Como cuidar da saúde mental dos adolescentes?

A saúde mental dos adolescentes se tornou um tema de preocupação mundial nos últimos anos. Com os impactos da pandemia, transtornos mentais como ansiedade e depressão estão cada vez mais frequentes em jovens e adolescentes.

Tópicos deste artigo

Quais fatores determinam a saúde mental de um adolescente?

A adolescência é um período determinante para a saúde mental de todos. Além das transformações físicas e hormonais, é o momento da passagem da infância para a vida adulta, fase que carrega uma série de responsabilidades, dúvidas e questionamentos.

Para Susie Amâncio, professora doutora em Psicologia pela Universidade Federal de Goiás (UFG), todas as transformações da adolescência trazem certa vulnerabilidade, não só social mas principalmente emocional e psíquica, ao adolescente.

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Devido a essa vulnerabilidade, aliada a toda pressão cultural e social, torna-se comum que certas doenças mentais se manifestem a partir da adolescência. No Brasil, de acordo com dados da Unicef, um a cada seis jovens, de 10 a 19 anos, convive com algum transtorno mental. Para Susie Amâncio,

Essa é uma fase também de muitas decisões por conta das demandas culturais impostas, a própria proximidade da escolha profissional, a maior responsabilidade que é dada pela família ao adolescente, as cobranças por rendimento e uma série de coisas que acabam trazendo algum tipo de estresse e aguçando vulnerabilidades que já estejam ali sendo trazidas ao longo da história do desenvolvimento dessa criança. 

Veja mais: Como a psicologia ajuda estudantes no período pré-vestibular e Enem

Papel da escola na saúde mental dos adolescentes

Para Susie Amâncio, antes de pensar no papel das escolas, é preciso compreender que existem diversos modelos e realidades escolares, desde as públicas estaduais, municipais e federais até as escolas particulares e as de elite.

Entretanto, a professora destaca que o grande desafio das escolas é aliar a formação acadêmica com a formação humana. Dessa forma, escolas precisam ter também uma preocupação com o desenvolvimento humano e o acolhimento no processo educativo.

No Colégio Oficina do Estudante, de Campinas, São Paulo, o acompanhamento ocorre por meio de palestras, ações e acolhimento por psicólogos da escola. Antunes Rafael, diretor pedagógico do Oficina, destaca que:

As atividades (do colégio) são programadas pensando na rotina de estudos e de que forma ela pode ser impactada pelas questões emocionais dos alunos e professores. A atuação da equipe gestora é fundamental para estruturação dessas ações com foco em saúde mental. 

Papel da família na saúde mental dos adolescentes

Sobre o papel da família, a professora da UFG enfatiza a importância da observação dos processos dos adolescentes, da abertura ao diálogo e de uma sensibilidade para entender as necessidades e as diferenças individuais de cada jovem.

Dessa forma, é preciso estabelecer uma relação entre pais e filhos em que as partes sejam ouvidas e respeitadas, o que a professora considera como um desafio.

Muitas vezes os problemas podem ser resolvidos com diálogo, com maior atenção, com amor e afeto, mas muitas vezes não. Determinados problemas demandarão um olhar profissional, e para aqueles pais que têm condição de arcar com tratamento psicoterapêutico ou psiquiátrico, é fácil dizer para procurar ajuda, mas, para os pais de baixa renda, de fato essa ajuda fica mais distante.

Como orientação à família, a professora enfatiza a importância de um olhar mais atento para as mudanças comportamentais dos adolescentes. É preciso acompanhar e estar inteirado de fato com o que o adolescente está vivenciando.

Sinais de alerta

  • angústia;
  • ansiedade e quadros depressivos que constantemente falam de desânimo;
  • ideações em relação à morte, a fugir, a sair do estado de dor;
  • automutilação.

Saúde mental e vulnerabilidade social

De acordo com o Informe Mundial de Saúde Mental da OMS, injustiças sociais e econômicas e emergência de saúde estão entre as ameaças estruturais da saúde mental. Para a professora, a própria vulnerabilidade econômica e social já é um fator de risco para os transtornos psíquicos.

Alunos de baixa renda e de escolas públicas enfrentam maiores dificuldades do que aqueles atendidos pelas escolas particulares. Aliado a isso, de acordo com Susie Amâncio, nós temos uma condição social fundamentada em uma realidade completamente perversa, que tira desses alunos a esperança — a condição básica para qualquer desenvolvimento humano.

A professora destaca que o jovem só aprende, só se dedica a causas e ao próprio investimento em sua vida, se ele tem esperanças em uma realidade melhor. Sendo assim, o jovem que olha ao seu redor e encontra uma realidade que não lhe permite ter esperanças, está muito mais vulnerável às questões de saúde mental do que os alunos que estão nas classes mais abastadas.

E proteger a saúde mental da população é uma proteção da própria sobrevivência da sociedade. Uma sociedade em que parte de seus membros é adoecida está, na verdade, vulnerável em seu todo.

Confira no nosso podcast: Setembro Amarelo e saúde mental

Pandemia e saúde mental

O informe da OMS ainda aponta que a depressão e a ansiedade aumentaram mais de 25% apenas no primeiro ano da pandemia.

Os dados da pesquisa foram sentidos pela professora Susie Amâncio, que ministra aulas para alunos do primeiro semestre do curso de Psicologia da UFG. Segundo ela, tem-se observado um aumento preocupante dos relatos dos alunos que chegam à universidade e que estão em tratamento psiquiátrico, com crises de ansiedade, depressão, e alguns outros com alguns transtornos mais sérios:

A experiência da covid, para além da vulnerabilidade, aliada às condições do isolamento e (ainda mais) às incertezas sociais e econômicas, e a condição mesmo de insegurança social e política que vivemos nesses anos de pandemia trouxeram uma sobrecarga muito grande para o aluno que estava se preparando para o vestibular.

No colégio Oficina do Estudante, foram realizadas ações de acolhimento e palestras sobre a nova dinâmica que seria iniciada. Além disso, de acordo com a escola, o trabalho com a educação socioemocional prevê ações constantes de observação e escuta atenta das demandas apresentadas pelos alunos.

Pensando em vestibulandos, a escola mantém um profissional exclusivo, justamente para que possa acompanhar de perto as questões de desempenho e as demandas emocionais que podem afetar esse desempenho.

 

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