A presença de mulheres na política é fundamental para garantir a diversidade e eficácia democrática e para assegurar que políticas públicas atendam às necessidades específicas das mulheres. No entanto, a realidade mostra que a representatividade feminina, especialmente no Brasil, ainda é desafiadora, com a Câmara dos Deputados e o Senado Federal apresentando apenas 15% e 12% de mulheres, respectivamente. Essa sub-representação não apenas reflete as barreiras estruturais e culturais enfrentadas pelas mulheres, mas também limita a diversidade de perspectivas dentro do processo democrático.
Apesar desses desafios, as mulheres na política têm priorizado questões cruciais como saúde, educação, direitos reprodutivos e o combate à violência contra a mulher, desafiando estereótipos de gênero e inspirando futuras gerações. A inclusão de mais mulheres na política não é apenas uma questão de justiça ou representatividade, mas um imperativo para o desenvolvimento de sociedades mais justas, equitativas e resilientes.
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Tópicos deste artigo
Resumo sobre a importância das mulheres na política
- Mulheres são importantes na política para garantir a diversidade e a eficácia democrática e para assegurar que políticas públicas atendam às necessidades específicas das mulheres.
- A representatividade feminina no Congresso Nacional é baixa, com a Câmara dos Deputados tendo apenas 15% de mulheres e o Senado Federal, 12%, refletindo uma das mais desiguais em gênero na América do Sul.
- Mulheres políticas priorizam questões como saúde, educação, direitos reprodutivos e combate à violência contra a mulher, além de desafiar estereótipos de gênero e inspirar futuras gerações.
- Movimentos feministas têm sido fundamentais na conquista de direitos, como a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio, apesar dos desafios contínuos para modificar estruturas sociais patriarcais.
- A trajetória das mulheres na política é uma história de lutas e conquistas, desde a obtenção do direito ao voto feminino no Brasil em 1932 até a eleição da primeira mulher para o cargo de presidente da República.
- No Brasil, o direito ao voto feminino foi conquistado em 1932, tornando-se universal em 1934, mas a participação feminina na política cresce lentamente, com sub-representação em cargos eletivos.
- A violência política de gênero, incluindo ataques misóginos, assédio e assassinatos, como o caso de Marielle Franco, evidencia os desafios contínuos que as mulheres enfrentam para se manterem ativas e seguras na política.
Representação feminina na política
A representação feminina na política é crucial para a promoção de políticas públicas que atendam às demandas e necessidades específicas das mulheres. No entanto, a presença feminina nos espaços de poder ainda é limitada. Essa disparidade não apenas reflete barreiras estruturais e culturais, mas também limita a diversidade de perspectivas e a eficácia da democracia.
No caso do Brasil, a representatividade feminina na política permanece baixa. O perfil do Congresso Nacional brasileiro demonstra isso. A Câmara dos Deputados do Brasil é destacada como a mais desigual em gênero da América do Sul, refletindo uma persistente sub-representação feminina no Legislativo brasileiro.
Os especialistas lamentam essa baixa representatividade, destacando que, mesmo com esforços e discussões sobre a importância da inclusão feminina na política, o Brasil ocupa uma posição desfavorável no ranking global de participação política feminina, ficando atrás de todas as nações da América Latina, com exceção do Paraguai e do Haiti. No Brasil, a Câmara dos Deputados possui apenas 15% de mulheres e o Senado Federal, 12%.
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Importância da participação feminina na política
A participação feminina na política é tão importante que dessa participação depende a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Mulheres na política contribuem para a promoção de uma agenda que prioriza questões como saúde, educação, direitos reprodutivos e combate à violência contra a mulher, além de desafiar estereótipos de gênero e inspirar futuras gerações.
Ardern recebeu a segunda maior honraria da Nova Zelândia por sua liderança eficaz durante a crise sanitária, além de ser reconhecida por sua gestão em outros momentos críticos, como atentados a mesquitas e uma erupção vulcânica. Sua abordagem durante a pandemia, caracterizada pela tomada de decisões rápidas e baseadas em evidências científicas, não apenas controlou efetivamente a disseminação do vírus no país, mas também reforçou a percepção global sobre a capacidade de liderança feminina em momentos de crise.
