Governo Juscelino Kubitschek: objetivos, resumo

O governo Juscelino Kubitschek foi o período da história do Brasil que se estendeu de 31 de janeiro de 1956 a 31 de janeiro de 1961. Juscelino Kubitschek foi eleito em um momento conturbado da história brasileira, quando a ameaça de um golpe de Estado, capitaneada pelos militares, era constante.

No segundo dia do seu governo, JK divulgou seu Plano de Metas, composto por 30 metas que deveriam ser alcançadas durante os seus cinco anos de mandato. Essas metas buscavam desenvolver áreas que eram consideradas gargalos para a economia brasileira, como a geração de energia e sistema de transporte e portos.

Foi durante o governo JK que a industrialização se aprofundou no Brasil, principalmente com a chegada de multinacionais, muitas delas montadoras de veículos automotores. O desenvolvimento do período ocorreu com um misto de investimentos públicos e privados.

A construção de Brasília foi a trigésima primeira meta de Juscelino, considerada uma meta síntese das outras 30. Apesar da oposição da UDN e de diversas dificuldades, a nova capital foi inaugurada em 1960.

Leia também: Governo João Goulart — detalhes sobre o governo que sucedeu o governo Juscelino Kubitschek

Tópicos deste artigo

Resumo sobre o governo Juscelino Kubitschek

  • O governo Juscelino Kubitschek foi o período que se estendeu de 1956 a 1961 na história do Brasil.
  • Juscelino Kubitschek foi eleito com uma coligação de partidos de centro e de centro-esquerda.
  • Seus objetivos foram organizados em 30 metas e divulgados logo após tomar posse.
  • Durante o seu governo, Juscelino utilizou o slogan “50 anos em 5”, mostrando seu viés nacional-desenvolvimentista.
  • No governo JK a produção industrial cresceu cerca de 80%. Durante o período o Estado fez investimentos na construção de infraestrutura, e o setor privado, principalmente internacional, investiu na construção de indústrias no país.
  • Seu governo é marcado pelo aumento dos investimentos na construção e manutenção de rodovias e pela diminuição dos investimentos em ferrovias.
  • A construção de uma nova capital era discutida desde a Independência do Brasil e esteve presente em três Constituições. Foi durante o governo JK que Brasília foi construída.

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Contexto histórico do governo Juscelino Kubitschek

No início da década de 1950 o Brasil passou por uma grave crise política e econômica. Na economia o país sofria com a inflação e com o desemprego, e na política o país estava dividido entre os varguistas, aqueles que apoiavam o então presidente Getúlio Vargas, e forças conservadoras que eram contrárias ao presidente, lideradas pela União Democrática Nacional, a UDN. Vale lembrar que nesse momento o mundo vivia a Guerra Fria (1947-1991), e, nesse contexto, o medo de uma revolução comunista era um medo das elites econômicas e militares do Brasil.

Em 1954, após o governo Vargas conceder um reajuste de 100% no salário-mínimo, os militares publicaram um manifesto contra o governo, o que levou à demissão do ministro responsável pelo aumento, João Goulart.

A campanha eleitoral de 1955 foi marcada, novamente, pela divisão da sociedade brasileira. Juscelino Kubitschek foi candidato por uma coligação de partidos de centro-esquerda, sendo considerado um candidato varguista. A UDN lançou o militar Juarez Távora como seu candidato, e o Partido Social Progressista lançou Ademar de Barros. Na disputa presidencial, Juscelino Kubitschek obteve 35,68% dos votos; Juarez Távora, 30,27%; e Ademar de Barros, 25,77%.

Após a apuração dos votos, Café Filho se afastou do governo por questões médicas; Carlos Luz, presidente da Câmara dos Deputados, assumiu o cargo.

A UDN passou a contestar a legitimidade da vitória de JK, argumentando que ele não teria alcançado a maioria dos votos. Os militares passaram a contestar a apuração, e o presidente Carlos Luz se recusou a entregar o cargo para Juscelino Kubitschek. Em 11 de novembro de 1955 diversos generais do exército tentaram dar um golpe de Estado e impedir a posse de Juscelino.

Devido a isso, o general legalista Henrique Teixeira Lott deu o Golpe Preventivo, que reprimiu os quartéis rebelados e permitiu a posse do novo presidente. Durante o Golpe Preventivo o presidente Carlos Luz e outros membros do seu governo, entre eles Carlos Lacerda, fugiram da capital do país no Cruzador Tamandaré. Tiros dos quartéis do Rio de Janeiro foram disparados em direção ao cruzador.

