A argumentação é um processo linguístico que envolve a defesa de uma ideia ou ponto de vista por parte de quem argumenta. Ela é usada em diversas situações do cotidiano, como em debates formais ou informais ou mesmo em situações familiares.
Apesar de muito usual nas relações humanas, uma boa argumentação pede melhor clareza na exposição do raciocínio que embasará uma tese (ponto de vista) a ser defendida, principalmente em sua composição escrita. Em textos como o dissertativo-argumentativo ou a carta argumentativa, o autor precisa, além do conhecimento do gênero, saber fazer uso dos principais recursos linguísticos e entender o contexto para a escolha do tipo de argumentação mais adequado.
Leia também: Textualidade — o que faz um texto ser considerado como tal?
Tópicos deste artigo
Resumo sobre argumentação
- A argumentação é um recurso linguístico usado para influenciar o leitor sobre um ponto de vista ou uma opinião.
- Os operadores argumentativos compõem a construção linguística dos argumentos, sendo também conhecidos por dar linearidade e sequência no raciocínio.
- A argumentação pode ser feita pelos seguintes tipos: argumento de autoridade, argumento histórico, argumento de exemplificação, argumento de comparação e argumento de raciocínio lógico.
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O que é argumentação
Argumentação consiste em uma atividade discursiva (falada ou escrita) utilizada no intuito de influenciar determinado interlocutor por meio de argumentos. Os argumentos demandam uma estrutura composta por:
a) apresentação e organização de ideias;
b) estruturação do raciocínio em defesa de um ponto de vista (tese).
Operadores argumentativos
A argumentação apresenta, em sua construção, um elemento linguístico essencial em sua elaboração: os operadores argumentativos. Eles correspondem a um conjunto de conjunções, advérbios e expressões de ligação que estabelecem uma diversidade de relações.
Assim, a depender do tipo de relação que o operador argumentativo estabelece, ele pode ser classificado de maneira específica. Vejamos alguns dessas relações postas em funcionamento:
- Junção: faz um acréscimo de argumentos em favor ou contra uma conclusão. Os mais conhecidos são: e; e nem; e também; como também; mas também; tanto… como; além de; além disso; ainda etc.
Exemplo: Ele foi e não voltou.
- Oposição: faz uma relação de termos/frases/orações com orientações opostas. Geralmente é representado por: mas; porém; contudo; todavia; entretanto; no entanto etc.
Exemplo: O governo fez altos investimentos em educação, mas o Brasil ainda ocupa os piores lugares nos rankings internacionais.
- Causa: os enunciados se apresentam como causa ou explicação para que outro ocorra. Os principais operadores são: porque; pois; como; por isso que; já que; visto que; uma vez que etc.
Exemplo: Devemos racionar o consumo de água, pois ela está em extinção.
- Condição: apresenta um enunciado como sendo condição para que outro ocorra. Os operadores mais conhecidos são: se; caso; desde que; contanto que; a menos que; a não ser que etc.
Exemplo: Desde que você estude, poderá ser aprovado no exame.
- Comparação: utilizada com frequência para se estabelecer uma relação comparativa de igualdade, superioridade ou inferioridade. Os conectivos utilizados são: tão… quanto; tão menos… quanto; tão mais… quanto; tanto quanto; menos… (do) que; mais … (do) que.
Exemplo: As instituições são tão importantes quanto as pessoas.
- Finalidade: constrói uma ideia de propósito por meio dos seguintes operadores: para; a fim de; com o objetivo de; com o intuito de; com o propósito de; com a intenção de etc.
Exemplo: A teoria foi desenvolvida a fim de explicar determinados fenômenos nas relações sociais.
- Conclusão: corresponde ao fechamento de uma ideia, envolvendo um raciocínio geral ou específico de uma questão apontada. Apresenta-se com os seguintes operadores: portanto; logo; então; assim; por isso; por conseguinte; de modo que; em vista disso; pois (após o verbo).
Exemplo: Foucault, portanto, defende a ideia de uma sociedade construída por meio de uma série de mecanismos de controle.
→ Videoaula sobre operadores argumentativos
Tipos de argumentação
Existem várias formas de se construir a argumentação em um texto. A seguir, listaremos os cinco tipos de argumentação mais utilizados e conhecidos.