A liderança de Jacinda Ardern durante a pandemia e sua capacidade de enfrentar desafios com empatia, e tomando decisões baseadas em evidências científicas, ilustram o potencial da liderança feminina para promover mudanças positivas e abordagens inovadoras na gestão pública. Sua atuação reforça a argumentação de que a inclusão de mais mulheres na política não é apenas uma questão de justiça ou representatividade, mas também um imperativo para o desenvolvimento de sociedades mais justas, equitativas e resilientes
Luta pelos direitos femininos
A luta pelos direitos femininos tem sido marcada por avanços significativos e desafios persistentes, porque se trata de uma luta para modificar a estrutura milenar de uma sociedade.
Os movimentos feministas têm desempenhado um papel crucial na conquista de direitos, como a Lei Maria da Penha, que tipifica a violência contra as mulheres e estabelece mecanismos de proteção. Essas conquistas são fruto de mobilizações sociais e políticas que buscam desafiar estruturas de poder patriarcais.
O século XX foi marcado por importantes avanços na luta pelos direitos femininos. A Constituição de 1934 no Brasil promoveu a igualdade entre os sexos, e ao longo do século as mulheres conquistaram direitos fundamentais, como o acesso à educação superior e ao mercado de trabalho. Internacionalmente, a Conferência de Pequim, em 1995, reconheceu que o lugar da mulher na sociedade é social e culturalmente construído, destacando a pluralidade do feminismo.
Há também a luta por igualdade salarial, apesar de este ser um direito assegurado pela legislação em diversos países, incluindo o Brasil, onde a Constituição Federal e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) preveem a igualdade de remuneração para homens e mulheres que desempenham a mesma função. No entanto, a realidade mostra que as mulheres ainda ganham, em média, 20% menos que os homens para os mesmos cargos. A luta pela igualdade salarial envolve a implementação efetiva de leis e políticas que promovam a transparência salarial e combatam a discriminação de gênero no ambiente de trabalho.
Apesar dos diversos avanços, as mulheres ainda enfrentam desafios significativos na atualidade. A desigualdade salarial, a violência de gênero, a baixa representatividade política e a luta pelo direito ao aborto são questões centrais na agenda feminista. Os direitos reprodutivos são fundamentais para a autonomia das mulheres sobre seus corpos e suas vidas. Eles englobam o direito de decidir livremente sobre a maternidade, incluindo o acesso a métodos contraceptivos, serviços de saúde reprodutiva e o direito ao aborto legal e seguro em condições previstas pela legislação.
A Lei Maria da Penha (2006) e a Lei do Feminicídio (2015) representam conquistas importantes no combate à violência contra as mulheres, mas a luta por igualdade e justiça continua.
Voto feminino no Brasil
O direito ao voto feminino no Brasil foi conquistado em 1932, após intensa mobilização de mulheres sufragistas e feministas. Inicialmente restrito a mulheres casadas com autorização dos maridos e viúvas e solteiras com renda própria, o voto feminino se tornou universal em 1934 com a inclusão do direito na Constituição promulgada naquele ano. Essa conquista foi um marco importante na luta por igualdade de gênero, ampliando a participação política das mulheres.
Desde então, a participação feminina na política tem crescido lentamente. Apesar de avanços legislativos, como a Lei das Cotas de 1997, que exige que pelo menos 30% das candidaturas dos partidos sejam femininas, as mulheres ainda enfrentam sub-representação significativa em cargos eletivos.
Somadas as mulheres que ocuparam uma cadeira na Câmara dos Deputados desde 1934 (335 ao todo), não totalizam número suficiente das vagas de uma única legislatura – são 513 os deputados. Na eleição de 2022, os brasileiros elegeram 4.750 prefeitos (87,9%) e 651 prefeitas (12,1%).
Dessas prefeitas eleitas, apenas nove administram grandes cidades, e uma foi eleita para a capital (Cinthia Ribeiro, prefeita de Palmas-TO). Em mais de 1,8 mil cidades, apenas uma mulher conquistou a cadeira de vereadora. Em outras 958, nenhuma outra mulher foi escolhida para ocupar vaga nas câmaras municipais. Mesmo sendo 28% da população, as mulheres negras estão à frente de apenas 4% dos municípios como prefeitas. Para saber mais detalhes sobre o voto feminino no Brasil, clique aqui.
Trajetória das mulheres na política ao longo dos anos
A trajetória das mulheres na política, desde o século 19, é marcada por uma série de lutas e conquistas significativas, tanto no Brasil quanto em outros países do mundo ocidental. Foram muitos os desafios enfrentados pelas mulheres em sua busca por representatividade e igualdade de direitos políticos, e elas colecionam mais avanços do que retrocessos.
