A ciência política, uma das áreas das ciências sociais, é responsável por estudar as estruturas políticas dos agrupamentos humanos, tentando entender como estão organizadas as estruturas de poder. Assim, essa ciência pretende conceituar noções como Estado, governo, formas de organização humana, além de estudar a atuação de outras instituições que interferem na organização política, como as empresas da iniciativa privada, organizações não governamentais (ONGs) e as instituições religiosas.
Como uma sociedade deve organizar-se? Qual é a legitimidade do poder de uns sobre os outros? Como a sociedade deve atuar para garantir o bom andamento das relações sociais? Esses são alguns dos problemas levantados pela ciência política, que tenta fornecer uma base teórica científica para amparar a ação prática de governos e organizações políticas. Os gregos antigos chamavam de práxis essa necessidade de se pensar e refletir sobre a ação antes de colocá-la em prática. Fornecer uma base teórica para a práxis política é a principal tarefa da ciência política.
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Ciência política na história
Sócrates, Platão e Aristóteles foram os primeiros a se perguntar como deveria ser a organização política para garantir o melhor meio de intervenção prática no mundo. Na época dos filósofos clássicos, ainda não se falava em uma ciência da organização política, mas encontramos neles a importância histórica daqueles que primeiro se perguntaram sobre o modo como a política deveria estar organizada.
Entre o Renascimento e a modernidade, observamos filósofos que também deixaram significativas contribuições para a constituição da ciência política, que somente se estabeleceria como uma ciência metódica e bem articulada no século XIX. Um desses filósofos foi o teórico político florentino Nicolau Maquiavel, que escreveu um dos mais importantes tratados políticos da modernidade, intitulado O Príncipe. Nessa obra, o autor buscou estabelecer as bases para que um governante consiga se manter em um governo estável.
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Antes da delimitação da ciência política como uma ciência autônoma, ainda temos as contribuições dos filósofos iluministas do século XVIII, em especial os franceses, para se pensar nos limites e nas atribuições da política no mundo moderno. Os iluministas, em geral, defendiam o fim do Antigo Regime (o absolutismo, que concentrava todo o poder político nas mãos do governante e dava a ele o poder irrestrito) e formas de organização políticas que garantissem a manutenção de direitos ao povo.
Voltaire, um dos filósofos iluministas, defendia a laicidade do Estado, a liberdade religiosa e a liberdade de expressão. Outro grande iluminista foi o filósofo Charles de Montesquieu, que defendia um Estado republicano com os poderes repartidos em três instâncias: o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Essa forma, adotada até hoje por muitas repúblicas, limita o poder ao impedir a concentração dele nas mão de apenas uma pessoa, impossibilitando, assim, os abusos.
O mais importante marco para a consolidação da ciência política como um campo autônomo e rigorosamente estabelecido do conhecimento ocorreu no século XIX. Em meio ao surgimento da sociologia por meio das ideias do filósofo Auguste Comte e dos primeiros sociólogos – o filósofo, sociólogo e jurista francês Émile Durkheim e o filósofo, sociólogo e economista alemão Karl Marx –, surgia a necessidade de se pensar também as concepções políticas.
Foi por isso que o historiador estadunidense Herbert Baxter Adams fundamentou um novo campo das ciências sociais, que ficaria responsável por estudar apenas as formações políticas, recebendo contribuições e contribuindo mutuamente com as outras ciências sociais.
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O curso de ciência política
A partir do século XX, com o estabelecimento e reconhecimento total da sociologia e das ciências sociais como áreas científicas de extrema importância para a compreensão das sociedades complexas, entendeu-se que a ciência política não poderia ficar de fora desses estudos. Assim, começaram a surgir os cursos superiores em ciência política, primeiro nos Estados Unidos, na França e na Alemanha, e depois em outros países. No Brasil, o primeiro curso superior em ciência política surgiu na década de 1930, na USP.
Em geral, os cursos de ciência política são habilitações específicas para os cursos de ciências sociais. Existem matérias de uma grade comum de ciências sociais, como sociologia, economia, antropologia, psicologia e política, que são complementadas com disciplinas específicas, como formações políticas, estratégias políticas, história da política, estatística e formas de governo.
Importância da ciência política
É impossível entender os mecanismos de poder na sociedade, em especial nas sociedades pós-capitalistas, sem estudar ciência política. Além disso, para que os políticos tenham uma atuação significativa nos tempos de hoje, faz-se necessário que eles mesmos (ou que seus assessores) estudem ciência política, pois os atores das três esferas do poder em nossa república (Legislativo, Executivo e Judiciário) devem ser conhecedores da ciência política.