Aporofobia é uma palavra criada pela filósofa espanhola Adela Cortina para designar a aversão aos pobres e suas implicações na democracia. É um neologismo que remete etimologicamente às palavras gregas áporos (pobre, desvalido) e phobos (medo, aversão). A aporofobia aborda pensamentos, atitudes, práticas e políticas presentes nas relações sociais que desprezam uma pessoa devido à sua condição puramente socioeconômica.
A aporofobia possui fundamentos estruturais dentro de classes sociais. As causas da aporofobia são muitas e vão desde as desigualdades sociais até os estereótipos que o nosso cérebro cria naturalmente. As possíveis soluções para a aporofobia passam por uma educação ética, que conscientize as pessoas sobre a importância da compaixão pelo outro, e políticas públicas que assegurem uma renda mínima para a população que vive em extrema pobreza.
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Tópicos deste artigo
Resumo sobre aporofobia
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Aporofobia é a aversão ao pobre, aquele sem recursos, o desamparado que nada pode oferecer em troca.
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Aporofobia é causada pela desigualdade social e pela difusão de estereótipos negativos que associam a pobreza ao perigo.
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A palavra aporofobia foi inventada pela filósofa Adela Cortina há cerca de 20 anos e, recentemente, foi escolhida a palavra do ano na Espanha.
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A aporofobia pode ser exemplificada pela arquitetura antipobre das grandes cidades.
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As possíveis soluções para a aporofobia passam pelo combate às desigualdades e políticas públicas de vários setores.
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Aporofobia é um termo muito novo e tem caído nos vestibulares, sendo cogitado até como tema para a redação do Enem.
O que é aporofobia?
Aporofobia é um sentimento difuso de rechaço ao pobre. É o preconceito, ainda pouco estudado, com o fato de uma pessoa viver em estado de pobreza. O que significa que, além de não ter dinheiro, essa pessoa parece ser uma desamparada, isto é, carente de recursos, direitos, oportunidades ou até capacidades para deixar de ser pobre.
A aporofobia é comum em sociedades como as nossas, que são organizadas em torno da ideia de contrato. O pobre é o verdadeiramente diferente. Não pelo fato de viver com muito pouco dinheiro, mas porque ele não nada tem de atrativo para oferecer aos outros. O pobre do qual se tem medo é aquele visto como incapaz de contratar ou ser contratado em qualquer esfera social.
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É este o tipo de desprezo que caracteriza atitudes aporófobas. É o rechaço a quem não pode entregar nada em troca, ou, ao menos, parece não poder. E por isso é excluído da construção do contrato político, econômico ou social desse mundo de dar e receber, no qual só podem entrar os que parecem ter algo de interessante para dar em retorno.
Causas da aporofobia
Aporofobia é causada pela desigualdade econômica. Quando há uma grande disparidade de oferta de renda e de oportunidades entre as classes sociais, é mais provável que as pessoas de classes mais abastadas vejam os pobres como os verdadeiramente diferentes e desenvolvam preconceitos contra eles. Os pobres são os “outros”.
A aporofobia é causada por uma perspectiva de medo. Essa perspectiva relaciona a pobreza com a criminalidade, a prostituição, o uso de drogas, a violência e a desagregação das famílias. Essa associação preconceituosa pode levar algumas pessoas a temerem os pobres, especialmente em áreas com altas taxas de criminalidade. Essa representação estigmatizada do pobre pode contribuir para a aporofobia.
Estigmas e estereótipos negativos são outras causas relevantes da aporofobia. Eles difundem a imagem dos pobres como preguiçosos, desonestos ou como responsáveis por sua própria condição. Nesse aspecto, a percepção pública é muito influenciada pela representação negativa dos pobres na mídia e na cultura de massa.
