O Classicismo foi um movimento cultural que fez parte do Renascimento europeu, durante os séculos XV e XVI. Como o próprio nome aponta, a proposta do Classicismo era um retorno às formas e temas da Antiguidade Clássica, ou seja, Grécia e Roma antigas.
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Contexto histórico do Classicismo
O período da Idade Média durou cerca de 10 séculos na Europa (século V – século XV). Durante esse longo período de tempo, o desenvolvimento científico e cultural dependia do aval ou do aceite da Igreja Católica, que exercia influência política e socioeconômica em toda a Europa.
Enquanto a riqueza na Idade Média estava relacionada à posse da terra e à tradição, as trocas comerciais que se estabeleceram com o mercantilismo tornaram o dinheiro a grande fonte de poder. O intercâmbio com civilizações da Ásia e da África, sobretudo com povos de origem árabe, abriu para os europeus novos horizontes, como o desenvolvimento da matemática e os instrumentos de navegação, como o astrolábio.
Os espaços geográficos abriam-se, com a descoberta de novas rotas pelo mar, levando até a chegada aos territórios do grande continente americano: eram as Grandes Navegações.
Tudo isso foi possível graças ao Renascimento, movimento científico e cultural que tomou conta da Europa no século XV. Esquivando-se da censura ideológica da Igreja, pensadores e cientistas elaboraram novas teorias e invenções: Nicolau Copérnico propõe o modelo heliocêntrico do Universo, Galileu Galilei descobre as leis que regem a queda dos corpos, Johann Gutemberg inventa os tipos móveis para imprimir os livros, tarefa antes delegada aos monges copistas.
O horizonte cultural do Renascimento era a Antiguidade Clássica. A Grécia Antiga é considerada o berço do pensamento ocidental (tendo influenciado diretamente a cultura dos romanos), por isso o retorno às formas clássicas foi o propósito estético dos renascentistas. O Classicismo tem sua gênese na Itália, ao final do século XIII, com o surgimento do pensamento humanista.
Principais características do Classicismo
Busca pelo equilíbrio, pela proporção, pela objetividade e pela transparência.
Obra mimética como reflexão de uma natureza que segue leis universais, ou seja, a obra como concerto harmônico.
Contenção da subjetividade, dos ímpetos da interioridade: o que vale é a obra, não o que sente ou pensa o autor. O autor deve desaparecer perante a obra.
Rigor formal: cada forma utilizada no texto clássico deve seguir um conjunto de regras próprio.
Separação das artes: os gêneros textuais não se misturam. A poesia lírica tem seu próprio método e características que não devem ser confundidos com aqueles da poesia épica, ou da dramaturgia, por exemplo.
Noção do ideal de beleza grego, também norteado pela proporção e pelo equilíbrio das formas.
Neoplatonismo.
Temas da mitologia greco-romana.
Valorização da racionalidade em oposição à sentimentalidade e do universal em detrimento do particular.
Antropocentrismo, a centralidade da existência humana em relação ao Universo e àquilo que o compõe.
Obra como veiculadora de verdades e ensinamentos que permitam aperfeiçoar a alma humana.
Adoção de formas textuais da Antiguidade Clássica, predominantemente a dramaturgia e os gêneros da tragédia e da comédia, e a poesia, nos gêneros lírico e épico.
Classicismo em Portugal
Principais autores e obras do Classicismo
Francisco de Sá de Miranda (Coimbra, 1481 – Amares, 1558)
Introduziu também, em língua portuguesa, as formas da canção da sextina e as produções em tercetos e em oitavas, sendo responsável pela formação dos poetas portugueses, tendo grande influência na literatura que se desenvolveu no período.
Eram parte de suas temáticas a reflexão moral, filosófica e política, além do lirismo amoroso. Escreveu também textos dramatúrgicos e cartas em forma de verso.
Exemplo de soneto de Sá de Miranda
(Sá de Miranda)
Luís Vaz de Camões (1524/1525-1580)
O berço de nascimento de Camões é incerto: provavelmente Lisboa, provavelmente em 1524 ou 1525, mas as cidades de Coimbra, Santarém e Alenquer também reivindicam ser o local onde o poeta nasceu.
