Émile Durkheim foi um psicólogo, filósofo e sociólogo francês do século XIX. Junto a Karl Marx e Max Weber, compõe a tríade dos pensadores clássicos da Sociologia.
Apesar de Auguste Comte ter cunhado o termo Sociologia e estabelecido as necessidades de uma ciência que estudasse a sociedade, foi Durkheim quem formulou as regras do método sociológico e emancipou a Sociologia como uma ciência autônoma. Durkheim também foi o primeiro docente a ocupar uma cátedra de Sociologia em uma universidade.
Biografia
David Émile Durkheim nasceu em Épinal, na França, em 15 de abril de 1858, em uma família tradicional de rabinos. Estudou no Liceu Louis-Le-Grand e na Escola Normal Superior de Paris, instituições tradicionais. A formação das instituições francesas da época foi alvo de crítica por Durkheim, que, mais tarde, afirmou haver nas escolas uma formação muito literária e pouco científicai.
Seus estudos incluíam Direito e Economia (sua formação acadêmica inicial), Filosofia (disciplina que lecionou em liceus franceses), Ciências da Natureza, principalmente a Biologia de Herbert Spencer, pensador que marcou profundamente os seus estudos em relação aos modelos biológicos de aplicação sociológica, e a Psicologia, por meio do Laboratório de Psicologia Experimental, de Wilhelm Wundt.
Seus estudos variados induziram Durkheim a procurar modelos biológicos e sociais conjuntos e também a tecer um olhar diferenciado para a Antropologia. O conjunto de fatores resultou na formulação da teoria dos fatos sociais, que afirmaria a primazia do entendimento de fatos gerais que marcam as sociedades (como leis), os quais seriam maiores e mais facilmente explicáveis que as questões individuais psicológicas.
A maior ambição (e mais tarde o maior fato consumado) do pensador na época era criar um campo de estudos das Ciências Sociais totalmente autônomo, que não dependesse dos domínios de outras ciências, como a Biologia e a Psicologia, e não dependesse dos modelos demasiadamente abstratos da Filosofia que Comte tinha legado ao trabalho sociológico.
Aos 29 anos de idade, Durkheim passou a integrar o corpo docente da Universidade de Bordéus, como encarregado de cursos, criando e ocupando a primeira cátedra de Sociologia no ensino superior. A partir daí foi marcado o início oficial da Sociologia enquanto disciplina e ciência autônoma, apesar das primeiras ideias e o nome terem surgido anos antes com o filósofo francês Auguste Comte.
Toda a produção intelectual de Durkheim, a partir de 1887, voltou-se para o estudo da Sociologia e do entendimento do que ele chamou de fatos sociais, que seriam leis gerais que regem as sociedades e conferem ao cientista a chave para o estudo sociológico.
Influências
Podemos contar vários pensadores que influenciaram Durkheim para a formulação do montante de sua obra. Duas das principais mentes que marcaram os inícios dos estudos de Durkheim são o antropólogo e biólogo inglês Herbert Spencer, um dos teóricos do liberalismo clássico, e Alfred Espinas, biólogo, filósofo e sociólogo estudioso de Comte, que durante certo período de sua vida mostrou-se adepto ao positivismo.
Durkheim criticou algumas ideias de Comte quanto à Sociologia, o que demonstra as influências sofridas pelo pensador considerado o criador do método sociológico por aquele que é considerado o “pai” da Sociologia (Comte). Para Durkheim, apesar da pretensão oposta, o modelo sociológico comtiano é demasiadamente filosófico, pois a base do positivismo e da Sociologia é a lei dos três estados, que não recorre a um método preciso de observação e estudo rigoroso de uma sociedade.
Regras do método sociológico
A Sociologia, enquanto ciência bem estruturada, deve ter um método próprio que garanta que ela não caia nas contradições e na apressadas conclusões do senso comum.
Se existe uma ciência das sociedades, é de desejar que ela não consista simplesmente numa paráfrase dos preconceitos tradicionais, mas nos faça ver as coisas de maneira diferente da sua aparência vulgar; De fato, o objeto de qualquer ciência é fazer descobertas, e toda descoberta desconcerta mais ou menos as opiniões herdadasii.
Se existe uma ciência da sociedade com estatuto científico, ela deve partir de um método rigoroso que impeça a interferência tradicional. Os modelos anteriores, como o de Comte, levam o sociólogo a cair em um modelo de dedução metafísica filosófica que, segundo Durkheim, teria mais utilidade para fazer uma filosofia da história do que para construir uma ciência da sociedade. O sociólogo deve buscar entender os fatos comuns da sociedade, os fatos sociais, como “coisas” objetivas.
Uma das tarefas do sociólogo é, então, compreender esses fatos que organizam a sociedade de determinado local e determinada época, como a educação. Deve-se ter em mente, porém, que, apesar das diferenças, existem estruturas organizacionais que regem essas sociedades e moldam-nas de maneira mais ou menos similar, ou seja, apesar das diferenças de época e lugar, existem sempre elementos em comum determinados pelos fatos sociais que possibilitam ao sociólogo traçar um método científico de observação.
