A sigla LGBTQIA+ faz referência a lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queer, intersexuais, assexuais e demais orientações sexuais e identidades de gênero.
Inicialmente chamada de GLS (gays, lésbicas e simpatizantes), a sigla foi mudando de acordo com as mudanças que ocorreram nas pautas e com a busca por direitos do movimento. Para cada uma das letras, há uma historicidade, e o fato de estarem representadas na sigla indica não só uma identidade, mas também o orgulho.
A bandeira do arco-íris passou a ser utilizada na década de 1970, mas existem outras, com variações de cores e símbolos. A mais recente mudança foi a incorporação das cores da luta antirracista, da bandeira trans e da simbologia intersexo.
Leia também: O que é queer?
Tópicos deste artigo
Resumo sobre LGBTQIA+
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LGBTQIA+ significa: lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queer, intersexuais, assexuais, sendo que o símbolo “+” abarca as demais orientações sexuais e de gênero, representando pluralidade.
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A origem da sigla é concomitante ao início do movimento por direitos dessa população, que foi iniciado na década de 1960, nos Estados Unidos.
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Ela é importante porque, através do reconhecimento, foi possível, historicamente, garantir direitos.
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Os símbolos LGBTQIA+ são a bandeira do arco-íris e demais bandeiras de cada uma das identidades.
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A bandeira LGBTQIA+ foi encomendada a um designer pelo primeiro parlamentar assumidamente gay, o vereador de São Francisco, Harvey Milk, para simbolizar o movimento.
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A nova bandeira LGBTQIA+ foi lançada em 2022 e incorpora as cores da luta antirracista, da bandeira trans e pessoas intersexo.
O que significa LGBTQIA+?
A sigla LGBTQIA+ significa:
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lésbicas;
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gays;
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bissexuais;
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trans (representando tanto transgêneros como travestis, no Brasil);
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queer;
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intersexuais;
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assexuais;
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demais orientações sexuais e identidades de gênero.
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Origem da sigla LGBTQIA+
A sigla foi mudando ao longo da história de luta dos movimentos. É consensuado como marco do movimento a Revolta de Stonewall, ocorrida em Nova Iorque, EUA, em 1968.
Com os movimentos por liberdade emblemáticos da década de 1960, essa lei caiu, porém a maioria dos lugares, por exemplo, sequer vendiam bebidas alcoólicas a pessoas LGBTQIA+; outros, ainda, não deixavam essas pessoas entrarem. Uma lei local nova-iorquina regrava até mesmo o vestuário, não sendo permitido, assim, que fossem usadas duas “peças do sexo oposto”. Ou seja, havia um nítido veto a pessoas trans ou até mesmo a mulheres que usassem calça e camisa, por exemplo.
Nesse sentido, o Stonewall foi, primeiramente, um marco, por ser o primeiro bar a aceitar e se declarar abertamente voltado a esse público. Entretanto, sofria perseguições.
Contra tais ações do Estado por meio da ação policial, foram organizadas diversas manifestações. A Europa passava por outros levantes de jovens estudantes, como o Maio de 1968, na França, e os movimentos antirracistas e da contracultura nos próprios EUA. Esse clima de lutas contagiou toda uma geração.
Em uma das frequentes batidas policiais em Stonewall, uma mulher, lésbica, indignada por sua prisão sem sentido, bradou às pessoas que passavam por ali e às que estavam no bar. Então, vários transeuntes aderiram ao chamado e também começaram a protestar. Diversas pessoas foram presas, e muitos locais foram incendiados durante toda a madrugada daquele dia.
O bar reabriu as portas no dia seguinte, mesmo com tudo o que tinha acontecido. E assim se seguiram os dias — a cada repressão, uma reação. Casais LGBTQIA+ passaram a andar de mãos dadas nas ruas, mesmo sendo proibido. Caso a polícia viesse, com truculência, respondiam no mesmo tom, jogando pedras e pedaços de pau, as “armas” que tinham.
Nesse contexto, duas travestis foram fundamentais: Marsha P. Johnson e Sylvia Rivera, as primeiras a iniciarem as reações, inicialmente jogando copos de vidro em carros da polícia. Marsha, uma mulher negra, trans e prostituta, foi uma das primeiras e principais organizadoras da I Parada Gay (como era chamada na época) do mundo, que aconteceu nos arredores de Stonewall, em 28 de junho de 1968, reunindo milhares de pessoas.
A partir de então, movimentos organizados surgiram, como a Frente de Libertação Gay, nos EUA. Atualmente, todos os anos, em milhares de cidades do mundo, acontecem as paradas, e o dia 28 de junho foi estabelecido como o Dia do Orgulho LGBTQIA+.
Leia também: Movimento negro — a luta pela igualdade social e de direitos para a população negra
Importância da sigla LGBTQIA+
Apesar de sabermos que existiam práticas homossexuais desde pelo menos a Grécia Antiga na história mundial — e, em muitas civilizações, serem tidas como naturais e até mesmo ritos de passagem|1| —, houve também muita repressão ao longo dos séculos. São exemplos famosos e marcantes o do escritor Oscar Wilde, por exemplo, autor de O retrato de Dorian Gray, uma das maiores obras da literatura mundial, que foi condenado a trabalhos forçados por ser gay, na Inglaterra, no início do século XX. Ou ainda o caso do inventor do computador, Alan Turing, que nos deixou esse enorme legado, mas em vida foi castrado quimicamente, também na Inglaterra, já na década de 1960.
