Logo ao se aproximar da idade adulta, não apenas somos indagados pela família, como também nos indagamos: Qual profissão devo escolher? Do que realmente gosto? Qual profissão me trará mais recursos financeiros e possivelmente fama em menos tempo? Assim, quando a escolha não é acertada, a frustração ou desânimo ao longo dos estudos pode ser dado como certo.
Mas para pensarmos nessa questão, devemos considerar que a escolha de uma área profissional para atuação é apenas mais uma dentre tantas outras que fazemos em outras áreas da vida. E assim como nestas outras, ao se pensar em uma profissão, somos influenciados por tantos outros fatores não apenas psicológicos ou comportamentais, mas também sociais ou culturais.
Mas se o próprio contexto histórico e social no qual vivemos pode oferecer armadilhas ao jovem no momento de sua escolha (isso por conta do predomínio de uma visão alienada da realidade, principalmente estimulada pela mídia em geral), outro agravante é sua própria condição enquanto adolescente. A adolescência por si só é um estágio ou período da vida do indivíduo caracterizado pelo conflito, pela crise e pela redefinição da identidade. Assim, “[…] a etapa da adolescência representa um período de crise constitutiva ou normativa da identidade, que tomará distintos aspectos, dependendo da sociedade e da cultura em que o sujeito viva. Destaca-se nesse período, a crise normativa da adolescência, que se converte em um momento de “virada” e reorganização da própria personalidade, representando com isso uma possibilidade de sustentação para o futuro.” (TARDELI, 2012, s/p). Logo, a dificuldade do acerto na escolha profissional aumenta, pois exatamente em um momento de transformações como a adolescência, somos obrigados a optar por um caminho e seguir. Assim, não surpreendentemente, a indecisão e a insegurança se fazem presente, embora muitos acreditem estarem certos do que querem.
Não pare agora… Tem mais depois da publicidade 😉
Em uma pesquisa com adolescentes sobre orientação profissional elaborada pela professora Denise Tardeli entre os anos 2005 e 2007, a maioria dos entrevistados afirmou que nada (família, sociedade, entre outros aspectos) influenciaria em suas escolhas. Contudo, é possível dizer que essa afirmação por parte dos jovens entrevistados na pesquisa pode ser relativa, pois é inegável que a formação da própria opinião sofre influências externas quando vivemos em sociedade. A decisão por uma profissão não se dá de forma tão autônoma e independente de uma realidade na qual se está inserido. Segundo a própria pesquisadora, “[…] essa decisão não ocorre de maneira estritamente subjetiva como os jovens podem supor. Eles podem provavelmente fazer escolhas de maneira autônoma, mas sempre dentro de formas socialmente construídas. Escolher uma profissão é uma tarefa cada vez mais difícil, conforme a sociedade se faz mais complexa.” (IBIDEM, s/p).
Em uma sociedade na qual predominam as aparências, o culto ao consumismo e o anseio pelo sucesso através do menor esforço e com maior rapidez, algumas profissões como modelos e jogadores de futebol permeiam o imaginário dos mais jovens. Ao perceberem que essas áreas não são para todos, deparam-se com a dura realidade do mercado de trabalho, o qual se torna cada vez mais exigente e cada vez menos remunerativo. O encanto com determinadas áreas que, historicamente, estão ligadas a certo status e reconhecimento social, como engenharia, medicina e direito, também atrai milhares de adolescentes, tornando o vestibular para essas áreas cada vez mais concorrido e o mercado de trabalho cada vez mais inchado. Como se sabe, atualmente, o diploma e a formação universitária não garantem sucesso profissional.
O adolescente por si só não deve ser culpado por suas escolhas, mas necessita de orientação e diálogo para que, dessa forma, descubra não apenas quais suas melhores aptidões, mas, fundamentalmente, conheça o mundo à sua volta e os verdadeiros desafios, obstáculos e prazeres de cada profissão. Assim, é necessário equacionar, no momento da escolha, o que se pode chamar de vocação com alguns conhecimentos prévios sobre o caminho profissional que se deseja trilhar. Logo, o que importa não é a escolha em si, mas o bom senso tão necessário antes dela.
Paulo Silvino Ribeiro
Colaborador
Bacharel em Ciências Sociais pela UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas
Mestre em Sociologia pela UNESP – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
Doutorando em Sociologia pela UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas