival

O Comando Vermelho (CV), uma das maiores e mais antigas organizações criminosas do Brasil, foi criado em 1979 no presídio de Ilha Grande, no Rio de Janeiro. Inicialmente, o grupo surgiu como um movimento de presos comuns e políticos que buscavam melhorias nas condições carcerárias. Com o tempo, após a transferência dos presos políticos, o foco da organização se voltou para atividades ilícitas, principalmente o tráfico de drogas.

O CV é conhecido por sua estrutura menos hierárquica, composta por “donos do morro” que comandam territórios específicos e se aliam para fortalecer o grupo e reprimir tentativas de golpe de estado por parte de subordinados.

Atualmente, o Comando Vermelho exerce influência significativa no Rio de Janeiro. A facção também atua em pelo menos 13 estados e no Distrito Federal. O CV mantém disputas com outras organizações criminosas, como o Primeiro Comando da Capital (PCC), pelo controle do tráfico de drogas e territórios. Apesar de sua presença em várias regiões, o CV nunca alcançou o monopólio do crime no Rio, enfrentando desafios de rivais como o Terceiro Comando e a Amigos dos Amigos (ADA).

Resumo sobre Comando Vermelho

  • O Comando Vermelho (CV) é uma organização criminosa que atua no Brasil.
  • Surgiu em 1979 no presídio Cândido Mendes, na Ilha Grande, Rio de Janeiro.
  • O CV possui uma estrutura menos hierárquica, com lideranças locais conhecidas como “donos do morro”.
  • No Rio de Janeiro, o CV controla aproximadamente 24,2% dos bairros, afetando a vida de 18,2% da população da capital.
  • O CV mantém conflitos com outras facções e milícias pelo controle de territórios e rotas de tráfico.
  • A presença e as atividades do CV têm um impacto profundo na segurança pública e na vida social das regiões onde atua.
  • O combate ao CV e outras facções criminosas é um desafio constante para o Estado e os governos.
  • O que é o Comando Vermelho?

    O Comando Vermelho (CV) é a mais poderosa facção criminosa do Rio de Janeiro, e também a mais antiga do Brasil. Ele nasceu nas décadas de 1970 e 1980, dentro do sistema prisional do Rio de Janeiro, como um grupo de autoproteção para os presos.

    Inicialmente, formado por criminosos comuns e militantes políticos que lutavam contra as condições desumanas nas prisões durante a Ditadura Militar, o CV evoluiu para uma organização criminosa complexa, poderosa e violenta, com influência significativa dentro e fora dos presídios brasileiros.

    O Comando Vermelho domina vastas áreas nas zonas Sul e Norte do Rio de Janeiro – como a Rocinha, o Complexo do Alemão e a Cidade de Deus –, além de ter ramificações por dezenas de estados brasileiros. Só no Rio de Janeiro, 2 milhões de pessoas vivem sob o domínio e as regras do Comando Vermelho.

    Função do Comando Vermelho

    Em muitas favelas sob o seu controle, o Comando Vermelho implementou sistemas paralelos de governança, oferecendo proteção e serviços básicos aos moradores, em troca de lealdade e apoio. Essa estratégia perspicaz, que só é possível nas áreas mais marginalizadas das cidades, onde o Estado muitas vezes está ausente ou é ineficaz, ajudou a consolidar o poder do CV ainda mais.  

    Quais são os símbolos do Comando Vermelho?

    Os símbolos são utilizados pelo Comando Vermelho para identificar seus membros, marcar territórios e demonstrar lealdade à organização, refletindo sua história, ideologia e poder dentro do mundo do crime organizado no Brasil.

