O capitalismo é um sistema econômico baseado na propriedade privada, na acumulação de capital e na procura pelo lucro. A obtenção do lucro e a acumulação do capital dentro do capitalismo dão-se por meio da posse privada dos meios de produção, que pode manifestar-se pela posse da terra ou de grandes instalações que permitam a produção de certa mercadoria.
O capitalismo surgiu em um processo muito longo, que se iniciou na transição histórica para a Idade Moderna e no desenvolvimento do mercantilismo, entendido por muitos como a etapa inicial do capitalismo comercial. A consolidação desse sistema econômico ocorreu no século XIX, com o desenvolvimento da indústria por meio da Revolução Industrial.
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Origem do capitalismo
Trata-se de um processo que durou por vários séculos. Alguns historiadores consideram que o desenvolvimento do capitalismo iniciou-se de maneira embrionária e gradual com a desintegração do feudalismo, nos séculos XIV e XV, no período de transição da Idade Média para a Idade Moderna.
Embora, mesmo com o fim do feudalismo, a sociedade europeia tenha prosseguido como rural, e a economia, majoritariamente agrária e dependente do trabalho dos camponeses, novas formas de organização econômica e social deram início a transformações significativas. Esse momento embrionário do capital ficou conhecido na teoria marxista como “acumulação primitiva do capital”.
Essa acumulação foi, portanto, todo o período que se estendeu do desmonte do modo de produção feudal até a ascensão da indústria. Nisso, o surgimento de novas práticas econômicas e sociais levou ao desenvolvimento de práticas econômicas mercantis e ao aparecimento de um novo grupo social — os burgueses.
A sua estabilização e a sua acumulação de capital durante séculos permitiram a esse grupo investir no capitalismo industrial — fase considerada como a solidificação, de fato, do capitalismo enquanto sistema econômico. Isso levou a profundas transformações também no campo político e social. A fase da acumulação primitiva do capital, chamada por muitos de capitalismo comercial, teve fim com o início da Revolução Industrial, no final do século XVIII.
Veja mais: Imperialismo – uma prática desenvolvida com a consolidação do capitalismo
Primeiramente podemos considerar que, na Inglaterra, houve uma prosperidade considerável da classe mercantil, fazendo com que a acumulação de capital ali fosse acentuada. Outro fator importante foi que o desenvolvimento mercantil inglês, aliado ao desenvolvimento do país como potência colonial, garantiu o aprimoramento da manufatura, etapa embrionária da indústria.
A consolidação do trabalho assalariado ali criou, ainda que precariamente, um corpo de pessoas com condições para absorver mercadorias produzidas dentro de um processo industrial. A grande quantidade de mão de obra foi outro fator relevante, sendo que essa disponibilidade deu-se pelo aumento na produção agrícola, que garantiu um crescimento populacional.
Grande parte dessa população vivia nas terras comuns, de uso comum na Inglaterra, que reproduziam, em parte, algumas características do feudalismo, mas que davam certa liberdade aos camponeses, uma vez que eles não ficavam atados a um sistema de servidão. A tomada dessas terras dos camponeses, por meio dos cercamentos, fez com que uma multidão tivesse que abandonar o campo e, como única forma de sobrevivência, vendesse sua força de trabalho.
A disponibilidade de trabalhadores garantia, assim, a mão de obra barata para que as indústrias pudessem crescer. A permanência de uma grande quantidade de pessoas desempregadas era outro mecanismo fundamental dentro desse processo, pois a existência desse grupo tinha como função pressionar o valor dos salários para baixo. Assim, o dono do capital conseguia maximar o seu lucro.
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Com a Revolução Industrial, as máquinas ganharam importância fundamental, uma vez que garantiram o aumento da produção. Além disso, as transformações nas relações sociais foram visíveis, pois se estabeleceu uma polarização entre burgueses e proletários (trabalhadores despossuídos). Estes acabaram subordinando-se àqueles, uma vez que necessitavam do emprego para sobreviver e não detinham nenhum meio de produção.
Como mencionado, a indústria inglesa desenvolveu-se com o financiamento dos burgueses enriquecidos com o capitalismo comercial. A primeira modalidade que apareceu com a Revolução Industrial foi a indústria têxtil. A produção dela se dava por máquinas com capacidade de tecer vários fios de uma só vez.
Assim, à medida que essa área prosperou, outras atividades começaram a surgir na Inglaterra. Houve também desenvolvimento considerável nos deslocamentos a partir do surgimento das estradas de ferro. Outras modalidades industriais nasceram para atender as demandas dessa área.
Do final do século XVIII até o final da década de 1840, houve certo crescimento. Entretanto, o historiador Eric Hobsbawm considera que a década de 1850 é que garantiu a presença do capitalismo, uma vez que ela vivenciou um significativo salto na produção industrial. Hobsbawm também fala que foi quando o capitalismo deixou de ser um sistema recluso ao contexto inglês e expandiu-se internacionalmente|1|.