Foi nesse clima de divisão, radicalismo e ameaça de golpe que Juscelino assumiu o poder em 31 de janeiro de 1956, tendo João Goulart, o ministro de Vargas dos 100% de aumento do salário-mínimo, como seu vice-presidente.

Objetivos do governo Juscelino Kubitschek

Os objetivos de governo Juscelino Kubitschek foram organizados em 30 metas e divulgados logo após tomar posse:

  • Metas 1 a 5 – Produção de energia: essas cinco metas buscavam aumentar a geração de energia por hidrelétricas, o estímulo à construção de usinas nucleares, o aumento da produção de carvão mineral, assim como o aumento da produção e da capacidade de refinamento de petróleo.
  • Metas 6 a 12 – Rede de transportes no país: essas sete metas se direcionavam às ferrovias, rodovias, portos, aeroportos e marinha mercante.
  • Metas 13 a 18 – Alimentação: essas seis metas se relacionavam com o fato de que a fome afligia milhões de brasileiros na década de 1950 e estimulavam o aumento da produção de trigo, de armazéns e silos, a mecanização da agricultura, a construção de frigoríficos, aumento da produção de fertilizantes e a construção de matadouros industriais.
  • Metas 19 a 29 – Indústria de base: essas 11 metas buscavam o aumento da produção de aço, alumínio, cimento, papel e celulose, borracha, da indústria automobilística, indústria naval e indústria de mecânica e elétrica pesada.
  • Meta 30 – Educação técnica: essa meta buscava formar mão de obra para a indústria.
  • Meta síntese – Construção de Brasília: essa meta integrava várias das metas do Plano de Metas, como a construção de ferrovias, rodovias, aeroportos, produção de aço, entre outras, por isso foi chamada por Juscelino Kubitschek de “meta síntese”.

Características do governo Juscelino Kubitschek

→ Economia no governo Juscelino Kubitschek

O governo JK adotou uma política nacional-desenvolvimentista na economia. Durante o governo Juscelino Kubitschek a economia brasileira cresceu, em média, mais de 7% ao ano. Nesse período a produção industrial cresceu quase 80%, muitos atribuem esse desenvolvimento ao Plano de Metas e aos investimentos externos que foram feitos no período.

O desenvolvimentismo de JK ignorou as principais recomendações do Fundo Monetário Internacional (FMI), como o controle da inflação e a redução do endividamento interno e externo. De fato, o governo de Juscelino Kubitschek rompeu com o FMI em 1959.

→ Infraestrutura no governo Juscelino Kubitschek

Durante o governo Juscelino Kubitschek, o principal feito na infraestrutura foi o transporte rodoviário. Na década de 1950 era popular a frase, “governar é construir estradas”. Com o estabelecimento das montadoras de automóveis no Brasil quase todo o investimento para transporte no governo foi para a construção de rodovias. Foi nesse período que os investimentos no transporte ferroviário foram reduzidos e os investimentos nas rodovias aumentaram.

No governo Juscelino Kubitschek (1956-1961), acentuou-se o processo de substituição do transporte ferroviário pelo rodoviário. [1]

Durante o governo JK foi fundada a Furnas Centrais Elétricas, responsável pela geração e distribuição de energia elétrica para todo o país. A primeira hidrelétrica de Furnas foi inaugurada em 1963. Atualmente Furnas administra 22 hidrelétricas, duas termoelétricas e uma usina eólica.

A Refinaria de Duque de Caxias, uma das maiores do mundo na época da sua construção, foi inaugurada em 1961. Ela passou a produzir gasolina, diesel, GLP, lubrificantes, querosene de avião, entre diversos outros produtos fundamentais para o desenvolvimento industrial e agrícola do país.

→ Construção de Brasília

A ideia da construção de uma capital no interior do Brasil era antiga, existia desde o século XIX. José Bonifácio de Andrade e Silva, o Patriarca da Independência, defendeu a construção da nova capital no Centro-Oeste. Na Constituição de 1891, a primeira republicana, também era prevista a construção de uma nova capital para o país.

A construção de Brasília era, para JK, a síntese do seu Plano de Metas, e o presidente não poupou recursos para a construção da nova cidade. Embora a UDN fosse contrária à construção da nova capital, o projeto foi aprovado no Congresso em 19 de setembro de 1956. Uma empresa estatal foi criada para a ser a responsável pela construção, a Novacap. Esta organizou um concurso para o projeto arquitetônico da nova cidade que foi vencido por Oscar Niemeyer e Lúcio Costa.