  • Sigla “CV”: frequentemente utilizada como uma forma abreviada para se referir ao Comando Vermelho em grafites, mensagens e comunicações internas da facção.
  • Foice e o martelo: símbolo mais antigo associado ao Comando Vermelho, que representa as origens comunistas da facção e sua ligação histórica com ideais revolucionários.
  • Cor vermelha: é um símbolo marcante da facção, representando não apenas seu nome, mas também sua identidade e unidade como organização criminosa.
  • Estrutura do Comando Vermelho

    A estrutura do Comando Vermelho segue uma hierarquia menos rígida do que outras organizações criminosas. Ela é composta por “donos do morro”, que são os chefes do tráfico em determinadas regiões, e não há um líder único na estrutura do Comando Vermelho, mas sim várias lideranças que comandam territórios e se aliam entre si. Cada comunidade dominada pelo CV tem seu próprio “dono do morro”, expressão usada para designar os chefes de cada região. 

    Embora não haja uma autoridade única acima desses chefes locais, existem líderes com mais influência dependendo do território sob seu controle. Dentro de cada comunidade, abaixo do “dono do morro” na hierarquia, está o “frente”, ou o responsável do morro, os “gerentes” de cada ponto de venda de drogas e, na base, os “soldados” e “vapores”. A estrutura do Comando Vermelho não possui a forma de uma pirâmide em nível nacional, mas sim a de uma enorme rede com pontos espalhados pelo território.

    Quem é o chefe do Comando Vermelho?

    O chefe do Comando Vermelho é desconhecido, talvez porque o Comando Vermelho não possua uma hierarquia nacional unificada com um único líder. Em vez disso, é composto por um conjunto de lideranças que comandam territórios e que se aliam entre si, formando uma rede de influência e poder que se estende por várias regiões do país.

    É o que afirma Carolina Grillo, pesquisadora do Geni-UFF. Segundo ela, que se dedica ao estudo dos grupos armados, o Comando Vermelho não é uma organização que possui um chefe. O dono do tráfico em uma favela pequena tem menos influência em decisões coletivas do que donos em favelas grandes ou de várias favelas.

    Entretanto, eles precisam formar alianças com outros donos de morro, inclusive para se fortalecer mutuamente e juntos reprimir as tentativas de tomada do poder por parte de seus subordinados.

    → Líderes mais influentes do Comando Vermelho

    Embora não haja uma autoridade acima desses chefes locais, existem líderes com mais influência dependendo do território sob seu controle, entre eles estão:

  • Wilton Carlos Quintanilha, o Abelha, que foi solto recentemente e deixou a prisão caminhando pelas ruas do Rio de Janeiro;
  • Clemilson dos Santos Farias, o Tio Patinhas, que atua no Amazonas e foi preso dentro de uma igreja enquanto participava de um culto;
  • Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, e Fernandinho Beira-Mar, os quais estão presos em penitenciárias federais.
  • Alguns dos nomes de lideranças conhecidas do Comando Vermelho e que, até o fechamento deste artigo, estão em liberdade incluem John Wallace Viana (Johnny Bravo) na Rocinha e Luciano Martiniano da Silva (Pezão) no Complexo do Alemão.

    Atuação do Comando Vermelho no Brasil

    O Comando Vermelho atua de forma intensa em várias partes do Brasil, especialmente no Rio de Janeiro, onde disputa territórios com a milícia e com o Terceiro Comando Puro.

    O CV atua em pelo menos 13 estados e no Distrito Federal, marcando sua presença além do Rio de Janeiro. Essa expansão reflete a capacidade da organização de estender suas operações para além de suas bases tradicionais, envolvendo-se em atividades criminosas variadas, incluindo o tráfico de drogas, de armas e a exploração de rotas internacionais de narcotráfico.

    A facção está envolvida em disputas por territórios em 11 estados e no Distrito Federal, principalmente com o Primeiro Comando da Capital (PCC), sua principal rival. Essas disputas frequentemente resultam em conflitos violentos, afetando a segurança pública e elevando os índices de homicídios nas regiões afetadas.

    No Acre, o CV assumiu o controle do crime organizado, deslocando o PCC e recrutando mão de obra peruana para suas operações. A região se tornou estratégica para a facção devido à sua proximidade com países produtores de cocaína, como Peru e Bolívia. A violência aumentou significativamente no estado, com o Acre registrando um dos maiores índices de homicídios do país entre 2015 e 2017.

