Alteridade: entenda esse importante conceito

A alteridade é o reconhecimento de que existem pessoas e culturas singulares e subjetivas que pensam, agem e entendem o mundo de suas próprias maneiras. Reconhecer a alteridade é o primeiro passo para a formação de uma sociedade justa, equilibrada, democrática e tolerante, onde todas e todos possam expressar-se, desde que respeitem também a alteridade alheia.

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Significado de alteridade

O dicionário Aurélio traz a seguinte definição de alteridade:

“al.te.ri.da.de – (francês alterité) – substantivo feminino – 1. Qualidade do que é outro ou do que é diferente. – 2. [Filosofia]. Caráter diferente, metafisicamente.”|1|

A palavra alteridade advém do vocábulo latino alteritas, que significa ser o outro, portanto, designa o exercício de colocar-se no lugar do outro, de perceber o outro como uma pessoa singular e subjetiva.

A alteridade é o reconhecimento e o respeito das diferenças entre as pessoas.

A alteridade é o reconhecimento da diferença, tanto no significado linguístico comum  quanto no significado filosófico, pois a alteridade é o que é, por essência e definição, diferente. Segundo Nicola Abbagnano, lexicólogo que publicou um imenso dicionário de termos filosóficos, alteridade significa “ser outro, colocar-se ou constituir-se como outro”|2|.

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Alteridade na psicologia

O significado de alteridade para a psicologia não se encontra afastado dos significados filosófico e comum do termo, com a exceção de que os psicólogos serviram-se muito dos estudos antropológicos para incrementar um significado no termo que remete à cultura. O ato de enxergar o outro como um ser singular implica reconhecer que o outro é diferente de você. O reconhecimento da diferença individual é o primeiro passo para o exercício do respeito e da tolerância, pois se você quer que a sua individualidade seja respeitada, é necessário que, antes, você respeite a individualidade do outro.

Nesse sentido, é a alteridade que pode garantir a coesão social, por exemplo. Também é a alteridade e seu reconhecimento a chave para evitar o etnocentrismo, a exploração de outros povos e a escravidão. Pensando com a antropologia, alteridade é o meio pelo qual é possível enxergar nas outras culturas as suas especificidades, evitando o prejulgamento.

Alteridade e etnocentrismo

A antropologia originou-se como uma ciência fortemente etnocêntrica. Edward Burnett Tylor e Herbert Spencer, os primeiros antropólogos ingleses, propuseram uma teoria, que chamaram de classificação das raças, extremamente racista e etnocêntrica.

Para os pensadores, havia uma hierarquia das raças que se atestava pela cultura: quanto mais claras as pessoas, mais desenvolvida a cultura, ao passo que as sociedades formadas por pessoas de peles mais escuras tendiam a desenvolver culturas inferiores. Ora, essa visão racista e etnocêntrica, que vinculou o antigo conceito de raça à cultura, vai ao extremo oposto do que diz o significado de alteridade.

Franz Boas foi um importante nome para o estudo das sociedades e etnias periféricas, de acordo com o eurocentrismo.

Somente o geógrafo e antropólogo alemão, radicado nos Estados Unidos, Franz Boas  conseguiu enxergar a necessidade de desvincular “raça” de cultura. Para o pensador, entender uma sociedade significava entrar nela, aprender a sua língua, conviver com seus nativos e, sobretudo, deixar de lado os preconceitos e a visão da sua própria cultura. Caso contrário, o efeito esperado poderia ser o de olhar para a cultura diferente da sua como sendo inferior.

Outro importante antropólogo do século XX, o polonês Bronislaw Malinowski defendeu que a imersão na cultura deve ser total e completa e que o antropólogo deve passar muito tempo na sociedade em questão para de fato compreendê-la.

Esse exercício, enunciado pela primeira vez por Boas e colocado como método por Malinowski, foi bem descrito no livro Argonautas do Pacífico Sul. Interpretando a obra de Malinowski, podemos dizer que a alteridade é uma peça fundamental ao antropólogo, pois sem ela o estudioso cai na armadilha do etnocentrismo.

Veja mais: Cultura indígena – importante parte da cultura brasileira rejeitada pelo etnocentrismo

Alteridade e empatia

É comum o pensamento de que alteridade e empatia são sinônimos, porém são termos diferentes. Enquanto a empatia refere-se à capacidade de colocar-se no lugar do outro, sentir a dor do outro de maneira imaginária ou por analogia, a alteridade é a capacidade de reconhecer que o outro é daquele jeito porque ele é, essencialmente, diferente de você. Além do reconhecimento da diferença, a alteridade propõe um respeito ético ao outro como ser singular. É na alteridade que surge a tolerância.

Reconhecer a dor do outro e respeitá-lo é um duplo exercício de empatia e alteridade.

Exemplos de alteridade

Segundo o sociólogo polonês contemporâneo Zygmunt Bauman, o mundo está cada vez mais fragmentado. A tendência atual é a do individualismo, um estilo de vida que leva ao egoísmo. Nesse sentido, a alteridade encaixa-se em momentos de coletividade, dando lugar à tolerância. Vejamos alguns exemplos de alteridade:

Imagine que imigrantes e refugiados comecem a entrar em seu país, passando a habitar a sua cidade. Exercer a alteridade, nesse caso, é reconhecer que aquelas pessoas sofreram e que elas saíram de suas terras natais porque foram obrigadas ou porque queriam levar uma vida digna. Exercer a alteridade, nesse caso, é acolher e oferecer o apoio possível a elas.

Imagine que você seja praticante de uma religião cristã, de vertente católica. No mundo existem cristãos protestantes, cristãos espíritas, muçulmanos, hindus, candomblecistas etc. A alteridade reside, nesse exemplo, no fato de que você deve reconhecer a história e a individualidade de cada pessoa e respeitar a escolha religiosa dela sem prejulgá-la.

Notas

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