Além disso, a aporofobia pode ser alimentada pela falta de empatia e compreensão em relação às dificuldades enfrentadas pelas pessoas em situação de pobreza. Quando estamos com medo, não vemos claramente, nem analisamos os fatos, nem há espaço para sentimentos nobres. A aporofobia, portanto, não se dirige ao pobre real que anda pelas ruas, mas contra uma imagem estereotipada que é percebida como ameaça.
Desconfiadas, as pessoas não conseguem se identificar com as lutas e os desafios dos pobres, o que torna mais provável o sentimento de aversão a eles. Enquanto isso, a maior parte da criminalidade, certamente a mais perigosa para o sistema, não procede dos setores empobrecidos da população, mas sim de máfias bem-organizadas que controlam uma imensa quantidade de dinheiro.
É importante destacar o seguinte. Considerar os pobres como uma ameaça ao sistema socioeconômico é tão equivocado quanto seria acusar as vítimas de violência de serem as causadoras dessa mesma violência. Mesmo assim, essas crenças errôneas podem alimentar o medo e a aversão em relação aos pobres.
Enfim, existem diversas causas para a aporofobia em nossa sociedade, e é importante compreendê-las para combater esse problema social. Essa aversão pode ser causada por desigualdades estruturais, mas também pela falta de empatia e compaixão em relação às pessoas em situação de pobreza.
Origem da aporofobia
A origem desse novo conceito é a união das palavras gregas áporos (pobre) e phobos (medo). Ele apareceu em uma série de textos publicados pela escritora e filósofa espanhola Adela Cortina desde os anos 1990. Segundo a professora espanhola, a repugnância aos pobres é a verdadeira atitude subjacente a muitos comportamentos supostamente racistas ou xenofóbicos.
Em 2017 esse nome foi eleito a palavra do ano pela Fundación del Español Urgente (Fundéu BBVA), sendo usado em vários artigos jornalísticos e em livros. A filósofa Adela Cortina criou o termo para dar visibilidade a essa patologia social que existe no mundo todo. O rechaço aos grupos, raças e etnias que habitualmente não têm recursos e, portanto, não podem oferecer nada, ou parece que não o podem.
Exemplos de aporofobia
É um exemplo de aporofobia a arquitetura “antipobres” presente em metrópoles do mundo todo. Em grandes cidades brasileiras, a aporofobia pode ser percebida no uso de grades, espetos de ferro, cacos de vidro, pedras e até sistemas de gotejamento instalados em diversas construções e equipamentos públicos para evitar a presença e a permanência dos mais pobres, principalmente pessoas em situação de rua.
O padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua em São Paulo, usa as redes sociais para criticar essas intervenções e pressionar para que empresas e até mesmo órgãos públicos recuem e retirem essas instalações. O pároco também faz denúncias de mercados e lojas que solicitam aos seus clientes que não ajudem pessoas em situação de rua. Esse tipo de solicitação é outro exemplo de aporofobia.
Em conclusão, percebemos atitudes aporófobas nos condomínios fechados em bairros que muitas vezes são projetados para criar barreiras físicas e sociais entre os moradores e o seu entorno. Eles geralmente têm muros altos, segurança privada e acesso restrito, criando uma sensação de segregação em relação às comunidades circundantes e de aversão ao pobre.
Como combater a aporofobia?
As possíveis soluções para combater aporofobia são as que atingem as causas do fenômeno. Se a desigualdade social é a principal causa, então superar a aporofobia passa por processos políticos e educativos que diminuam essa desigualdade. Em outras palavras, políticas públicas implementadas com objetivo de conscientizar a população acerca da solidariedade entre as pessoas e a implementação de uma renda mínima à população em extrema pobreza.
O Brasil, através do governo federal, já demonstrou que pode traçar políticas públicas para executar e fiscalizar um projeto de renda mínima para a população em carência material, tal como fez em várias ocasiões na história recente. É importante comunicar a possibilidade de enfrentamento desse problema social e chamar a atenção para o fato de a pobreza não fazer parte da identidade dessas pessoas, sendo condição involuntária, um problema eminentemente social.