Para construir a nova capital o governo brasileiro recorreu aos nordestinos, que migraram em massa para a região em busca de emprego. Esses trabalhadores ganharam o apelido de candangos. Quando a obra estava quase finalizada os candangos tiveram que deixar Brasília, muito deles passaram a viver no entorno da capital, no que se tornariam as cidades-satélites.

Candangos que trabalhavam em construção de rodovia no entorno de Brasília retornando para o alojamento com animais caçados. [2]

Esses trabalhadores na maioria das vezes dormiam em alojamentos insalubres, recebiam péssima alimentação e trabalhavam em jornadas de trabalho extenuantes. Para controlar os trabalhadores foi criada a Guarda Especial de Brasília, a GEB, que muitas vezes praticou abusos contra eles. Em 8 de fevereiro de 1959, após alguns trabalhadores reclamarem de ter recebido comida estragada em um alojamento da Construtora Pacheco Fernandes, um tumulto se formou e dois membros da GEB foram até o local, sendo expulsos pelos trabalhadores. Soldados da GEB retornaram mais tarde ao alojamento e abriram fogo contra os trabalhadores, matando nove deles e ferindo mais de sessenta. Alguns relatos afirmam que o número de mortos e feridos foi muito maior. O fato ilustra as péssimas condições de trabalho às quais os trabalhadores foram submetidos, assim como a forte repressão a que estavam expostos.

Fotografia do Palácio do Congresso Nacional no ano de 1959, pouco tempo antes da inauguração de Brasília. [3]

As obras de construção de Brasília duraram aproximadamente mil dias, e a nova cidade foi inaugura por JK em 21 de abril de 1960, feriado de Tiradentes. Nesse momento os órgãos públicos, como o Senado, Câmara dos Deputados e Supremo Tribunal Federal, começaram a ser transferidos para a nova cidade. Em 1987 a Unesco registrou a cidade de Brasília como patrimônio cultural da humanidade. Para saber mais detalhes sobre a construção de Brasília, clique aqui.

Principais acontecimentos do governo Juscelino Kubitschek

Logo após assumir o poder Juscelino Kubitschek enfrentou uma rebelião militar em fevereiro de 1956, a Revolta de Jacareacanga, ocorrida no Pará. O movimento foi liderado por um major e um capitão da aeronáutica e, durante a rebelião, a cidade de Santarém foi tomada pelos militares. A revolta terminou quando tropas leais ao governo JK renderam os revoltosos e prenderam seus líderes. Parte da aeronáutica se recusou a reprimir os rebelados em uma clara afronta ao presidente eleito. Em 23 de novembro do mesmo ano ocorreu outro atrito com os militares, quando Juarez Távora foi preso por fazer manifestações políticas contra o governo.

Em conjunto com o presidente norte-americano Eisenhower, Juscelino Kubitschek criou em 1958 a Operação Panamericana, cujo principal objetivo era o de combater a pobreza na América Latina com o objetivo de resguardar a democracia no continente e afastar a região da influência do comunismo soviético.

Em dezembro de 1959 um levante militar ocorreu, com o objetivo de depor Juscelino Kubitschek. Durante a tentativa de golpe um avião civil foi sequestrado por um militar e levado até a base de Aragarças, o local onde estavam os demais golpistas. O movimento não ganhou apoio e foi contido um dia depois, os líderes do movimento fugiram do Brasil e só retornaram ao país no governo Jânio Quadros.

O maior acontecimento do governo JK foi a construção de Brasília e sua inauguração em 1960 como a nova capital do país, feito que repercutiu em todo o planeta por causa da beleza da nova cidade e pela rapidez na qual ela foi construída.

Pontos positivos e pontos negativos do governo Juscelino Kubitschek

Um ponto positivo do governo Juscelino Kubitschek foi a manutenção da democracia. Vale lembrar que desde o suicídio de Vargas um golpe de Estado ameaçava a democracia. Nesse sentido, em um de seus últimos discursos como presidente, JK destacou que a principal meta de seu governo foi a de conseguir manter a democracia no Brasil e que essa meta foi alcançada, ressaltando também que o golpismo rondou todo o seu mandato, que todos os atos contra a democracia foram combatidos e que eleições livres ocorreriam em breve. O mesmo não aconteceu, por exemplo, com o governo que o sucedeu, composto por Jânio Quadros e João Goulart. O primeiro renunciou ao cargo, e o segundo sofreu o golpe de Estado que implementou a Ditadura Civil-Militar no Brasil.