No século 19, o movimento sufragista ganhou força, especialmente na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, onde mulheres começaram a se organizar e a lutar pelo direito ao voto. Essas mobilizações foram inspiradas em parte pelo movimento abolicionista e se caracterizaram por campanhas publicitárias, manifestações pacíficas e, em alguns casos, ações que envolviam confronto direto.
Em decorrência do sufrágio universal, as mulheres começaram a conquistar o direito ao voto em diversos países. A Nova Zelândia foi pioneira em 1893, seguida por outros países, como a Austrália e alguns estados dos EUA. Na Europa, a Finlândia foi o primeiro país a conceder o voto feminino em 1906, e muitos outros seguiram ao longo do século. No Brasil, embora a discussão sobre o voto feminino ocorresse desde 1890, a efetivação desse direito só aconteceu décadas mais tarde.
Apesar dos avanços, as mulheres continuam enfrentando desafios significativos na política. A sub-representação feminina em cargos eletivos é uma realidade global, e a violência política de gênero é uma preocupação crescente. No Brasil, as mulheres representam mais da metade do eleitorado, mas ainda são minoria nos cargos políticos, e sofrem constantemente com assédios e atentados contra a vida.
A trajetória das mulheres na política, portanto, é marcada por lutas e conquistas significativas. Desde a obtenção do direito ao voto até a eleição de mulheres para cargos executivos e legislativos, houve avanços importantes. No entanto, a trajetória é também marcada por desafios persistentes relacionados à igualdade de gênero e à representatividade.
Violência política de gênero
A violência política de gênero é uma realidade preocupante, manifestando-se por meio de ataques misóginos, assédio e assassinatos. Essa forma de violência busca silenciar, intimidar e excluir as mulheres dos espaços de poder e decisão, utilizando-se de ataques que vão desde a difamação e assédio online até ameaças físicas, agressões e morte. Essa violência busca restringir a participação feminina na política e manter estruturas de poder desiguais.
Em 2023, a deputada estadual do Rio de Janeiro, Marina do MST (PT), e sua equipe foram agredidas fisicamente com pedras, ovos e garrafas por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, durante uma plenária de prestação de contas de seu mandato em Nova Friburgo. Antes do ataque, Marina havia recebido ameaças, que foram encaminhadas às autoridades competentes.
A líder do PSol na Câmara, Sâmia Bomfim, recebeu um e-mail ameaçador em que o agressor afirmava que ela seria amarrada e estuprada na frente do filho de 1 ano. Esse caso é um exemplo chocante de como a violência política de gênero pode assumir formas extremamente violentas e pessoais.
No final de 2023, o perfil da primeira-dama, Janja, foi hackeado, e posts regados a degradação e violência sexual foram publicados. Esse ataque não apenas visou à primeira-dama de forma direta, mas também buscou deslegitimar sua presença e voz na esfera política através de misoginia e estupro simbólico.
De todos os casos, o de Marielle Franco é, sem dúvida, um dos exemplos mais impactantes e trágicos de violência política de gênero, não apenas no Brasil mas também reconhecido internacionalmente. Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro pelo PSol, foi brutalmente assassinada em 14 de março de 2018, junto com seu motorista, Anderson Gomes.
Sua morte não foi apenas um ato de violência política, mas também de gênero e raça, tendo em vista que Marielle era uma mulher negra, bissexual, e uma defensora fervorosa dos direitos humanos, da justiça social, dos direitos das mulheres, da população LGBT e das comunidades mais vulneráveis. O fato de o caso permanecer sem solução, mesmo tendo se passado anos, reforça a ideia de que a violência política de gênero é tolerada pelas autoridades.
Marielle Franco inspirou leis estaduais contra violência política de gênero e se tornou um símbolo na luta contra esse tipo de violência. Em sua memória, o dia 14 de março foi instituído como o Dia Nacional Marielle Franco de Enfrentamento da Violência Política de Gênero e Raça, reforçando a necessidade de reconhecimento e combate a essa violência tanto no Legislativo quanto no Judiciário.
A Lei Federal 14.192, de 2021, tipifica a violência política contra as mulheres no Brasil, representando um avanço legislativo importante na luta contra essa forma de violência. No entanto, a persistência e a gravidade dos ataques destacam a necessidade de ações mais efetivas para proteger as mulheres na política, incluindo a implementação de medidas de prevenção, a repressão e o combate aos ataques, e a promoção de uma cultura de respeito e igualdade de gênero.
