Democracia é a prática política de dissolução, de alguma maneira, do poder e das decisões políticas em meio aos cidadãos. O termo democracia tem origem grega, podendo ser etimologicamente dividido da seguinte maneira: demos (povo), kratos (poder).
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Tópicos deste artigo
Resumo sobre democracia
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Democracia é a prática que garante aos cidadãos o poder de participação nas decisões políticas de seu país.
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Originou-se na Grécia Antiga, no entanto, na época, cidadãos eram um grupo reduzido de pessoas, excluindo-se mulheres e escravizados, por exemplo.
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Há três tipos de democracia: direta, representativa e participativa.
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A Inglaterra é um exemplo de monarquia democrática, exercendo o tipo representativo, e a Suíça é um exemplo de democracia participativa.
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O conceito de democracia foi bastante ampliado desde sua origem, e, mais recentemente, sofreu alterações com base nos ideais do iluminismo e após a Revolução Francesa.
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Democracia e ditadura são termos que se opõem e se anulam. Onde uma está, não pode haver a outra. Vários aspectos garantem a distinção desses dois estados, sendo: eleições idôneas, acesso à informação e liberdade de associação política alguns deles.
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No Brasil, a democracia sempre esteve oscilando, com vários golpes de Estado praticados ao longo da nossa formação enquanto nação.
Videoaula sobre democracia
Origem da democracia
A democracia ocidental teve origem em Atenas, na Grécia Clássica. Os gregos antigos criaram a ideia de cidadania, que se estendia àquele que é considerado cidadão e poderia, portanto, exercer o seu poder de participar da política da cidade.
A democracia grega era restrita, e essa ideia começou a mudar a partir da Revolução Francesa e do iluminismo moderno, que, por meio do republicanismo, passaram a advogar por uma participação política de todas as classes sociais. Ainda na Modernidade, apesar de avanços políticos e de uma ampliação do conceito de democracia, as mulheres não tinham acesso a qualquer tipo de participação democrática ativa nos países republicanos, fato que somente começou a ser revisto com a explosão do movimento feminista das sufragistas, que culminou na liberação, pela primeira vez na história, do voto feminino, na Nova Zelândia, em 1893.
Apesar de conhecermos de perto a democracia, o conceito que designa a palavra é amplo e pode ser dividido e representado de diferentes maneiras. Não existindo apenas um tipo de regime político democrático, a democracia divide-se, basicamente, em: direta, participativa e representativa.
Tipos de democracia
Podemos estabelecer três tipos básicos de democracia:
Os cidadãos atenienses tinham muito apreço por sua política e reconheciam-se como privilegiados por poderem participar daquele corpo tão importante para a cidade, por isso eles levavam a sério a política. Os cidadãos preparavam-se, mediante o estudo da Retórica, do Direito e da Política, para as assembleias. Eram considerados cidadãos apenas homens, em sua maioridade, nativos de Atenas ou filhos de atenienses e livres. As decisões, então, eram tomadas por todos, o que era viável devido ao número reduzido de cidadãos.
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Democracia representativa
É mais comum entre os países republicanos do mundo contemporâneo. Pela existência de vastos territórios e de inúmeros cidadãos, é impossível pensar em uma democracia direta, como havia na Grécia. Vários fatores contribuíram para a formação desse tipo de democracia, dos quais podemos destacar:
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Sufrágio universal.
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Existência de uma Constituição que regulamenta a política, a vida pública e os direitos e deveres de todos.
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Igualdade de todos perante a lei, o que está estabelecido pela Constituição.
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Necessidade de eleger-se representantes, pois não são todos que podem participar.
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Necessidade de alternância do poder para a manutenção da democracia.
As democracias representativas são regidas por Constituições que estabelecem um Estado Democrático de Direito. Nessas organizações políticas, todo cidadão é considerado igual perante a lei, e todo ser humano é considerado cidadão. Não pode haver desrespeito à Constituição, a Carta maior de direitos e deveres do país, e os cidadãos elegem representantes que legislarão e governarão em seu nome, sendo representantes do poder popular nos poderes Executivo e Legislativo.
Nem uma democracia direta, como era feita na Antiguidade, nem totalmente indireta, como acontece com a democracia representativa, a democracia participativa mescla elementos de uma e de outra. Existem eleições que escolhem e nomeiam membros do Executivo e do Legislativo, mas as decisões somente são tomadas por meio da participação e autorização popular.
Essa participação acontece nas assembleias locais, em que os cidadãos participam, ou pela observação de líderes populares, nas assembleias restritas, que podem ou não ter direito a voto. Também acontecem plebiscitos para ser feita uma consulta popular antes de tomar-se uma decisão política. Esse tipo de democracia permite uma maior participação cidadã, mesmo com a ampliação do conceito de cidadania, e pode ser chamada democracia semidireta.
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Exemplos de democracia
Muitos países republicanos ocidentais têm, em algum grau, o desenvolvimento de algum tipo de democracia. Também existem grandes monarquias, como a Inglaterra, que são democráticas. Em sua maioria, os países democráticos executam a democracia representativa.
O sistema político no Brasil pode ser chamado de representativo, mas a nossa Constituição Federal de 1988 permite uma ampla participação popular, que, caso fosse efetivamente aplicada, poderia colocar-nos no patamar de democracia participativa, inclusive prevendo a possibilidade de uma iniciativa popular legislativa.