Além disso, os regimes de exceção política perseguiam pessoas LGBTQIA+. Durante o nazismo, na Alemanha, a essas pessoas eram dados triângulos que eram costurados em seus uniformes em campos de concentração ou colocados nas portas de suas casas antes de serem capturadas. Aos homens gays, triângulos rosas; às mulheres lésbicas — chamadas de “mulheres antissociais” —, triângulos pretos invertidos.
Na Ditadura Civil-Militar Brasileira, existiram grupos de extermínio a travestis, que as perseguiam nas ruas, em processos higienistas que também tentavam “varrer” pessoas em situação de rua, em sua maioria negras. No mesmo ano de 1968, enquanto Stonewall acontecia nos EUA e o Maio de 1968 na França, no Brasil, estava de passagem a rainha da Inglaterra Elizabeth II. Para que as ruas de São Paulo parecessem limpas aos olhos da monarca, uma grande operação foi montada, com rondas policiais todas as noites, comandadas pelo delegado José Wilson Richetti, que prendiam, batiam, torturavam e até matavam essas populações.|2|
A importância do movimento LGBTQIA+ deve-se a esses e tantos outros casos de violências sofridas por uma enorme parcela da população ao longo do tempo. Foi para lutar contra tais abusos que os movimentos surgiram. Mas não só de maneira reativa. Hoje, vemos ações que garantem direitos como o casamento entre pessoas do mesmo gênero, o reconhecimento do nome social, a autorização da adoção para casais homoafetivos, entre outros. Apesar disso, em alguns países ainda é crime ser uma pessoa LGBTQIA+. E até em locais onde alguns avanços já foram alcançados, há linhas da Medicina e Psicologia que ainda encaram a homossexualidade e a transgeneridade como doença, mesmo que tenham saído dos manuais da Classificação Internacional de Doenças (CID) há anos.|3|
Símbolos LGBTQIA+
Há, hoje em dia, uma infinidade de símbolos que passaram a ser adotados pelo movimento LGBTQIA+ ao longo do tempo. Os mais conhecidos são a bandeira com o arco-íris e o triângulo rosa (que remete à perseguição nazista, já abordada neste artigo).
O triângulo foi ressignificado e passou de um marco de dor e violência extrema a um elemento de identidade que remete à memória dos que se foram simplesmente por existirem.
Aos poucos, cada uma das orientações sexuais e identidades de gênero foi também criando sua bandeira com cores distintas, como é o caso da bandeira das pessoas trans. Essa é a parte da população LGBTQIA+ que mais sofre violências, ao ponto de a perspectiva de vida de uma travesti no Brasil ser de apenas 35 anos|4|. Sua bandeira foi projetada por Monica Helms, em 1999, nas cores azul, rosa e branco. Há também a bandeira bi, uma das mais invisibilizadas dentre as demais da sigla, nas cores rosa, roxa e azul, desenhada por Michael Page, em 1998. Já as lésbicas nunca adotaram uma bandeira, mas utilizam alguns símbolos específicos, como o triângulo preto ou o duplo vênus.
Bandeira LGBTQIA+
A bandeira LGBTQIA+, que agrega todas as cores como significado de inclusão, foi idealizada pelo designer Gilbert Baker e apresentada ao público em junho de 1978, dez anos após Stonewall, durante uma das Paradas do Orgulho LGBTQIA+, quando essas já estavam consolidadas nos EUA.
Ela foi encomendada pelo primeiro político assumidamente gay daquele país, Harvey Milk, supervisor (como um vereador, no Brasil) da cidade de São Francisco que, pautando os direitos LGBTQIA+ na Câmara e vendo que o movimento estava crescendo cada vez mais, sentiu que seria necessário um símbolo.
O projeto inicial tinha as seguintes cores e significados:
Segundo o artista e criador, cada uma dessas cores representava um aspecto diferente da humanidade.
Durante a epidemia de HIV/aids, na década de 1980 e início de 1990, que atingiu de forma aguda a população LGBTQIA+, sobretudo trans e gays, chegou-se a colocar o preto na bandeira, simbolizando o luto por tantas vidas perdidas e o alerta quanto à saúde dessa população. Depois, foi retirado.
Nova bandeira LGBTQIA+
Assim como a sigla, os debates, as pautas e as lutas LGBTQIA+, a bandeira, frequentemente, passa por novas discussões. Lançada em 6 de dezembro de 2022, a bandeira atual inclui a figura do orgulho intersexo, as cores da bandeira trans, bem como da luta antirracista.
Há o entendimento de que, pelo fato de pessoas negras e LGBTQIA+ passarem por situações parecidas de preconceito, a luta anti-LGBTQIA+fobia não pode ser descolada da luta antirracista.
Lançada no Brasil na Parada do Rio de Janeiro, a nova versão começou a ser projetada pelo designer Daniel Quasar, em 2018, com a inclusão das questões racial e trans, e tomou sua forma final com o designer Valentino Vecchietti, que acrescentou a simbologia intersexo.
Notas
|1| ANDRADE, T. S. M. O relacionamento homoerótico na Grécia Antiga. Faces da História, v. 4, n. 2, p. 58-72, 3 jan. 2018. Disponível aqui. Acesso em: 28 de dezembro de 2022.
|2| Relatório da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo, Tomo I, Parte II. Disponível aqui. Acesso em: 28 de dezembro de 2022.
|3| OMS retira a transexualidade da lista de doenças mentais. Reportagem do Jornal El País de 18 jun. 2018. Disponível aqui. Acesso em: 28 de dezembro de 2022.
|4| Dossiê: Assassinatos e Violência Contra Travestis e Transexuais Brasileiras. Disponível aqui. Acesso em: 28 de dezembro de 2022.