A violência política de gênero não apenas afeta as vítimas diretas, mas também desencoraja outras mulheres de participarem da política, perpetuando a sub-representação feminina e enfraquecendo a democracia. Combater essa violência é essencial para garantir que as mulheres possam exercer seus direitos políticos livremente e contribuir plenamente para o desenvolvimento de sociedades mais justas e igualitárias.
Mulheres mais importantes da política
Diversas mulheres têm se destacado na política mundial, deixando marcas significativas por suas contribuições, lideranças e lutas por direitos e igualdade. Abaixo, apresentamos uma lista com dez das mulheres mais influentes na política nacional e internacional, destacando seus principais feitos.
- Angela Merkel (Alemanha): chanceler da Alemanha de 2005 a 2021, Merkel foi uma das líderes mais poderosas do mundo, guiando a Alemanha e a União Europeia através de crises financeiras, a crise dos refugiados e a pandemia de covid-19. Sua liderança foi marcada pela prudência, estabilidade e compromisso com a democracia e a integração europeia.
- Dilma Rousseff (Brasil): primeira mulher eleita presidente do Brasil, em 2010, e reeleita em 2014. Durante seu governo, enfrentou desafios econômicos e políticos, incluindo manifestações populares e um processo de impeachment que levou ao seu afastamento em 2016. Rousseff é reconhecida por sua luta contra a Ditadura Militar no Brasil e por sua contribuição para políticas de redução da pobreza.
- Hillary Clinton (Estados Unidos): primeira-dama (1993-2001), senadora por Nova York (2001-2009) e secretária de Estado dos EUA (2009-2013), Clinton foi a primeira mulher a ser indicada por um grande partido para a presidência dos Estados Unidos, em 2016, destacando-se por sua defesa dos direitos das mulheres e das crianças.
- Michelle Obama (Estados Unidos): como primeira-dama dos Estados Unidos (2009-2017), Michelle Obama se destacou por suas iniciativas focadas em saúde, educação e direitos das mulheres. Sua influência transcendeu a política, tornando-se um ícone global de empoderamento feminino.
- Cristina Kirchner (Argentina): presidente da Argentina de 2007 a 2015, Cristina Kirchner foi a segunda mulher a ocupar o cargo no país. Sua gestão foi marcada por políticas de inclusão social, direitos humanos e fortalecimento da economia nacional. Deixou de ser a vice-presidente da Argentina após eleição de Javier Milei.
- Sonia Gandhi (Índia): presidente do Partido do Congresso Nacional Indiano por várias décadas, Sonia Gandhi é uma das figuras políticas mais influentes da Índia. Embora tenha recusado o cargo de primeira-ministra, sua liderança no partido tem sido crucial para a política indiana.
- Jacinda Ardern (Nova Zelândia): primeira-ministra da Nova Zelândia desde 2017, Ardern é reconhecida por sua liderança empática e eficaz, especialmente durante a crise do atentado de Christchurch em 2019 e a pandemia de covid-19. Suas políticas progressistas incluem ações contra as mudanças climáticas e pela igualdade social.
- Kamala Harris (Estados Unidos): vice-presidente dos Estados Unidos desde 2021, Harris é a primeira mulher, a primeira afro-americana e a primeira pessoa de ascendência sul-asiática a ocupar o cargo. Sua eleição representa um marco histórico na luta pela representatividade e igualdade nos EUA.
- Anielle Franco (Brasil): irmã de Marielle Franco e ministra da Igualdade Racial no governo Lula, Anielle tem sido uma voz ativa na luta contra o racismo e pela justiça social no Brasil. Sua influência e liderança são reconhecidas internacionalmente, como evidenciado por sua inclusão na lista das mulheres mais influentes do mundo pela revista Time em 2023.
- Manuela D’Ávila (Brasil): política brasileira, foi deputada federal e deputada estadual. Em 2018, concorreu à vice-presidência da República na chapa com Fernando Haddad. Atualmente, é presidente e fundadora do Instituto E Se Fosse Você?, ONG voltada para a criação de conteúdo de combate a fake news e ódio nas redes. Manuela D’Ávila é reconhecida por sua atuação em defesa dos direitos das mulheres, da igualdade de gênero e por sua luta contra a violência online.
Créditos de imagem
[2] Cris Faga / Shutterstock
Fontes
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