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Alguns estados dos Estados Unidos exercem a participatividade semidireta, e um bom exemplo de país que exerce a democracia participativa é a Suíça. Já a democracia direta não existe mais em nível nacional na contemporaneidade devido à sua inexequibilidade perante a ampliação do conceito de cidadania.
Democracia moderna
O turbilhão de ideais surgido na Europa durante a Modernidade deu origem ao iluminismo e às chamadas revoluções burguesas. O iluminismo é um bom exemplo do resgate de certos ideais ocidentais, esquecidos durante muito tempo, contra o chamado Antigo Regime. Tratava-se de pensar em uma ampliação do conceito de soberania (agora popular) e de cidadania. Para tanto, era necessário reavivar a ideia de democracia dos gregos e trazer uma nova forma de pensar a política, sem estratificação social, como acontecia no sistema aristocrático europeu até então.
Os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, entoados como mantras durante a Revolução Francesa, são um forte símbolo da democracia moderna, que nasce ao mesmo tempo que o republicanismo; porém vale lembrar que república e democracia não são sinônimos. A democracia moderna prevê a criação de um Estado de direito, onde todos são, a princípio, livres e iguais, não importando a origem, a classe social, a cor ou a religião.
Aliás, o Estado democrático deve ser laico, para que contemple as pessoas de todas as religiões existentes. As democracias mais maduras datam do mesmo período em que crescia o pensamento iluminista europeu, no século XVIII, e podemos citar a França e os Estados Unidos como as mais antigas.
Nessas democracias maduras, há um problema recente relacionado à pouca participação popular e à insatisfação com a criação de um Estado, às vezes, omisso, às vezes, burocrático demais, dificultando a vida dos cidadãos, acirrando as desigualdades sociais ou sendo travado pela corrupção do sistema.
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Democracia e ditadura
Sistematicamente, democracia e ditadura são termos opostos. Não é o simples fato de haver escolha política em um país (eleição) que o torna, automaticamente, uma democracia. Muitas ditaduras permitem eleições para que o processo político pareça mais legítimo, porém a ausência de participação popular na política e outros fatores podem denominar o que chamamos de ditadura.
Para ser considerado, efetivamente, uma democracia, um país deve conter, entre outras coisas:
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liberdade de expressão e de imprensa;
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possibilidade de voto e elegibilidade política;
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liberdade de associação política;
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acesso à informação;
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eleições idôneas.
A não observância dos fatores anteriores, somada a outros fatores, como a derrubada de uma Constituição legal sem a formação de uma Assembleia Constituinte, pode indicar a existência de uma ditadura.
Quando um Estado Democrático de Direito, representado pela Constituição, é, por algum motivo, suspenso, interrompido ou deixado de lado, podemos dizer que há a formação de um Estado de exceção, uma das características de uma ditadura.
O filósofo francês contemporâneo Jacques Rancière escreveu um livro intitulado O ódio à democracia, em que ele disserta sobre a crise democrática que tem assolado os países no século XXI. Segundo o pensador, o mundo tem agido contra a democracia por uma espécie de medo que ela pode colocar no cidadão médio: o medo de que a democracia seja o regime político por excelência.
Rancière afirma que a democracia é o regime do dissenso, e isso tem promovido a cisão da população. É normal que haja discordância dentro de um regime democrático, mas deve haver também respeito mútuo por todas as partes que respeitam a democracia, e deve haver uma tentativa de construir-se um projeto comum com base na discordância.
A partir do momento em que setores autoritários não respeitam os seus adversários, tem-se início um processo de ódio contra a democracia que pede o fim dela para que o adversário e a sua posição política sejam eliminados. É daí que surge o anseio pela ditadura.
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Democracia no Brasil
Como tantas outras coisas no Brasil, a relação entre democracia e política aqui é complicada. Na Primeira República, ou República Velha, tivemos um período provisório comandado por setores militares (1889-1894). Um período em que a chamada política café com leite deu início a um longo conchavo entre líderes de São Paulo e Minas Gerais para a presidência do país.
Em 1930, uma chapa liderada por Júlio Prestes, paulista, foi indicada e eleita, porém os políticos mineiros não aceitam a eleição, iniciando a Revolução de 1930, que acabou com a república e iniciou a Era Vargas. Uma característica da Primeira República era o voto de cabresto, em que os coronéis locais mandavam e fiscalizavam as pessoas quando votavam, criando uma fraude que descaracteriza a legitimidade do processo democrático.
A democracia só foi restabelecida no Brasil em 1945, e, em 1964, o país viveu outro golpe contra a república brasileira e contra a democracia. Trata-se do golpe civil-militar, que impôs um regime de exceção entre 1964 e 1965, suspendendo direitos civis e a Constituição, impondo a censura contra a imprensa e fechando, em alguns momentos, o Congresso Nacional.
Em 1985, a ditadura militar acabou, mas deixou como marca as eleições indiretas para presidente. Houve a prevalência de um grande movimento, iniciado ainda no fim da ditadura, que se chamava Diretas Já! e pedia o estabelecimento de eleições diretas para presidente. Em 1988, aconteceu a Assembleia Constituinte, que criou a Constituição Federal de 1988 e restabeleceu a possibilidade da democracia plena, reforçando direitos e promovendo a igualdade.
O respeito a essa democracia, até mesmo por parte de representantes do Legislativo, do Judiciário e do Executivo, e por parte da população civil, ainda é um problema, pois temos visto a violação sistêmica dos valores constitucionais por parte de políticos eleitos pelo povo e por parte do próprio povo. Em meio a altos e baixos, a democracia brasileira segue oscilando.