Mário de Andrade foi o grande mentor intelectual da Geração de 20, foi também poeta, prosador, pianista, funcionário público e, acima de tudo, um homem compromissado com o desenvolvimento cultural do Brasil.
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Biografia resumida
Mário Raul de Morais Andrade nasceu em 9 de outubro de 1893, na cidade de São Paulo. Estudou piano desde cedo, tendo concluído o curso no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo em 1917, mesmo ano em que publica seu primeiro livro de poemas, ainda no estilo parnasiano, intitulado Há uma gota de sangue em cada poema.
Ainda em 1917, com a morte do pai, passa a trabalhar como professor de piano. Também atua como crítico de arte e frequenta as rodas artísticas paulistanas, onde conhece Oswald de Andrade e Anita Malfatti, de quem se tornou muito próximo e com quem articulou a Semana de Arte Moderna de 1922.
Foi também em 1922 que publicou Pauliceia desvairada, livro considerado marco do modernismo brasileiro. A partir desse período, tornou-se uma das mais importantes figuras da literatura e da cultura brasileiras, conciliando uma intensa produção literária com dedicada vida de estudos do folclore brasileiro, da música e das artes visuais.
Entre os anos de 1934 e 1937, esteve à frente do Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo, fundando a Discoteca Pública, além de promover o I Congresso de Língua Nacional Cantada. Em 1937, fundou a Sociedade de Etnografia e Folclore de São Paulo.
Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1938 e tornou-se diretor do Instituto de Artes do Distrito Federal. De volta a São Paulo, trabalhou no Serviço do Patrimônio Histórico. Vítima de um ataque cardíaco, faleceu em São Paulo, em 25 de fevereiro de 1945.
Características literárias
Considerado como o grande nome intelectual do modernismo brasileiro, Mário de Andrade destaca-se por seu pioneirismo. Sua poesia inicial recupera elementos das vanguardas europeias, como a escrita automática, característica do movimento surrealista, que o autor depois revisita, à luz da consciência, mesclando às pulsões líricas inconscientes um tanto de teoria. Também está presente a influência do cubismo, que, na poesia de Mário, aparece como deformação abstrata e valorização do primitivismo.
A princípio, a obra poética do autor tem a intenção de quebrar os paradigmas artísticos canônicos da poesia acadêmica, em nítida ação modernista. Depois, vai-se voltando para uma exploração cada vez mais intensa do ritmo e de temas retirados do folclore popular brasileiro.
Com o olhar sempre voltado para problemas sociais brasileiros, bem como para a cultura nacional, Mário escreveu também prosa de ficção, que reflete o compromisso do autor com a criação de uma língua literária nacional.
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Obras
- 1917 Há uma gota de sangue em cada poema (poesia)
- 1922 Pauliceia desvairada (poesia)
- 1925 A escrava que não é Isaura (discurso)
- 1925 Primeiro andar (contos)
- 1926 Losango cáqui, ou Afetos militares de mistura com os porquês de eu saber alemão (poesia)
- 1927 Amar, verbo intransitivo (idílio)
- 1927 Clã do jabuti (poesia)
- 1928 Macunaíma, o herói sem nenhum caráter (rapsódia)
- 1929 Compêndio da história da música (música)
- 1930 Remate de males (poesia)
- 1930 Modinhas imperiais (música)
- 1933 Música, doce música (música)
- 1934 Belasarte (contos)
- 1935 O Aleijadinho e Álvares de Azevedo (ensaios)
- 1936 A música e canção populares no Brasil (ensaio crítico-biográfico)
- 1939 Namoros com a medicina (ensaio)
- 1940 A expressão musical nos Estados Unidos (música)
- 1941 Música do Brasil (história e folclore)
- 1941 Poesias (poesia)
- 1942 Pequena historieta da música (música)
- 1942 O movimento modernista (teoria)
- 1943 O baile das quatro artes (ensaio)
- 1943 Aspectos da literatura brasileira (ensaios)
- 1943 Os filhos da Candinha (crônicas)
- S.d. O empalhador de passarinhos
- 1945 Padre Jesuíno do Monte Carmelo (pesquisa biográfica)
- 1946 Lira paulistana (poesia)
- 1946 O carro da miséria (poesia)
- 1947 Contos novos (contos)
- 1966 Poesia completa (poesia)
Além dessa vasta obra publicada, Mário deixou ainda enormes volumes de correspondências, publicados postumamente.
Macunaíma, o herói sem nenhum caráter
Trata-se de uma das mais conhecidas e comentadas obras de Mário de Andrade. Para escrevê-la, o autor baseou-se em um projeto de representar a diferença brasileira, em uma síntese do folclore nacional que toma a forma de um romance picaresco, misturando tradição oral e primitivismo ao gênero tipicamente burguês do romance.
Cheio dessas fusões regionais, Macunaíma é uma crítica ao regionalismo e intenta romper os limites determinados pela geografia. O espaço é uma mistura de várias regiões brasileiras, e o tempo varia entre o mítico da lenda e o tempo contextualizado e contemporâneo.
Macunaíma é um herói sem nenhum caráter, pois aquilo que constrói em um capítulo, desconstrói em outro. Vive momentos de extrema valentia e também de extrema covardia; é preguiçoso, mas é audaz; é um adulto ainda criança; é o primitivo que habita o homem civilizado. Macunaíma não é uma pessoa, é um híbrido linguístico.
“Ai! Que preguiça!…” é um bordão recorrente da personagem. O tema aparece como um “sinal amazônico”: em uma terra de Sol e calor, a preguiça parece muito mais natural do que o trabalho. Trata-se de uma oposição às regras “civilizatórias” da Europa de valorização do trabalho. Pela evocação das imagens da preguiça e da rede, o autor delineia uma conexão com o sentimento primitivo.
Em Macunaíma, encontra-se tanto a valorização dos “sentimentos tropicais” quanto um catálogo de doenças do terceiro mundo, que aparece, entre outros termos, na imagem das formigas, presentes ao longo de toda a obra. As formigas também representam aquilo que falta a Macunaíma e ao Brasil: a organização, o cálculo. A formiga é um animal burguês por excelência, em oposição à cigarra, associada à figura do ócio ou, em termos mais tropicais, ao bicho-preguiça.
Ofertando um compêndio de incoerências brasileiras, Mário de Andrade não deixa claro, em Macunaíma, se tem orgulho ou vergonha do Brasil. Esse hibridismo incoerente reproduz o dinamismo cultural e a falta de organização nacional, concluindo em pessimismo.
Frases
“Pouca saúde e muita saúva, os males do Brasil são.”
“Antes do modernismo, o Brasil era um país português com modos culturais franceses.”
“Sou um tupi tangendo um alaúde.”
“O passado é lição para refletir, não para repetir.”
“Minha obra toda badala assim: brasileiros, chegou a hora de realizar o Brasil.”