    A atuação do CV e suas disputas com outras facções têm um impacto profundo na segurança pública e na vida social das regiões onde atua. A violência associada às atividades da facção contribui para altos índices de homicídios e instabilidade, desafiando as autoridades a desenvolverem estratégias eficazes de combate ao crime organizado.

    Rivalidade entre Comando Vermelho e PCC

    A rivalidade entre o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC) é uma das mais intensas e duradouras no cenário do crime organizado no Brasil. A disputa entre essas duas facções criminosas se intensificou ao longo dos anos, especialmente nas últimas décadas, devido a diversos fatores.

    O Primeiro Comando da Capital, originário de São Paulo, e o CV, oriundo do Rio de Janeiro, hoje travam uma rivalidade de caráter nacional que se estende por várias regiões do país, sobretudo nas fronteiras. A disputa pelo controle do tráfico de drogas, territórios e o batismo dos novos presidiários tem sido um dos principais motivos desse conflito.

    O PCC atua em 13 estados sem a presença do CV, enquanto o CV disputa poder com o PCC em 11 estados e no Distrito Federal. O Comando Vermelho só atua em dois estados sem a presença do seu maior rival: Mato Grosso e Rio de Janeiro.

    A rivalidade entre essas facções se acirrou na última década, com episódios de violência extrema. A partir de 2016, após a morte de Jorge Rafaat Toumani, que controlava as rotas do tráfico entre Brasil e Paraguai, houve o aumento da animosidade entre as duas facções. O PCC assumiu a lacuna deixada pelo narcotraficante na fronteira, acirrando ainda mais a disputa por territórios com o CV, que, por sua vez, passou a se aliar a facções locais para enfrentar a organização paulista.

    Em decorrência dessa disputa, aconteceram massacres em presídios e confrontos armados. Um dos momentos mais marcantes desse conflito foi o massacre de 56 presos em Manaus em 2017, seguido por retaliações que resultaram em mais mortes. Além disso, a disputa entre o PCC e o CV também envolve questões estratégicas, como o controle das fronteiras para o envio de drogas via rotas marítimas e alianças regionais que ampliam a complexidade desse conflito.

    Em resumo, a rivalidade entre o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital é marcada por confrontos sangrentos, disputas territoriais e controle do tráfico de drogas, refletindo não apenas uma luta pelo poder entre as facções, mas também questões sociais e econômicas profundas que permeiam o cenário criminal no Brasil.

    A dificuldade em derrotar o PCC está relacionada à sua estrutura organizacional sólida e à capacidade de governança interna da facção. Juntos, Comando Vermelho e PCC formam as forças mais poderosas no cenário do crime organizado brasileiro.

    Comando Vermelho na cultura popular

    O Comando Vermelho (CV) tem uma representatividade marcante na cultura popular brasileira, refletindo-se em diversas formas de expressão artística, como música, literatura, cinema e arte urbana. Essa presença é fruto tanto da história e do impacto social da facção quanto da maneira como a sociedade e os artistas interpretam e reagem às suas ações e ao contexto em que estão inseridos.

    Na música, o funk proibidão e o trap são alguns dos gêneros que mais evidenciam a influência do CV, com letras que muitas vezes narram o cotidiano das comunidades controladas pela facção, exaltam membros ou a própria organização.

    Exemplos incluem o MC Oruam, que é filho do Marcinho VP, uma liderança do CV, e muitos outros que podem ser achados em plataformas de música. Essas músicas, apesar de controversas, são uma forma de expressão cultural que reflete a realidade vivida por muitos nas periferias e favelas do Rio de Janeiro.

    Na literatura, obras como “400 x 1 – Uma História do Comando Vermelho”, de William da Silva Lima, um dos fundadores da facção, oferecem uma perspectiva interna sobre a origem e evolução do CV. Esse livro, além de outros trabalhos de autores como Carlos Amorim, que detalha a história dos chefões do Comando Vermelho, contribui para a compreensão da complexidade e das contradições presentes na trajetória da organização criminosa.