Os fatos sociais são distinguidos pela “sua exterioridade em relação às consciências individuais” e pela “ação coerciva que exerce ou é suscetível de exercer sobre essas mesmas consciênciasiii”. Isso significa dizer que os fatos sociais são maiores que qualquer consciência individual e eles criam o que o sociólogo chamou de consciência coletiva.
Não há, por conta da coercitividade dos fatos sociais, maneira de uma consciência psicológica individual (uma pessoa) agir de livre e espontânea vontade, infringindo as regras sociais, sem que ela não seja acusada ou punida depois, ou não seja, ao menos, incompreendida.
Importantes elementos encontrados nas sociedades que atuam como dados de análise para o sociólogo são as formas de coesão. Essas formas de coesão delineiam o modo como a sociedade comporta-se, o tipo de Direito e de Justiça exercidos nessa sociedade e o modo de solidariedade que organiza tal sociedade. Também há a determinação da divisão social do trabalho, que é diferente em cada tipo de sociedade. As duas principais formas de coesão são formadas pela:
Solidariedade mecânica: delineia as sociedades mais antigas e rudimentares, sem a influência do capitalismo. A sociedade como um todo é fechada como um mecanismo autônomo. Há aqui maior coesão social e ausência da divisão social do trabalho, que fecha a sociedade e promove a ajuda mútua entre as pessoas. Também há uma forma de direito mais primitiva que considera o ato social indesejado um crime contra toda a sociedade e que deve ser exemplarmente punido por meio do suplício público e do castigo físico.
Solidariedade orgânica: como um organismo que necessita de várias peças e mecanismos distintos para funcionar, são as sociedades mais desenvolvidas e sob influência do capitalismo. Há a divisão social do trabalho e a desigualdade social, que fecha os grupos em seus interiores e promove a solidariedade apenas entre os grupos fechados que enxergam a irmandade apenas entre si e não com os outros.
O suicídio
Durkheim entende que o suicídio é um fato social presente em todas as sociedades, variando apenas os números e os tipos de suicídio desenvolvidos em diferentes sociedades. Ele considera o suicídio como “toda morte que resulta mediata ou imediatamente de um ato positivo ou negativo realizado pela própria vítima.iv”
Isso significa que o suicídio é classificado como tal apenas quando há a intenção do suicida de provocar a própria morte, deixando de lado os casos acidentais ou de imprudência. Existem três tipos de suicídio que marcam as sociedades e variam, de acordo com cada lugar e cada tempo. São eles:
Suicídio egoísta: quando o ego pessoal sobrepõe-se ao ego social, e o indivíduo não suporta a vida e não vê, na sociedade, motivos para continuar vivo.
Suicídio altruísta: quando o ego social é maior que o ego individual, e o sujeito encerra a própria vida por uma ação maior que ele, em benefício da sociedade. São exemplos os pilotos kamikaze da Segunda Guerra Mundial, que chocavam seus próprios aviões contra os alvos.
Suicídio anômico: acontece em situação de anomia social, ou seja, desordem e caos. Geralmente ele acontece em situações de crise e guerra, nas quais as pessoas sentem-se afetadas pela anomia e não vêm sentido em viver daquela maneira ou têm a mente afetada pelo caos.
Livros
A Sociologia clássica foi marcada por muitas obras publicadas por Durkheim, como:
Elementos de Sociologia (1889)
A Divisão do Trabalho Social (1893)
As Regras do Método Sociológico (1895)
O Suicídio (1897)
As Formas Elementares da Vida Religiosa (1912)
Educação e Sociologia (1922 – publicação póstuma)
Sociologia e Filosofia (1924 – publicação póstuma)
A Educação Moral (1925 – publicação póstuma)
O Socialismo (1928 – publicação póstuma)
Em 1898, o pensador fundou L’Année Sociologique (Os Anais Sociológicos), revista de grande importância histórica para a Sociologia, pois os primeiros trabalhos de Sociologia Clássica da Escola Francesa de Sociologia foram publicados lá.
Frases
“Se todos os corações vibram em uníssono, não é por causa de uma concordância espontânea e preestabelecida; é que uma mesma força os move no mesmo sentido. Cada um é arrastado por todos.”
“A religião não é somente um sistema de ideias, ela é antes de tudo um sistema de forças.”
“É fato social toda maneira de agir, fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então ainda, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando existência própria, independente das manifestações individuais que possa ter.”
“A sociedade e cada meio social particular determinam o ideal que a educação realiza.”
i GIANNOTTI, J. A. Durkheim: vida e obra. In: DURKHEIM, E. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1983.
ii DURKHEIM, E. As Regras do Método Sociológico. Tradução de Margarida Garrido Esteves. In: DURKHEIM, E. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 73.
iii _____. As Regras do Método Sociológico. Tradução de Margarida Garrido Esteves. In: DURKHEIM, E. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 87.
iv _____. O suicídio. Tradução de Luz Cary, margarida Garrido e J. Vasconcelos Esteves. In: In: DURKHEIM, E. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 166.