1) Argumento de autoridade: é quando se utiliza uma personalidade de determinada área ou instituição conceituada de pesquisa para reforçar as ideias e persuadir o leitor sobre uma opinião.
Exemplo: Segundo pesquisa do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da Universidade de São Paulo (Made/USP), 1% dos homens brancos ricos recebe mais do que todas as mulheres negras do Brasil.
2) Argumento histórico: utiliza como forma de comprovação uma série de acontecimentos e fatos históricos que remetem ao tema em discussão.
Exemplo: Os problemas de desigualdade social no país nos remetem às práticas racistas herdadas pelas instituições e pela população desde o período escravista, com início no século XVI.
3) Argumento de exemplificação: pode apresentar, por exemplo, narrativas cotidianas para evidenciar um problema e, assim, ajudar na fundamentação do ponto de vista.
Exemplo: A violência contra a mulher pode ser percebida, em termos práticos, por exemplo, nas sucessivas agressões sofridas por Maria da Penha durante o seu casamento; hoje, além de ela ser uma ativista pela causa, tem seu nome designando a lei de proteção às mulheres.
4) Argumento de comparação: faz um comparativo entre ideias distintas a fim de construir um ponto de vista apontando semelhanças ou diferenças entre as noções comparadas.
Exemplo: Na Finlândia, as melhorias na educação passaram, nos últimos 20 anos, pelo menos, por uma sucessão de políticas voltadas para a valorização do professor e capacitação profissional. Já no Brasil, o piso nacional continua muito abaixo da média nacional e há um déficit na formação de boa parte dos profissionais.
5) Argumento por raciocínio lógico: uma forma de compor as ideias com base nas relações de causa e efeito, gerando uma interpretação que pode ir de encontro com a tese defendida.
Exemplo: O aumento da pena e da lógica punitiva no sistema penal em outras regiões do globo não resultou em uma diminuição da violência, logo, o aumento da pena e a maior rigidez no sistema brasileiro devem gerar as mesmas consequências.
Leia também: Impessoalização da linguagem — como eliminar marcas de subjetividade do texto?
Como fazer uma boa argumentação
Para desenvolver uma boa argumentação, é preciso ter definido, primeiramente, a tese ou o ponto de vista a ser defendido. Em outros termos, é preciso responder à seguinte questão: qual é a minha opinião sobre o assunto?
Em segundo, com a tese definida, a argumentação deve girar em torno dela. Assim, deve-se pensar na seguinte questão: quais são os argumentos que melhor se encaixam e validam minha opinião? (Lembre-se, aqui, dos tipos de argumentação e quais estão mais adequados ou você considera mais interessante de serem usados).
As etapas anteriores correspondem ao processo de planejamento da argumentação. No processo de escrita, ou terceira etapa, o autor precisa conhecer o formato em que o seu texto vai aparecer, ou seja, qual gênero textual será usado. Trata-se de um debate? Um texto dissertativo-argumentativo? Conhecer as regras de construção do texto ajuda em uma melhor elaboração da argumentação.
Com o projeto textual definido, é possível partir para a escrita. Nessa etapa, vale o domínio da estrutura do gênero textual e da linguagem a serem utilizadas. Os operadores argumentativos são os elementos linguísticos responsáveis, durante o processo de produção textual, pela construção de uma boa argumentação. O uso inadequado dos operadores pode resultar em um problema ou falha na argumentação, tornando o seu texto confuso e incapaz de persuadir o leitor.
Gêneros argumentativos
A argumentação, enquanto recurso de linguagem, pode ser usada em textos com características distintas, apesar de manterem a ideia central de persuadir o leitor. Como exemplos de texto argumentativo, temos a crônica argumentativa, a carta argumentativa, o editorial e o texto dissertativo-argumentativo.
Como fazer um bom texto argumentativo
- estudar os aspectos gramaticais pertinentes ao desenvolvimento de um bom texto argumentativo;
- ter bom domínio sobre o tema, realizando pesquisas e coletando informações necessárias para uma melhor preparação;
- compreender o gênero textual, isto é, sua estrutura e regras de formação;
- identificar o público — para quem você está escrevendo? — e, com base nessa informação, fazer as escolhas de acordo com o contexto;
- expor as ideias de forma linear e clara ao público;
- marcar o posicionamento ou, em outras palavras, deixar explícito ao leitor qual é a tese defendida.