    O cinema também se debruçou sobre o tema, com filmes como “400 Contra 1 – Uma História do Crime Organizado”, dirigido por Caco Souza, que retrata a formação da facção dentro do sistema prisional brasileiro. Essas produções cinematográficas buscam explorar as nuances humanas e sociais por trás da criminalidade, oferecendo ao público uma visão mais aprofundada sobre as causas e consequências da violência urbana.

    A arte urbana, embora de maneira mais sutil e indireta, também reflete a presença do Comando Vermelho nas comunidades. Grafites, pichações e murais em áreas dominadas pela facção podem tanto exaltar seus líderes quanto criticar a violência e a falta de oportunidades que levam os jovens à criminalidade. Essa forma de expressão artística é um termômetro das tensões e dos sentimentos que permeiam o cotidiano dessas regiões.

    Origem e história do Comando Vermelho

    A história do Comando Vermelho remonta ao presídio Cândido Mendes, na Ilha Grande, onde presos políticos e comuns compartilhavam o mesmo espaço, criando uma aliança inusitada. Num contexto marcado por adversidades e pela necessidade de sobrevivência, essa união levou à formação de uma estrutura organizada que promoveu a solidariedade entre os detentos. Com o tempo, essa aliança se transformou na Falange Vermelha, que mais tarde seria batizada como Comando Vermelho.

    O Comando Vermelho se envolvia em atividades criminosas, como assaltos a bancos e sequestros, para financiar as suas operações e melhorar as condições de vida dos presos. Com o fim da ditadura e a saída dos presos políticos, o CV viu no tráfico de drogas uma oportunidade de crescer e se estabelecer como uma potência no cenário do crime organizado.

    O CV conquistou territórios e consolidou o seu poder ao longo dos anos, estendendo sua influência para além das prisões e assumindo o controle de várias favelas no Rio de Janeiro. A organização criou uma rede de distribuição principalmente de drogas e armas, estabelecendo seu poder e influência nos anos 1980.

    A partir dos anos 1990, o Comando Vermelho expandiu suas operações para outros estados brasileiros e até mesmo para países vizinhos, expandindo o mercado para os seus produtos ilícitos. A facção também se envolveu em violentos confrontos com grupos rivais, como o Terceiro Comando e a Amigos dos Amigos (ADA), no Rio de Janeiro, e com Primeiro Comando da Capital (PCC), em vários estados do país.

    Além disso, o CV está em guerra constante contra as forças de segurança. Todas essas disputas e rivalidades por territórios e dinheiro, é bom lembrar, resultaram em episódios violentos ao longo dos anos e na morte de muitas pessoas inocentes. Atualmente, embora não detenha mais o monopólio do crime no Rio de Janeiro, o Comando Vermelho ainda mantém uma presença significativa em várias regiões do país.

    A evolução do Comando Vermelho, de um grupo de autoproteção prisional para uma das maiores e mais temidas organizações criminosas do Brasil, é um testemunho da sua capacidade de adaptação e sobrevivência em um ambiente hostil e em constante mudança. A sua história é um reflexo das complexidades sociais, econômicas e políticas do país.

    Enquanto o CV continua a operar, lucrando milhões e dividindo os seus ganhos com parte do sistema, os políticos e as demais autoridades continuam a debater quais estratégias adotar para enfrentar o crime organizado. Será que diminuir os índices das nossas profundas desigualdades sociais ajudaria nessa missão?

    Fontes

    DORTIER, Jean-François (dir.). Dicionário de ciências humanas. São Paulo: Martins Fontes, 2010.

    FORACCHI, Marialice M. Sociologia e sociedade: leituras de introdução à sociologia. Rio de Janeiro: LTC-Livros Técnicos e Científicos, 2000.

    JOHNSON, Allan G. Dicionário de sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.

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