Outro ponto positivo do governo foi o desenvolvimento da indústria, que, em cinco anos, cresceu quase 80%. A industrialização gerou muitos postos de trabalho e aumentou a arrecadação de impostos.

O principal aspecto negativo do governo JK foi o endividamento interno e externo do Estado brasileiro. Esse endividamento diminuiu drasticamente os investimentos no Brasil no início da década de 1960, o que provocou grave crise econômica que desestabilizou os governos Jânio Quadros e João Goulart, um dos motivos do Golpe de 1964.

Fim do governo Juscelino Kubitschek

Em 1960 ocorreram as eleições que escolheriam o sucessor de Juscelino Kubitschek, fato de pôs fim ao governo Juscelino Kubitschek. A UDN lançou como candidato Jânio Quadros. Os partidos de centro-esquerda lançaram como candidato à presidência Henrique Teixeira Lott, o militar que garantiu a posse de Juscelino Kubitschek.

A UDN lançou Milton Campos como candidato a vice-presidente. Já a coligação de centro-esquerda lançou como candidato a vice João Goulart. Na época eram eleitos de forma separada presidente e vice-presidente.

Jânio Quadros foi eleito com pouco mais de 48% dos votos válidos para presidente. Já o vice-presidente eleito foi João Goulart, com cerca de 41% dos votos. Dessa forma foi eleito um presidente da UDN e um vice varguista, acusado pela UDN de ser comunista e simpatizante dos soviéticos.

Jânio Quadros assumiu o poder, mas apenas sete meses depois, por não ter apoio no Congresso, renunciou ao cargo. O ato abriu uma crise política que terminou apenas em março de 1964, quando ocorreu o golpe de Estado que implementou a Ditadura no Brasil.

Exercícios resolvidos sobre o governo Juscelino Kubitschek

(PUC)

“Brasília nascia, brotada de uma nave mágica, em meio do deserto, onde os índios não conheciam nem a existência da roda; estendiam-se estradas e criavam-se grandes represas; das fábricas de automóveis surgia um auto novo a cada dois minutos. A indústria acelerava-se a grande ritmo. Abriam-se as portas, de par a par, à inversão estrangeira, aplaudia-se a invasão de dólares, sentia-se vibrar o dinamismo do progresso.”

(GALEANO, Eduardo. As Veias Abertas da América Latina. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978, p.233).

O texto lembra a época do governo Kubitschek e o:

A) Plano Salte

B) I Plano Nacional de Desenvolvimento

C) Plano Trienal

D) Metas e Bases

E) Plano de Metas

Resolução:

Alternativa E.

O plano econômico de JK se baseou no seu Plano de Metas, composto por 30 metas relacionadas ao transporte, industrialização, alimentação, energia, educação e tendo a construção de Brasília como uma espécie de meta síntese.

Questão 2

(PUC) Durante o governo de Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956-1961), o setor socioeconômico caracterizou-se pelo desenvolvimentismo, expressado pelo Plano de Metas, que continha trinta e um objetivos estratégicos para o desenvolvimento do país.

Com base no exposto, examine as afirmativas abaixo.

I. A energia, a educação e a indústria básica foram três dos setores estratégicos do governo JK.

II. A agricultura de exportação foi o setor econômico de maior expansão durante os anos JK, permitindo acumulação de divisas estrangeiras.

III. O desenvolvimento industrial foi possível pela conjugação de investimentos estatais e privados, dentre os quais merece destaque a presença de capital estrangeiro.

IV. A construção da nova capital – Brasília – foi considerada a meta síntese, pois expressava, de um lado, os esforços de integração do território brasileiro e, de outro, a modernidade do momento vivido.

Estão corretas:

A) as afirmativas I e II e III.

B) Somente as afirmativas II e IV.

C) Somente as afirmativas I, III e IV.

D) Somente as afirmativas II, III e IV.

E) Todas as afirmativas.

Resolução:

Alternativa C.

Somente a alternativa II é incorreta. A agricultura comercial não foi a que teve maior expansão durante o governo JK, mas sim a indústria.

Créditos de imagem

[2]  Arquivo Nacional / Wikimedia Commons (reprodução)

[3]  Arquivo Nacional / Wikimedia Commons (reprodução)

Fontes

COHEN, Marleine. Juscelino Kubitschek: O presidente Bossa Nova. Editora Globo, Rio de Janeiro, 2005.

COUTO, Ronaldo Costa. Brasília Kubitschek de Oliveira. Editora Record, São Paulo, 2006.

WILLIAM, Wagner. O soldado absoluto: Uma biografia do general Henrique Lott. Editora Record, São Paulo, 2020.

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