De origem fidalga, Camões teve uma educação sólida e era conhecedor de história, geografia e literatura. Deu início ao curso de Teologia na Universidade de Coimbra, que abandonou por levar uma vida incompatível com os preceitos religiosos. Conquistador, Camões teve muitas paixões e seus versos eram muito prestigiados pelas damas da corte.
Camões é considerado o mais importante poeta de língua portuguesa e um dos maiores da literatura universal. Sua produção literária é múltipla e contempla tanto as formas eruditas quanto as formas populares, de trovas, inspiradas em velhas cantigas medievais. A obra de Camões pode ser dividida em dois eixos principais: a poesia lírica e a épica.
A lírica camoniana é composta principalmente de temas amorosos, bastante influenciada pelo neoplatonismo, que convive com os temas sensuais, estabelecendo quase sempre uma contradição. As antíteses da presença-ausência, amor espiritual-amor carnal, vida-morte, sonho-realidade são muito presentes em seus poemas, o que o torna um antecipador do movimento maneirista.
Além disso, Camões compôs na chamada “medida velha”, as redondilhas, ligadas à tradição popular, e na “medida nova”, o poema decassílabo, forma preferida para a exposição de temas e sentimentos complexos.
Exemplo da poesia de Camões
Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
Algua cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.
(Camões)
Camões ficou muito conhecido por seu trabalho como sonetista, mas sua grande obra foi Os Lusíadas, poema épico de cunho nacionalista que exalta o período das Grandes Navegações portuguesas. Inspirado em Virgílio e Homero pela forma e pelo tema, Camões utiliza-se também da mitologia greco-romana para tecer a epopeia: Baco teria se voltado contra os portugueses, por ser dono dos territórios indianos, e Vênus, por gostar do povo lusitano, estaria a seu favor.
Canto I
[…]
(Camões, Os Lusíadas.)
Exercícios resolvidos sobre Classicismo
1. (Enem 2012)
LXXVIII (Camões, 1525?-1580)
CAMÕES, L. Obra completa. Rio de janeiro: Nova Aguilar, 2008.
A pintura e o poema, embora sendo produtos de duas linguagens artísticas diferentes, participaram do mesmo contexto social e cultural de produção pelo fato de ambos
apresentarem um retrato realista, evidenciado pelo unicórnio presente na pintura e pelos adjetivos usados no poema.
valorizarem o excesso de enfeites na apresentação pessoal e na variação de atitudes da mulher, evidenciadas pelos adjetivos do poema.
apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela sobriedade e o equilíbrio, evidenciados pela postura, expressão e vestimenta da moça e os adjetivos usados no poema.
desprezarem o conceito medieval da idealização da mulher como base da produção artística, evidenciado pelos adjetivos usados no poema.
apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela emotividade e o conflito interior, evidenciados pela expressão da moça e pelos adjetivos do poema.
Resolução
Alternativa C. Tanto os adjetivos do poema (“serenidade deleitosa”, “moderada e graciosa” etc.) como a postura e vestimentas da mulher retratada na pintura indicam os ideais classicistas da sobriedade e do equilíbrio.
2. (UFSCar, 2003) A questão seguinte baseia-se no poema épico Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, do qual se reproduzem, a seguir, três estrofes.
Os versos de Camões foram retirados da passagem conhecida como O Velho do Restelo. Nela, o velho
abençoa os marinheiros portugueses que vão atravessar os mares à procura de uma vida melhor.
critica as navegações portuguesas por considerar que elas se baseiam na cobiça e busca de fama.
emociona-se com a saída dos portugueses que vão atravessar os mares até chegar às Índias.
destrata os marinheiros por não o terem convidado a participar de tão importante empresa.
adverte os marinheiros portugueses dos perigos que eles podem encontrar para buscar fama em outras terras.
Resolução
Alternativa B. Logo na primeira estrofe, o velho, ao olhar para os marinheiros portugueses, balança três vezes a cabeça, em sinal de descontentamento, e põe-se a dizer que é a fama e a vontade de poder que movem os homens.