Essa expansão é expressa pelos números trazidos pelo historiador|2|:
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A produção de produtos de algodão entre 1850 e 1860 foi de 1.300 milhões de jardas, enquanto que, de 1820 a 1850, a mesma produção foi de 1.100 milhões de jardas, isto é, a produção da década de 1850 foi superior a tudo que tinha sido produzido nas três décadas anteriores.
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O número de máquinas de algodão cresceu em 200 mil na década de 1850.
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A Bélgica dobrou sua produção de ferro entre 1851 e 1857.
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Entre 1851 e 1857, surgiram 115 companhias de ações na Prússia. Até essa década, existiam 67 companhias do tipo na região.
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O comércio mundial aumentou 260% no período de 1850 a 1870.
Outro indício, demonstrado por Hobsbawm, que aponta a consolidação e internacionalização do capitalismo no continente europeu, foi a adoção, em grande medida, da economia de livre mercado, que deu forte incentivo à expansão da indústria.
Além disso, algumas legislações que remontavam ao período feudal e mercantilista, como a que garantia a existência das guildas (corporações que aglomeravam e disponham trabalhadores manufatureiros), tiveram fim, e leis contra a usura (acumulação de dinheiro/capital) foram revogadas|3|.
Saiba mais: Principais acontecimentos relativos à Segunda Revolução Industrial
Características do capitalismo
Entre as principais características do capitalismo, estão:
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Defesa da propriedade privada: o sistema capitalista preconiza que o Estado deve garantir o direito de propriedade privada a todos. O desenvolvimento do capitalismo só acontece quando os detentores do meio de produção têm a garantia da posse privada, sendo assim, eles somente são detentores dos meios de produção porque possuem a garantia da posse de suas propriedades e de outros bens que estão inseridos nela.
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Procura pelo lucro: o capitalismo é um sistema que prima pela garantia do lucro. Sendo assim, o objetivo de todo aquele que detém o capital e os meios de produção é obter a maior quantidade de lucro possível por meio de sua atividade econômica.
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Trabalho assalariado: se o detentor dos meios de produção busca o lucro dentro do capitalismo, ele só vai obtê-lo se conseguir explorar a mão de obra daqueles que não possuem nada além da sua força de trabalho. Sendo assim, os que nada detêm venderão sua própria força para receber uma compensação financeira que os permita sobreviverem. É por meio desse trabalho assalariado que os trabalhadores terão condições de consumir as mercadorias produzidas pelo capitalismo.
Críticas ao capitalismo
O capitalismo é o sistema econômico majoritário no mundo atual. Ainda assim, ele recebe algumas críticas, sobretudo por dois aspectos: a existência de crises que afetam a economia de tempos em tempos e o quadro de desigualdade social que ele ajudou a concretizar.
Críticas recentes têm demonstrado que a desigualdade social dentro do capitalismo está fora de controle e é considerada uma das grandes ameaças ao progresso social. Um estudo de 2019 demonstrou que 2153 bilionários possuem uma riqueza que corresponde ao que 60% da população do planeta possuem|4|.
O Brasil não é exceção a esse quadro, uma vez que é o sétimo país mais desigual do mundo. Ele fica atrás apenas de seis nações africanas: África do Sul, Namíbia, Zâmbia, República Centro-Africana, Lesoto e Moçambique. Além disso, a concentração de renda aqui é a segunda pior do mundo, ficando atrás somente da de Catar. No Brasil, 1% da população concentra cerca de 28,3% de toda a riqueza do país. Caso queira saber mais desse mal que assola todo o planeta, leia nosso texto: Desigualdade social.
A evolução econômica no capitalismo ficou marcada historicamente por ciclos de recessão econômica que geraram incertezas e levaram muitas pessoas ao desemprego e, em casos mais extremos, a perderem tudo o que possuíam.
Na teoria marxista, entende-se que a crise é algo imanente do capitalismo e que períodos de grande prosperidade, obrigatoriamente, serão sucedidos por períodos de retração econômica. Na história, a grande crise econômica foi a que aconteceu em 1929 e ficou conhecida como Grande Depressão. A crise econômica mais recente que atingiu o mundo foi a de 2008.
Notas
|1| HOBSBAWM, Eric. A era do capital: 1848-1875. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014. p. 60-61.
|2| Todas essas estatísticas foram retiradas de: HOBSBAWM, Eric. A era do capital: 1848-1875. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014. p. 61-67.
|3| Idem, p. 69-70.
|4| Desigualdade global está fora de controle, diz estudo. Para acessar, clique aqui.
Créditos da imagem