No Brasil, desde o fim do século XIX, a prática informal e recreativa do futebol, bem como a paixão por clubes oficiais e competições regionais, nacionais e internacionais, passou a fazer parte do cotidiano dos brasileiros, tanto nas classes mais baixas quanto na elite econômica do país. Para compreendermos melhor como começou o interesse pelo futebol no Brasil, é necessário remontarmos ao cenário educacional brasileiro da época do Segundo Império.
De acordo com o historiador José Moraes dos Santos Neto, autor do livro “Visão do Jogo – Primórdios do Futebol no Brasil”, o imperador Dom Pedro II procurou reverter a situação em grande parte precária do sistema educacional brasileiro, encarregando Rui Barbosa da elaboração de projetos de reforma das grades de disciplinas.
Entre os livros que Rui Barbosa escreveu, um versava sobre as novas práticas esportivas ao ar livre a serem inseridas nos colégios. Um dos colégios a assimilarem essas práticas foi o tradicional Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Mas o futebol seria introduzido (como um exemplo dessas práticas esportivas ao ar livre) no Brasil por meio dos jesuítas que administravam o Colégio São Luís (fundado em 1861), na cidade paulista de Itu. A adoção do futebol pelos jesuítas remonta a uma viagem que eles fizeram a centros educacionais europeus. Veja o que diz José Moraes dos Santos Neto:
Ao longo da década de 1880, os jesuítas, inspirados no modelo de Du Lac, foram implementando o futebol no colégio São Luís como prática esportiva curricular. O primeiro diretor a formalizar a introdução do futebol nesse colégio foi o jesuíta José Mantero, que havia trazido da Europa duas ballon anglais, isto é, bolas feitas de câmaras de ar e costuradas com couro, também conhecidas como bolas de capotão. O tipo de jogo que Mantero praticava com os alunos era o chamado “bate bolão”, que consistia em chutar as bolas nas paredes das quadras.
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O jogo de futebol propriamente dito, que era denominado pelos ingleses como association football, só foi implementado no colégio São Luís com o padre Luís Yabar, que se tornou o novo reitor. Esse padre era um notório conhecedor das regras de futebol, tal como praticado na Inglaterra. A partir do reitorado de Yabar, os jovens passaram a jogar futebol com os times organizados e vestidos com uniformes.
Dessa experiência do colégio São Luís e de outras instituições que também fizeram o mesmo, o futebol começou a ter lastro social. Um caso notório foi o de Charles Miller, que, segundo alguns autores defendem, teria sido o “pai do futebol” no Brasil ou, pelo menos, aquele que teria dado a essa prática esportiva a regulamentação que lhe faltava. Miller tornou-se um grande praticante do futebol no período em que esteve na Inglaterra. De lá, trouxe ele as habilidades futebolísticas que foram potencializadas aqui no Brasil.
Sobre essa questão da “paternidade” do futebol brasileiro e o destaque que Miller teve nisso, José Moraes dos Santos Neto assim se pronunciou:
Várias hipóteses podem explicar a origem do mito segundo o qual Miller seria, além de grande craque e divulgador pioneiro, o “pai” do futebol entre nós. A primeira diz respeito à inserção dos jogos entre clubes de elite nos jornais paulistas. Obviamente, enquanto foi uma atividade recreativa restrita a colégios, o futebol não mereceu qualquer atenção da imprensa. Além disso, deve-se ter em conta a força cultural desses grupos socialmente dominantes, contumazes inventores de tradições, bem como o fato de os primeiros arquivos sistematizados serem provenientes dos clubes e das ligas que os reuniam […]. [2]
NOTAS
[2] Idem, p. 32.