Além da criação de um projeto de renda mínima para a população, o combate contra aporofobia no Brasil necessita de um material educativo. Ele deve ser distribuído em escolas privadas e particulares promovendo a conscientização sobre a solidariedade entre as pessoas, sobretudo aquelas que vivem na extrema pobreza, educando-as para a convivência plural e sem preconceitos.
Combater a aporofobia requer uma abordagem multidimensional que inclua educação, conscientização, políticas públicas equitativas e mudanças culturais. Promover a empatia, compreensão e solidariedade em relação às pessoas em situação de pobreza é fundamental para criar uma sociedade mais justa e inclusiva.
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Consequências da aporofobia
A principal consequência da aporofobia é a rejeição e a exclusão de pessoas pobres em espaços públicos e privados. Quando os meios de comunicação retratam os pobres de maneira estereotipada e negativa, isso alimenta o círculo vicioso da pobreza.
Se populações empobrecidas aparecem na mídia sendo associadas a condutas criminosas ou desmoralizantes, a imagem criada reforça os preconceitos que já existem. E isso dificulta a possível integração dessas pessoas na sociedade, o que prolonga as suas dificuldades.
Em alguns casos, o desespero os leva a fazer algo ilegal, de maneira que se termina por reforçar a imagem que foi construída inicialmente, e assim sucessivamente. A principal consequência da aporofobia é reforçar a exclusão das pessoas pobres do convívio de ambientes nos quais outras pessoas estão.
Sem acesso aos direitos básicos, fica muito difícil sair da pobreza, uma vez que ela é definida como a falta de acesso a serviços essenciais (saneamento básico, saúde, educação, energia elétrica, entre outros), bens de consumo, sobretudo alimentos, e bens materiais necessários para a manutenção da vida em condições básicas.
Aporofobia no Enem e vestibulares
Os temas relacionados à aporofobia podem aparecer nas provas, tanto em propostas de redação quanto em questões. Foi o que aconteceu na segunda fase o vestibular da Unicamp 2023. Uma das questões exigia a aplicação do conceito a duas imagens e um texto no qual o vestibulando deveria se posicionar acerca de uma declaração do Padre Júlio Lancelloti. Veja:
Unicamp 2023 – 2ª fase
A palavra aporofobia, ainda não dicionarizada, é definida pela Academia Brasileira de Letras como:
s.f. repúdio, aversão ou desprezo pelos pobres ou desfavorecidos; hostilidade para com pessoas em situação de pobreza ou miséria. [Do grego á-poros, ‘pobre, desamparado, sem recursos’ + -fobia.]
(Disponível em Acesso em 08/09/2022.)
(Adaptado de BORGES, Thaís. ‘A gente banaliza a crueldade’, diz padre Júlio Lancellotti, sobre aversão a pobres. Correio 24horas. 22/01/2022.)
a) As imagens 1 e 2 denunciam formas de aporofobia. Diga qual o tipo de aporofobia em cada caso, recorrendo, em sua explicação, a elementos das imagens.
b) Você deseja se posicionar, nas suas redes sociais, a respeito da matéria. Assuma a voz do catador de papel envolvido na situação relatada e responda à pergunta do padre Júlio Lancelotti. Esse texto deverá ter entre 40 e 50 palavras. Atenção: não copie trechos da matéria.
Créditos da imagem
Fontes
BARBOSA, L. (2006). Igualdade e meritocracia (4a ed.). Rio de Janeiro: Editora FGV.
CORTINA, Adela. Aporofobia, a aversão ao pobre: um desafio para a democracia. São Paulo: Editora Contracorrente, 2020.
JOHNSON, Allan G. Dicionário de sociologia: guia prático da linguagem sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.
RAWLS, John. Uma Teoria da Justiça. São Paulo: Martins Fontes, 2000.